Cada vez
que passava sob a janela, lá estava a senhora, a quem não via mais do que a
cabeça, que perguntava: ‘Então, como vai isso’’… Respondendo-lhe quase
invariavelmente: ‘vamos andando’… e seguia o caminho.
Recordando
esta breve frase – sem ter ainda percebido o seu alcance – como que gostava de,
através dela, deixar breves inquietações deste tempo e sobre este tempo que por
agora vamos vivendo.
- Quando
ouvimos certos políticos reclamarem da necessidade em criar empregos, perguntamos:
então, como vai isso em matéria de fazerem surgir empregos? Já vimos algum
partido ou sindicato a criar empregos ou terá sido antes a destrui-los?
- Quando
vemos certos mentores da contestação a aparecerem como defensores dos mais
desfavorecidos, perguntamos: então, como vai isso nas circunstâncias de
empenhamento para que os pobres diminuam? Que seria do discurso duns tantos se
lhes retirassem a fatia dos que passam mal, teriam conversa e programa?
- Quando
assistimos à contestação de matérias no âmbito da UE, por certas forças
partidárias, perguntamos: então, como vai isso de coerência, se depois se
candidatam e usufruem dos benefícios que combatem? Chegamos, nos tempos mais
recentes, a um caso em que, quem ganhou lá para fora, fez campanha por cá por
outra força ideológica… Verdade a quanto obrigarias…a quem tenha vergonha e bom
senso!
- Quando
assistimos a certas manifestações de crença – sobretudo usufruindo desse
anonimato de Fátima e afins – como que ousamos perguntar: então, como vai isso
em matéria de compromisso de fé e no concreto da vida? Que é mais importante
colaborar ou comprometer-se? Ao longe consegue-se disfarçar melhor?
- Quando
passamos a perceber um tanto melhor que certas fés cuidam mais promoção dos
seus fiéis do que lhes tentam dar razões de crescimento na humildade,
perguntamos: então, como vai isso de ser cristão, é só quando convém ou certos
assuntos não são (ou não podem) tratados na evangelização? Atendendo às
questões da família, estas só interessam quando convêm?
- Quando
parece vir a crescer um certo cristianismo egoísta, isto é, onde a minha crença
se sobrepõe à vivência comunitária com outros, perguntamos: então, como vai
isso de ser cristão, se os outros podem aparecer como adversários e não como
irmãos? Que comunhão temos e vivemos, se, preferencialmente, recebemos ou, se
damos, aquilo que nos sobra?
=
Perante estas duas séries de questões – umas mais de âmbito político e outras
de natureza eclesial – e tendo aquela pergunta – ‘então, como vai isso?’ – por
inquietação, propomos algumas sugestões:
. Os
políticos não podem dizer e fazer (quase) tudo e o seu contrário, ficando
impunes e como se fossem imunes àquilo que possa estar em desconformidade com a
prática mais simples e razoável. O uso da palavra não deverá ser uma forma de
engano, desacreditando quem fala e colocando suspeitas em quem escuta… E nem
odor a poder será desculpa para que se possa ser ilógico e inconsequente na
forma e no conteúdo. O pior que nos podia acontecer era a sensação de termos
políticos mentirosos e mais do que isso oportunistas e maquiavélicos.
. Como
conciliar um certo cristianismo de consolação com a capacidade de compromisso e
de caminhada contínua na fé e na comunidade? Até agora temos sentido que muito
vêm no Papa Francisco uma espécie de mentor da primeira faceta, como irão
reagir quando dele percebermos que é mais da segunda perspetiva?
O ano
jubilar da Misericórdia pode e deve ser uma oportunidade para sairmos do nosso
casulo de conveniência e fazermos a visualização do rosto de Jesus Cristo
misericordioso e compassivo. Temos muito a aprender e o mundo espera de nós,
cristãos/católicos, mais do que boas intenções e cerimónias de passa-culpas: se
não vivermos a misericórdia na Igreja como poderemos apresentá-la aos outros!
Em
resumo: ‘então, como vai isso’ em matéria de coerência e de bom senso? Sem
verdade não conseguimos viver na lealdade de todos e de uns para com os outros…
António
Sílvio Couto
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