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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Todos os Santos e Fiéis Defuntos...desafios


A Igreja católica celebra, no dia 1 de novembro, numa só solenidade Todos os Santos, desde os mais conhecidos até aos anónimos...ou sobretudo estes.
A origem desta celebração, faz-nos recuar aos primeiros séculos do cristianismo e à dificuldade em celebrar a multidão de mártires que foram vítimas das perseguições.
Posteriormente podemos reporta-nos ao século VIII com a tentativa de cristianizar o ‘dia das bruxas’, vivido pelos celtas no dia 31 de outubro...e como dia de celebração do ‘deus da morte’...à volta de alguma fogueira em início do tempo do frio.
A vivência religiosa de Todos os Santos coloca-nos perante a proposta cristã de, numa única solenidade, sentirmos, agradecermos e nos deixarmos acompanhar por tantos santos e santas, que junto de Deus O glorificam e louvam eternamente...enquanto nós vivemos na condição terrena de configurados à santidade...mesmo que pecadora, aqui e agora!
No dia seguinte à solenidade de Todos os Santos, dia 2 de novembro, a Igreja católica sufraga todos os Fiéis Defuntos...esses que nos precederam na fé e na caminhada na vida e que morreram ‘antes de nós e dormem agora o sono da paz’, tal como rezamos na oração eucarística do cânone romano.
Em toda a oração da Igreja os defuntos — sobretudo os que tinham fé e a celebravam de forma habitual em Igreja — são lembrados como irmãos mais velhos e que junto de Deus — seja qual for o seu estado de presença ao próprio Deus, no purgatório ou no céu — vivem a visão beatífica ou para ela se preparam pela purificação...
A nossa oração por eles — como se diz habitualmente pelos sufrágios — pode ajudá-los a ‘estarem’ junto de Deus o mais breve possível.
Este dia de Fiéis Defuntos pode e deve compreender-se à luz dos artigos do Credo: creio na vida eterna e na comunhão dos santos, pois só acreditando nessa vida e nessa comunhão poderemos viver e sentir tal participação na vida de ressurreição em Jesus e por Jesus.

= Quais os desafios que estas celebrações nos colocam, hoje?

Desde logo há um desafio muito simples que é a conexão entre a santidade e a condição de fragilidade, esta vive-se e pode ser construída na prossecução daquela, isto é, somos chamados a ser santos a partir e na conjugação da nossa vivência terrena e humana…santos neste mundo e segundo cada tempo. Com efeito, só alicerçados numa fé muito bem esclarecida poderemos entender certos sinais de devoção popular ao (dito) ‘culto dos defuntos’, que é muito mas do que um certo culto dos mortos: os resquícios de veneração daqueles que nos precederam na vida – e os cristãos dizem também ‘na fé’ – poderão dar sentido à deposição de flores e de outras manifestações de carinho e amizade para com os ‘nossos’ defuntos. De facto, não os esquecemos, pois temos memória e gratidão, envolvemo-los e deixamo-nos envolver pelo contexto social e (quase) ritual…pois, o que seria da nossa identidade se já nem os lembrássemos!

Será, então, esta corrente de oração que nos despertará para sentirmos a necessidade de avivar a nossa contingência, pois aquilo que semearmos nos mais novos e nos virem fazer para com os nossos antepassados será essa cultura que perpetuará o nosso não-esquecimento por outros. Aos crentes cristãos/católicos está associada a participação na missa, lembrando os Santos e os Defuntos numa espécie de celebração conjunta e harmoniosa, pois uns e outros fazem parte da nossa família de sangue ou da fé.

Claro que não podemos esquecer as novas formas de sepultamento, que é a cremação. Também neste caso dependerá do local onde estão as cinzas, pois também estas podem e devem merecer idêntico respeito e, porque não, cuidado na atenção aos vindouros.

De todo será desejável que não continuemos a viver como se a morte não existisse e em que essa passagem única e irrepetível da vida não deva ser preparada na dignidade da condição terrena. Urge, por isso, tentarmos lutar contra a privatização da fé e dos momentos de morte, pois isso não passa duma alienação onde cada um se julga ‘imortal’ cheio de medos e fantasmas… não-assumidos. Basta de mitos e cobardias! ‘Saiba morrer, quem viver não soube’ – dizia Bocage!    

 

António Sílvio Couto

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