Por estes dias ouvi uma
avaliação-resumo da situação político-social: o que é preciso é humildade e bom
senso…por forma a tentarmos que sejam resolvidos os problemas atuais e futuros.
No entanto, este desejo
de que haja humidade e bom senso pode estender-se a muitos outros campos de
ação e variados temas da nossa participação humana.
= Antes de tudo
‘humildade’ é uma virtude não de fracos, mas de fortes, pois, só quem não tem
nada a temer se considera capaz de viver ao ritmo da normalidade de cada dia.
Com efeito, os orgulhosos e ambiciosos têm muito a esconder, pois precisam de
simular quem são para poderem enganar os demais. Quem vive na humildade pode
andar de cabeça levantada, na medida em que sabe quem é e como se deve conduzir
na vida. Por seu turno, os vaidosos precisam de esconder-se sob a capa daquilo
com que pretendem aliciar os outros e disfarçar o que valem até que se descubra
a falta de valor ou de valores…
= ‘Bom senso’ é outra das
caraterísticas apontadas para que se possam resolver muitos dos problemas do
nosso dia-a-dia. De facto, o bom senso não se vende na farmácia nem está em
saldos em qualquer superfície comercial. Dir-se-á que o bom senso ou se tem ou
não se inventa. Bom senso é outra virtude do equilíbrio no nosso trato humano,
seja qual a instância em que nos possamos colocar. Com efeito, bom senso poderá
entender-se pelo contraste com ‘sem senso’ ou ‘mau senso’, isto é, quando
alguém trata e vive sem capacidade de assumir o que diz e aquilo que faz com
todas as consequências dos seus atos. Esta atitude de vida é muito mais do que
o resultado da instrução, mas antes é recebida da sabedoria da vida, em cuja
escola aprendem aqueles que procuram ser sensatos e adultos…a sério.
= Verdade, a quanto obrigas!
Poderia ser deste modo
que a humildade e o bom senso se poderão traduzir em conduta de comportamento.
A ética/moral precisa de pessoas que vivam e sirvam sempre e só a verdade e a
humildade é uma forma simples de traduzir o que nos fará viver em responsabilidade
onde quer que nos encontremos. Quem se deixa guiar pela humildade não enfatiza
só aquilo que faz e o que pensa, mas estará em permanente discernimento para
com os outros, não para os julgar, mas para com eles aprender, dando-lhes razão
quando a têm e olhando-nos olhos-nos-olhos podermos todos construir algo mais
do que a banalidade e o oportunismo…
- Depois dum tempo de
acentuação das diferenças, na campanha eleitoral mais recente, temos de
construir pontes, onde cada um aprenda com os seus erros e não se afinque nos
seus pontos de vista, mesmo que, segundo julga, possam ser (pretensamente) os
melhores. Com efeito, não podemos fazer crer que quem perde ganha na
secretaria, pois isso poderia ser um golpe de regime à revelia dos votos
expressos. Quem ganha tem legitimidade, mas quem perde não pode só coligar-se
negativamente para (tentar) fazer o que não merece…
- Noutros campos de ação,
como o do Sínodo dos Bispos a decorrer em Roma, temos também de ver e pôr em
caminhada a vivência da humildade e do bom senso. De facto, a família não é
pode parecer um espaço de leilão de interesses ou, como disse o Papa, não
podemos tentar fazer do ‘sínodo dos bispos um parlamento que negoceia
decisões’…Com efeito, em certas questões relacionadas com a família falta um
razoável bom senso e muita humildade…Todos estamos a aprender e pouco temos a
ensinar. Será quando fizermos um caminho comum que descobriremos muito mais
aquilo que, de verdade, nos une do que daquilo que pretensamente nos separa.
Se todos nós cultivássemos mais a humildade e o bom senso poderíamos ir construindo uma sociedade mais harmoniosa e civilizada. Se todos soubéssemos viver em humildade e bom senso haveria mais paz e serenidade. Se todos, afinal, nos sentíssemos mais necessitados de humildade, seríamos melhores sinais de bom senso.
António Sílvio Couto
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