Temos visto e observado,
temos ouvido e constatado, temos sentido e reconhecido, que se torna, hoje,
muito difícil conseguir que as pessoas – seja qual for a instância em que se
coloquem – tenham o salutar incómodo ou mesmo ‘inconveniente’ de irem a uma
reunião, de saírem do ‘conforto’ da sua quietude para fazerem parte de algo que
lhe ocupe o tempo… desde que isso não lhes traga algum proveito económico ou
social.
Que o digam as formações
partidárias… mesmo em maré de campanha eleitoral! Que o refiram as associações
culturais ou recreativas, desportivas ou mesmo de benemerência… mesmo em épocas
de vitória! Que o digam os setores económicos (profissionais ou sindicais),
quando não conseguem – como noutros tempos! – cativar e mobilizar para
manifestações ou mesmo a contestação! Que o possam reconhecer – com humildade e
sem falsos temores em fugir à verdade – as ações e vivências da Igreja
católica… quando se contentam agora em contar por dezenas o que antes eram
centenas ou até milhares!
= Para quem tenta andar
neste mundo a interpretar ‘os sinais dos tempos’, urge colocar com serenidade
questões que nos ajudem a discernir quais as (possíveis) causas para termos
chegado a esta situação, bem como irmos tateando novas soluções que nos possam
fazer descobrir como poderemos deixar-nos de ficar nesta lamúria coletiva e
ansiosa…
= Vivemos, efetiva e
afetivamente, numa crescente sociedade egoísta, feita de pequenos sinais mais
ou menos capciosos ou um tanto assumidos. Veja-se a cultura do ‘filho único’,
onde cada rebento é ‘rei’ e faz com que os outros – desde a mais tenra idade –
lhe prestem ‘culto’, pois tudo tem – às vezes até sem o solicitar – e com
facilidade se acha no direito de exigir bastante e, normalmente, com pouco para
repartir… Haverá exceções… mas são raras ou muito poucas!
= Há diversos e pequenos
indícios de que muita gente corre por algum interesse – intentado, camuflado ou
mais explícito – para se sentir à proa da embarcação, mas que rapidamente foge
para a popa, quando a intempérie surge e as ondas investem contra os seus
intentos e objetivos… Em quantos campos vemos ‘heróis’ na hora da vitória, mas
que se acobardam quando era preciso participar e fazer a sua parte… ao menos
por gratidão e dignidade.
= De facto, não será com
pessoas desta jaez que iremos conduzir as nossas coletividades, associações ou
mesmo instituições de quem se esperava que houvesse uma mentalidade altruísta e
de serviço aos outros… Poderão ser muitos/as desses/as que fazem com que os
mais válidos e prestáveis se vão afastando, ficando como que um certo ‘resto’
que nada faz nem deixa fazer quem ainda se interessa… Efetivamente, longe vai o
tempo em que encontrávamos pessoas dedicadas por causas, sem olhar a quem
serviam, pois, muitas dessas pessoas tinham em vista o Bem maior de servir a
Deus e não se entretinham com os entretantos das quezílias mundanas… Agora
vemos que se tem vindo a inverter aquela escala de valores e de servidores.
= Ousamos, por isso,
propor breves propostas para que se possa motivar a participação… na vida
cívica, social, associativa e mesmo eclesial:
- Antes de colocar alguém
a mandar será preciso saber se essas pessoas são boas para serem mandadas…
dentro do ditado popular: não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu!
- Antes de colocar a
conduzir outras pessoas será preciso perceber que tal ‘chefe’ não tenha traumas
nem ressentimentos contra outros que antes foram servidores!
- No exercício de
motivação para as iniciativas (menores ou maiores) será preciso compreender como
esse/a que conduz sabe lidar amadurecidamente com o insucesso, dando soluções e
não criando mais problemas!
- Quem tem de conduzir um
processo terá de saber aonde quer chegar e não ficar tropeçado nas
dificuldades, mas estas poderão e deverão ser degraus para a caminhada… rumo à meta
a atingir com humildade e confiança em si e nos outros.
António Sílvio Couto
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