Há
coisas que não são fáceis de explicar. De entre elas é a de ser adepto de um
clube desportivo… onde o futebol tenha a sua maior expressão. Isso mesmo se
pode ver por estes dias, tanto nas palavras como nos atos das pessoas, seja dos
intervenientes diretos (dirigentes, jogadores ou treinadores) ou dos adeptos…
mesmo dos mas conhecidos até aos mais anónimos.
De
facto, o futebol – o jogado ou o falado – tem vindo a entrar na área da paixão,
deixando de ser entendido, sentido e vivido com a inteligência, onde a
racionalidade deixa um pouco a desejar, tanto na forma como no conteúdo.
A
emotividade foi, assim criando e nalguns casos crispando, uma atmosfera onde
muito daquilo que se diz poderá levar as pessoas a não serem totalmente responsabilizadas
pelo que falam e fazem.
Quantas
vezes é, nestas ocasiões, que podemos saber, verdadeira e sinceramente, quem
são as pessoas, nós ou os outros… Quantos egos se elevam em maré de vitória e
outros se assumem com humildade colocando o acento no conjunto de todos – o
‘coletivo’, como agora se diz… Quantos sinais de orgulho – que se agravam muito
mais quando a educação humana e cívica deixa um tanto desejar – emergem em
situações de vitória ou no rescaldo das derrotas… Quantas ofensas e agravos
surgem, só porque não ganhou quem se gostaria ou se goraram as expetativas em
razão dos investimentos económicos ou de outros interesses… em jogo, sobretudo
fora do campo da disputa.
= Agora
que acabou o campeonato principal de futebol, em Portugal, podemos referir
certos episódios que, por serem algo significativos, nos deveriam levar a
refletir… muito para além do que a paixão é capaz de interpretar.
. Quem
ganhou: foi quem chegou em primeiro ou quem melhor jogou? A ver pelas festas, o
segundo – que perdeu em todas as competições (dentro e fora do país) em que
teve intervenção – fez o seu papel ou alguém usou de manipulação?
. Tal
como noutros campeonatos, houve quem descesse e quem subisse, à mistura com
outros que se salvaram nos últimos momentos…Um destes até sentiu a obrigação de
cumprir a promessa de ir a Fátima a pé, como agradecimento. Que tem a fé a ver
com o futebol? É só para os momentos de aflição ou deveria também aparecer nas
horas de conquista?
. Mais
uma vez há negócios de compra e de venda de jogadores – alguns rendem fortunas,
apesar de serem novos em idade – daqui para fora e de fora para cá. Não nos faz
impressão esta vendagem de pessoas, como se fossem escravos? Agora que se vai
ganhando mais sensibilidade aos ‘direitos dos animais’, não estaremos a ser
tolerantes com os ‘artistas da bola’, embora mais pareçam coisas e objetos
descartáveis?
. A
indústria do futebol faz correr muito dinheiro antes e depois do campo de jogo.
Até quando se vai ignorar o submundo em que tantos interesses se desenvolvem?
Já terão sido limpas as teias do poder – local e autárquico, económico e social
– das artimanhas com que nos têm distraído ou mesmo intoxicado?
. Somos
um país a precisar de estudo, pois temos três jornais diários, que vendem
coisas sobre o negócio do desporto e do futebol em particular, acrescentando
ainda os canais televisivos e as respetivas tabelas de ligação específica, para
além dos outros quem fazem notícia com os comentários e as intrigas… Até onde
irá esta intoxicação informativa e (dita) noticiosa? A quem interessa dar
continuidade ao entretenimento? O poder político não ganha com estas
distrações?
= ‘The
show mast go on!’ (o espetáculo tem de continuar) e em breve viveremos a
competição europeia de seleções, os jogos olímpicos, as corridas de automóveis
(em pista ou na estrada), as deambulações do ténis, as corridas de cavalos, as
apostas e tantos outros adereços dum mundo onde o dinheiro é mais importante do
que o desporto e em que os interesses pessoais como que se sobrepõem ao bem
comum…
Neste
circo da vida, vamos vivendo mais de ‘pão e jogos’ do que os romanos em final
de civilização. Também este sistema de vida terá um termo… Importa está
preparado para a nova etapa que virá!
António
Sílvio Couto
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