Atendendo ao essencial,
como poderemos avaliar a nossa vida? Esta é aquilo que nos faz viver e sentir,
que nos faz levantar cada manhã e adormecer cada noite, que nos obriga a
assumir responsabilidades, que nos motiva a ser mais e mais em maturidade humana,
psicológica e espiritual.
Há, no entanto, questões
sobre a qualidade de vida, sobre (possíveis) ideais de vida, sobre
(necessários) projetos de vida, sobre (as principais) razões de viver, sobre
temas e assuntos que são mais do que metafísicos, mas essencialmente
existenciais no ser e no estar...de todos e de cada um de nós.
Num tempo em que se tenta
viver segundo uma mentalidade reinante – consumismo, hedonismo,
epicurismo...numa palavra, materialismo de vida – questões que incomodem certas
mentalidades podem tornar-se dispensáveis, senão mesmo, abjuráveis para uma
larga maioria dos nossos contemporâneos.
1. Vida – dom
Um dos aspetos que
reputamos de essencial é o de vermos a vida como um dom, sobretudo de Deus. Com
efeito, nenhum de nós foi consultado para viver nem muito menos podemos opinar
sobre os nossos pais. Somos essencialmente um dom de Deus, cuja bondade nos fez
ser gerados, podermos nascer e sermos cuidados pelos nossos pais. Nada há de
mais simples do que sentir-se agradecido a quem nos deu a vida... E nem, na
idade da aborrescência – palavra composta de adolescência e de aborrecer – em
que tudo se contesta e com muito pouco se concorda, poderemos sentir-nos menos
bem com o mundo, com os adultos ou até connosco mesmos!...
Cada vez mais precisamos
de olhar a nossa vida, tendo em conta os aspetos essenciais, sem nos
entretermos com ‘coisas importantes’, mas que, afinal, não passam de disfarces
para o egoísmo, com certos fatores mesquinhos, onde se pretende antepor aos
outros uma certa fachada daquilo que pensamos...ainda ser!
Há diversos sinais de que
a vida não é vista, sentida e vivida como dom, pois, quando vemos as pessoas
fecharem-se à natalidade, não será isto uma desvalorização da vida como dom?
Quando vemos, cada vez mais, serem valorizados os animais como uma espécie de
prole, não será isto preocupante e revelador dum tempo de crise sobre o
essencial...da vida?
2. Vida – mistério
Em cada pessoa há sempre
um mistério – no sentido correto e espiritual do termo – que deve ser
respeitado e valorizado, desde a conceção até à morte natural. O desenrolar da
vida de cada um de nós faz-nos abrir ao mistério de Deus, que se imprime em nós
e nos torna mais e mais divinos, pois, criados à imagem e semelhança de Deus,
devemos prosseguir num itinerário que nos faz participantes e colaboradores do
mistério de Deus neste mundo e em cada tempo... Como diz a estória da feitura
da estátua, temos de tirar de nós mesmos o que encobre a ‘obra-prima’ divina em
cada um de nós...Eis o mistério belo e simples, mas que implica esforço e
trabalho...contínuos.
Nada temos a encobrir,
pelo contrário, temos de saber descobrir novos horizontes e metas com os
outros, tenham ou não a nossa fé, desde que sejam crentes na vida e em Deus, senhor
da vida...eterna!
3. Vida – compromisso
Para que tal aconteça de
verdade é necessário que a vida seja vivida segundo um compromisso de valores,
onde a matriz espiritual – dizemo-lo do quadro cristão – motiva, conduz e cria
sinergias com tudo, com todos...mesmo com a natureza, como nos recordou, tão
bela e exigentemente, na sua encíclica ‘Louvado sejas’, o Papa Francisco.
Somos uma parte
importante do projeto divino para a humanidade, por isso, não podemos desertar
nem acobardar-nos com desculpas de que os políticos não fazem o que dizem ou de
que os pregadores estão desconexos com o que apresentam aos outros...Temos de
viver em compromisso com cada época da História e este tempo é o mais propício
para que vivamos intensa e fecundamente em razão da construção de uma política
nova, fundada na verdade, na transparência e no bem comum.
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