Apesar
da estória que se conta, no tempo da colonização romana, em que se dizia que no
noroeste da Península Ibérica havia um povo não se sabia governar nem se
deixava governar, parece que, por estes dias, o centro da acusação mudou para o
mar mediterrâneo, nessa cultura que se diz fundadora da (pretensa) democracia...antiga.
De
facto, a caixa de Pandora em que converteu a política – lá no berço da mesma –
na Helénia, está a revelar-se e a revelar-nos como nem tudo o que parece é e
que, como refere o adágio popular, ‘casa onde não há pão, todos ralham e
ninguém tem razão’.
= Bastaram
menos de seis meses – as eleições gregas foram no último domingo de janeiro
passado – para tudo estar em pantanas, seja ao nível económico, seja na
vertente social e humana. Até os panegiricadores da solução do Syrisa agora
engolem em seco a saliva dos elogios, então proferidos, altissonantes e rasgados...
Que dizer mais ainda da romaria de tributo ao (apelidado) rebelde grego? Mesmo
do nosso pequeno país se ergueram tantos e tais encómios de sucesso que os
fautores de tais episódios e façanhas rapidamente caíram nas intenções de
voto...cá por casa!
= Nesta
intercomunicação de interesses e de resultados como que começamos a entender
que não basta tentar recolher frutos daquilo que uns tantos contestatários
quiseram promover porque a onda vai e volta, enrolando os mais incautos, seja
porque não têm ideias e se colam ao barulho do ‘deita-abaixo’, seja porque mais
do que nunca se descobre muito depressa a mentira e as tentativas de
manipulação...
= Nem as
diatribes do enclausurado ‘44’ conseguem atrair a atenção às propostas dos seus
correligionários, que, por estes tempos, têm evitado fazê-lo conivente das
matérias em apreço no próximo ato eleitoral... Os figurantes não mudaram tanto
quanto seria desejável, no entanto, o palco continua a ser o mesmo – senão na
forma ao menos no conteúdo – numa ilusão de que o povo não tenha memória
suficiente para repetir os ingredientes do fracasso (quasi) anunciado...antes e
no futuro!
= O
problema parece continuar a ser o mesmo de sempre: a cintura urbana de Lisboa –
agora até já a pretendem estender, comercialmente, à margem sul como ‘Lisbon
south bay’ (envolvendo Almada, Barreiro e Seixal) – tem peso eleitoral, mas não
faz automaticamente pender a inteligência dos eleitores à custa dos desfiles
pré-pagos (de reformados, pensionistas e afins) e às iniciativas de marchas só
pela contestação... Embora se pretenda mais ou menos instruída (ou será antes
escolarizada?), esta faixa da população olha com alguma sobranceria o resto do
país...à exceção de quando vai ‘à terra’ por ocasião dos momentos tradicionais!
= De
facto, estes lusitanos envernizados de civilização ainda pensam que não
precisam de chuva – quando esta surge logo clamam do ‘mau tempo’ – pois recebem
os frutos da terra em embalagens de supermercado sem grande trabalho ou com
pouco esforço, antes reclamando só dos custos, mesmo que não saibam do esforço de
tantos outros para ter usufruírem de tais regalias citadinas.
=
Recordo essa observação à capacidade dos portugueses – escassos meses e/ou
breves anos – após a implantação da democracia, que, diziam os autores,
discutiam política como se fossem italianos, onde o regime democrático já tinha
décadas...Sabíamos muito e dominávamos quase nada!
= É
verdade somos de fácil adaptação e de muito rápida acomodação, mas o miolo da
nossa evolução cultural está cru de convicções e enquistado de motivações. Por
isso, todo este questionamento na Grécia deve-nos fazer pensar sobre a nossa
identidade mais profunda, sem nos deixarmos manipular por interesses que (até) já
foram vencidos ao final da década de 80...com a queda do muro de Berlim! A
mentira vingará, sempre?
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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