Na visita do Papa à Bolívia, o presidente, Evo Morales,
ofereceu uma prenda em que estava representado o símbolo político da foicinha e
do martelo, tendo uma figura de Cristo no cabo do mesmo...Nas fotos vemos a
apreensão de Francisco e um certo regozijo do anfitrião na oferta.
Soube-se depois que aquela prenda não era previamente do
conhecimento do Vaticano...o que causou algum embaraço não só pela surpresa
como pela ‘provocação’.
Intitulamos este texto: ‘Evo, aquela prenda’ para nos referirmos
à atitude do presidente marxista/populista Morales, mas também para fazermos
notar que aquilo foi mais uma prenda, isto é, algo em que o ofertante se quis
prolongar no oferecido do que um presente que teria em conta a pessoa a quem se
oferece.
Na linguagem popular dizer que alguém ‘nos saiu uma
prenda’ também que fazer notar que os fatos levam a que essa pessoa se vai
tornando já uma espécie de figura com gestos e atitudes mais ou menos
controversos, destoando do geral...à sua maneira...embora criando uma certa
leitura mais ou menos caricata.
Retomando o possível significado da oferta de Evo Morales
ao Papa, aquela seria uma réplica da que foi feita por um padre jesuíta, Luís
Espinal, que foi assassinado pela ditadura militar, em 1980.
= Mesmo que de forma breve poderemos colocar algumas
questões sobre aquela peça oferecida ou mesmo sobre outras implicações e
leituras do gesto...em sentido lato e estrito:
- Será que a cruz se conjuga com aqueles símbolos do
comunismo?
- Não se deveria respeitar a memória de tantos cristãos
que foram mortos pelos regimes marxistas (seja qual for a latitude ou a
expressão política) em razão da sua fé?
- Será que, por o Papa ser de origem latino-americana, se
pode tentar fazer dele uma espécie de emblema político duns tantos interesses
populistas?
- Não há quem diga a certos senhores, no poder ou fora
dele, que o respeito deve ser recíproco?
- Até quando teremos de aturar alguma sobranceria de
certas forças (ditas) progressistas, que se acham donos e senhores das questões
sociais e que manipulam a defesa dos mais pobres?
- Poderemos ter a certeza de que, se num assunto fosse
doutra ordem e com outros adereços, os (pretensos) democratas não reagiram com
vitupérios e acusações de não-democracia?
- Até onde irá a continuação do episódio ‘do crucifixo no
martelo e foicinha’ a ser explorado, aproveitado ou difundido por alguma
comunicação social...mais ou menos socializante?
= Embora nos – cristãos e marxistas – possamos encontrar
no terreno na defesa dos mais pobres e desfavorecidos, não podemos confundir os
princípios que nos norteiam: uns lutamos pela paz e pela concórdia, a partir do
interior e dos valores éticos e do Evangelho; outros tentam impor pela força –
nalguns casos até sob a pressão da violência e do ódio – as regras de conduta e
as formas de política...democrática.
Num tempo ávido de sinais de concórdia, aquela prenda de
Evo Morales parece não servir de bom augúrio para certas regiões da Terra...particularmente
os perseguidos por causa da sua fé e no testemunho de luta pelos valores
humanistas e humanitários.
= Diz o povo e com razão: se queres ser respeitado, tens
de respeitar! Ora, nem sempre vemos esse respeito...por tantos paladinos da
liberdade e da democracia. Atendamos ainda que, se a moda pega cá pela zona,
vamos ter surpresas menos boas: em certas sessões poderemos receber réplicas da
prenda de Morales...Assim não sejam influenciados por um populismo tão barato e
maldoso.
Em jeito de caricatura: não há como recuperar as figuras
de Pepone e de D. Camilo... aí, sim, diálogo era frontalidade, ironia e
convívio... Volte esse tempo, já!
António Sílvio Couto
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