Há tempos ouvi esta
frase: ‘ o senhor é capaz de falar (prometer) quase tudo e o seu contrário’!
Temos, entretanto,
assistido a episódios de pessoas – no mundo desportivo e não só – que, num curto
prazo se passaram para o campo do rival, que antes combatiam, colocando-se
(creio eu), nalguns casos, perante situações de difícil gestão…
Não pretendemos fazer
qualquer juízo de valor sobre essa atitude de passar-se para o rival, mas antes
tentar interpretar a repercussão que isso tem em quem muda e quais os efeitos
nas duas partes que foram trocadas. Com efeito, quantas vezes se terá de
engolir – com que dificuldade e mesmo com que humilhação – o que antes foi dito
e agora terá que ser desdito. Quantas vezes – sobretudo em épocas de maior
tensão – foram tornadas públicas declarações que agora precisam de ser
contextualizadas, tanto antes como agora. Quantos momentos podem ter explicação
para a mudança, mas que, visto à luz do antes, o agora como que faz corar de
vergonha os vários intérpretes… Dir-se-á que os proveitos (económicos ou de
promoção) atuais como que enjeitam as consequências de mudar de posição.
= Oportunidade ou oportunismo?
De facto, certas mudanças
como que nos fazem questionar sobre as razões mais profundas, pois, se umas são
de aproveitar a oportunidade, outras como que colocam a manifesto algum
oportunismo. Quando se passa para o rival há como que uma denúncia do campo do
adversário, podendo com o conhecimento de onde vem ser mais benéfico para com
quem o recebe. Certos conhecimentos, que transporta quem muda, como que se
tornam em armas de conquista para quem recebe. Ora isso fará, da parte do
trocado, com que tenha de ser feita uma aferição de novos recursos, por forma a
que não seja vilipendiado o seu projeto e a sua ação…
Há imensos campos onde
tudo isto poderá ser concretizado e muito poucos estarão livres de serem
vulneráveis, tanto na forma como no conteúdo…
= Fazer o seu melhor…
Perante estas
considerações veio-me à lembrança a estória do empregado que se reformou… e por
ser considerado bom trabalhador o patrão quis ter para com ele um gesto de
gratidão.
Era um encarregado de
construção civil em quem o patrão tinha grande confiança. Um dia, apresentou-se
com o desejo de se reformar em breve. Então, o patrão deu-lhe, por última
tarefa, a construção de uma vivenda, entregando-lhe um montante de dinheiro que
poderia usar à sua vontade. Sabendo que a construção da moradia tinha um
determinado custo – dada a sua experiência no ramo – logo fez as contas e,
podendo ganhar algum em seu proveito, colocou materiais de menos boa qualidade
e com isso ganharia na gestão… Decorrido o tempo necessário para a construção,
o encarregado que se ia reformar, entregou a obra feita ao patrão. Este num
gesto de simpatia, deu-lhe as chaves da moradia como recompensa pelo trabalho
realizado…Mas aquela obra era de má qualidade, pois o encarregado tinha usado
materiais de segunda e de terceira… Era a sua recompensa!
Com efeito, há muitas
pessoas que podiam e deviam render mais nas tarefas em que estão colocadas. Há
pessoas para quem a preguiça se tem vindo a tornar-se a norma de conduta. Há
situações em que podemos ver que nem sempre se põem a render as qualidades e os
dons, antes se ficam pelo menor denominador comum, numa apatia contagiante e
doentia…manifesta.
Parece que vivemos numa
época em que os medíocres ascendem aos lugares de comando e logo colocam à sua
volta outros que os adulam para serem também eles promovidos. Deste modo vemos
crescer uma certa tortulhocracia – certamente se sabe onde nascem, crescem e se
alimentam os tortulhos! – que nivela pelos pés os objetivos e faz com que à sua
volta se manifeste pouco mais do que a banalidade. Não será assim que
cresceremos em qualidade humana e cultural, psicológica e espiritual.
Urge saber, de verdade,
quem somos e o que andamos a fazer, pois o tempo é curto e as oportunidades de
fazer o bem em favor dos outros não escasseiam.
António Sílvio Couto
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