‘O
Sínodo reforçará a centralidade ativa da família na comunidade cristã’. É assim
que entende, D. Manuel Clemente aquilo que será feito no Sínodo dos Bispos em
Roma, que decorrerá até 25 deste mês.
De facto, o que mais impressiona nos nossos dias é a vulgaridade com que se tratam temas tão fundamentais da dimensão humana e cultural, como é a família e imensos outros assuntos que estão presentes nesta abordagem à realidade familiar.
= Antes
de tudo há os mais diversos ataques egoístas à família: cada um tenta valer
pelo que é, sem atender àqueles com quem vive. O mito da ‘felicidade’
conquistou o primeiro lugar em cada membro da família. Esta, por vezes, vale
pelo que me dá e não tanto pelo que eu dou e partilho. Será que cada elemento
da família – marido/esposa, pais/filhos, irmãos/avós – cuida em que os outros
sejam mais importantes do que o próprio? Até que ponto as circunstâncias de um
ajudam e são ajudadas pelas dos outros? Como é o tempo e a qualidade de
presença à família?
= Ouvi
há dias que ‘a escuta é mais difícil que a fala’. Ora, na família, será que
todos se escutam? Quem manda em casa não será, por vezes, o barulho da
televisão ou a distração do computador ou mesmo a ocupação do sempre contatável
telemóvel?
Quantas
vezes vemos um grupo de pessoas – que se presume sejam da mesma família – à
mesa, mas onde cada qual está no seu mundo, feito de virtualidade e não de
diálogo! Quantas vezes a forma algo irritadiça como se falam nos faz perceber
que a conversa não une, mas poderá ser facilmente alterosa e alterada! Quantas
vezes na conjuntura da vida as pessoas do mesmo sangue se sentem menos
afeiçoadas do que os do círculo de convívio e (pretensa) amizade!
= O tema
sempre fundamental da vida pode e deve ocupar um espaço central em cada
família. Com efeito, a abertura ao ‘dom dos filhos’ tem vindo a ser um dos
desafios mais urgentes da nossa época. Pelas mais diferentes razões a opção
pelo nascimento de um filho vai sendo adiada até ao limite da capacidade de
fecundidade… tornando-se, nalguns casos, algo que será preocupante em razão das
consequências de ser mãe ou pai mais tarde. Por vezes, este acontecimento da
maternidade/paternidade condiciona a vida presente e atrapalha as aspirações
para com o futuro. Parece que o filho/a é uma espécie de ‘objeto’ que traz
incómodos em vez de satisfação e alegria. Em certas leituras do que vamos vendo
nota-se mais uma atenção aos progenitores do que aos descendentes…
= Numa
leitura mais habitual diríamos que todos fazemos parte de uma família onde
aprendemos a ser o que somos, enraizados num espaço e num tempo… respondendo à
pergunta: de onde é natural?...numa tentativa de identificação com as origens e
suas implicações.
Ora, com
a mobilidade hodierna poderemos, por vezes, vivenciar algo que nos pode exigir
uma contínua aferição a novos espaços e diferentes formas de estar. Hoje já é
difícil encontrar alguém que tenha nascido, crescido e morrido sempre no mesmo
lugar. Neste sentido também a família está exposta às múltiplas influências…mais
ou menos enriquecedoras e desafiadoras para todos. A grandeza duma família
estará, assim, colocada na capacidade de integrar novos elementos culturais e
sociais… sem se deixar baralhar pela novidade.
= Apesar
dos mais atrozes ataques à família de índole cristã, temos de saber
salvaguardá-la com espírito de ousadia, pois será quando a família cristã
estiver saudável que poderemos ter uma Igreja mais centrada no essencial, que é
Jesus Cristo e a sua mensagem do Evangelho. Precisamos de viver uma reconfiguração
comunitária da vida eclesial e os alicerces estão na família…Tudo o resto serão
distrações e fait-divers ocasionais ou intencionais!
António
Sílvio Couto
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