Por
estes ouvia-se na publicidade esta frase: ’deixa de ser Inácio’… e relatava-se
uma situação em que alguém – será o tal ‘Inácio’ – que não conseguia ver um
desafio de futebol porque os meios que estaria a usar seriam fraudulentos… em
vez dum canal televisivo (pago) em que passava o dito jogo…
Nota-se
que o assunto tem contornos clubísticos um tanto complexos e mesmo a exigir
alguma racionalidade, o que nem sempre é fácil quando há paixões à mistura com
coisas do futebol… dentro e fora do campo.
= O que
parece, neste momento, ser transversal na sociedade portuguesa envolve quase
situações de fraude, desde a dimensão político/partidária até ao enviesado com
que estão a ser tratados certos problemas.
- Veja-se
o clima de crispação que temos vivido, politicamente, desde as eleições de 4 de
outubro. Parece que, de dia para dia, vai subindo a suspeita de que os atores
políticos deixaram de falar a mesma linguagem, usando mais as suas grelhas
ideológicas cada vez mais acirradas, quando o que era preciso era o diálogo.
- Vemos
pessoas a quererem chegar depressa ao poder, quando não venceram nas urnas.
Reclamam que os votos são todos iguais, mas, quando são os do seu lado da
barricada, são mais iguais e valiosos que os que foram dados aos adversários.
- Acena-se
com acordos entre forças, anteriormente, inimigas, mas ninguém viu até agora
nada escrito… Dizem que é para não dar trunfos aos do outro lado, mas não se
sabe o que nos espera, mesmo que estejamos apreensivos sobre o nosso futuro
coletivo, dentro ou fora da União Europeia.
- Perante
tantos episódios – nem sempre claros e tão pouco visto à luz do dia – tem-se a
sensação de que, a muito curto prazo, teremos um novo resgate solicitado às
forças que nos emprestaram, recentemente, dinheiro, pois quem não cumpre as
suas obrigações mais tarde ou mais cedo vai entrar em incumprimento…
- Deste
modo poderemos ter a sensação de que os sacrifícios pedidos aos portugueses
serão deitados fora… e muito em breve voltaremos a ter de iniciar a caminhada
do ‘mito Sísifo’ – a de carregar uma pedra até ao alto de um monte e chegados
ao topo escorregamos (ou somos empurrados) para começar nova subida – do nosso
coletivo nacional…
= Temos
de ser capazes de ultrapassar este complexo nacional de fado com que nos vamos
entretendo a chorar com saudade o tempo em que gostaríamos de ser todos ricos
sem trabalhar e de gozarmos a vida sem fazer a nossa parte.
- Já é
tempo de deitar fora os mesmos atores da vida política, pois sempre que entram
não conseguem fazer outra coisa que aquilo que já estava no guião do filme
anterior… e o final foi amargo, como agora voltará a ser irremediavelmente.
Parece que não aprendemos as lições do passado e continuamos a fazer os mesmos
erros e a tratar as coisas de forma superficial e (quase) a brincar.
- Temos
de deixar de ser inácios da aldrabice e de julgarmos que a nossa esperteza há-de
suplantar as distrações dos outros. Com efeito, precisamos de cultivar mais a
inteligência, pois se continuarmos a adular os espertos – no poder ou com
aspirações a ele – com facilidade seremos ludibriados mais depressa do que
pensamos.
- Os
tempos não estão para brincadeiras e, ou nos unimos segundo os valores éticos
mais elementares, ou seremos tornados servos de ideologias que noutras paragens
e noutras épocas já vimos os seus resultados. O posicionamento político sobre
os contestatários ao regime de Angola, nos últimos tempos, é revelador dos
interesses de certos setores da nossa vida social… Afinal, não são idênticos os
valores que alimentam lá o poder e que por cá pretendem aceder ao posto de
comando, surgindo na defesa dos contestatários?
- Há
figuras que, de facto, não mudam. Podem hibernar ou acomodar-se, mas, quando as
circunstâncias parecem ser favoráveis, logo ressurgem como se o filme tivesse
estado parado ou o tempo não tenha passado por todos… Assim não vamos lá!
- Urge
fazer com que em cada português se modifique desse que era denominado de
‘chico-espertismo’ – agora poderá ter outro nome, inácio ou qualquer outro –
com que temos andado a enganar-nos… Já não pegam as artimanhas de antanho!
António
Sílvio Couto
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