Apesar
da maioria dos praticantes da vida política se dizer distante – senão mesmo
avessa – da vida religiosa (seja qual for a denominação ou até a expressão), de
vez em quando alguns caem na tentação de se servirem de conceitos, de termos e
de ideias de âmbito religioso, particularmente de incidência cristã.
Ainda no
recente debate – pareceu mais luta em ringue – do ‘estado da Nação’, houve quem
trouxesse à liça termos como: os sete pecados mortais, as dez pragas e outros saídos
do vocabulário mais ou menos enfezado (isto é, com algo a ver com ‘fé’) dos
assessores, consultores ou fazedores de opinião…
Há, no
entanto, uma palavra que é recorrente nas múltiplas e abundantes acusações, que
uns contra outros vão esgrimindo: ‘hipocrisia’ (substantivo, adjetivo,
interjeição, etc.)… para classificar a forma errante com que cada adversário
avalia o desempenho alheio, querendo com isso, muitas vezes, acusar a
incongruência, elogiando a auto folha de serviços… sempre melhor do que a dos
outros, depreciando as suas capacidades de atores!
=
Daquilo que se vai sabendo – cada um fala do que deseja para que os adversários
possam vir a sair desfavorecidos – há grupos partidários onde a luta por um
lugar a candidato a deputado tem revestido lutas de fações, onde até a vertente
religiosa de cada um tem servido para arremessar contra os outros pretendentes
ao posto. Nalguns casos há acusações de teor bem mais maquiavélico do que seria
desejável em ‘famílias’ (ditas) da mesma coloração. Ao que parece, alguns cristãos
um tanto praticantes e certas fações da maçonaria têm vivido e protagonizado
alguma refrega…embora surja ao público como guerrilhas de setores conotados com
anteriores ou atuais dirigentes!
= Já
devia ter sido banido do pensamento e, sobretudo, do comportamento de muitos
responsáveis (dentro e fora da Igreja católica) este cliché que pretendia
dizer: ‘a Igreja não se deve meter na política’! Com efeito, ‘política’ é toda
a ação cívica em favor da cidade (polis) e que tem de envolver tudo e todos.
Bem diferente será essa outra tentativa ou tentação de intervir ou de pactuar
com as coisas de âmbito partidário, pois só iríamos criar fraturas e pouco
faríamos em favor dos outros. Com efeito, o compromisso com a construção da
cidade terrena é algo marcante, desde as origens do cristianismo. Fazer o
contrário – alhear-se da vivência com os outros – poderá ser mais um pecado
social grave, pois as omissões são tanto ou mais pecados do que os erros
feitos. Ter as mãos limpas de nada fazer será muito pior do que sujá-las mesmo
com o (possível) risco de errar!
= Nada
há de mais sublime do que comprometer-se em favor dos outros, pois eles são a
presença mais visível de Deus para nós e connosco. Numa época em que vão
surgindo ‘espiritualidades’ de alienação, torna-se essencial criar sinergias de
boas vontades para que possamos viver radicalmente todas (as catorze) obras de
misericórdia… Em todas elas estamos a considerar o mistério da encarnação como
a mais sublime vivência do amor de Deus feito próximo, desde fonte até à meta
da caminhada… O Deus em quem cremos faz-nos ver o irmão com quem convivemos.
Por isso, o desprezo não poderá ser o fermento da conduta de qualquer cristão…
Há raízes de maldade que também podem florescer por breve tempo, mas não passam
de engano… assim na Terra como para o Céu. A quem interessa a promoção de
certas ‘espiritualidades’, se não fazem abrir à conversão a Deus nos outros?
Religião ou política assim, não, obrigado!
António
Sílvio Couto
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