Estes
dois fundamentais aspetos da nossa vida pessoal e social estão em constante
tensão, pois para termos segurança poderemos ter de prescindir dalguma
liberdade e para que esta seja vivida na sua plenitude poderemos fazer perigar
aquela. Por isso, liberdade e segurança são como que dois polos hipersensíveis
da nossa vida social e pessoal...mesmo sem disso nos darmos sempre conta.
Isto
será tanto mais percetível quando nos vemos algo de alguma intrusão no
computador pessoal – já nem me pronuncio sobre as tentativas a que podem estar
sujeitos os das empresas, das forças de segurança ou do Estado – e, de repente
vemos alguém a usar a nossa identidade e a solicitar dinheiro em nosso
nome...numa hipotética situação de aflição, sobretudo, se for no (pretenso)
estrangeiro. Isto aconteceu-me no passado dia 13 de julho com uma usurpação de
identidade de alguém – umas vezes no masculino, outras no feminino – criando um
cenário para extorquir um certo montante a colocar através de uma entidade
bancária... internacional. Dezenas de contatos, que tinha no meu computador –
uns do livro de endereços e outros apanhados nalgum momento de comunicação –
receberam um tal pedido de ‘ajuda’...Foi um corrupio na manhã dessa segunda-feira...até
ser apanhado o filão donde provinha aquela ameaça, enquanto tentava proteger
novamente o computador...Foram horas e dezenas de chamadas recebidas a tentar
saber da veracidade do caso. Humildemente agradeço todas as atenções
dispensadas!
Trago a
público esta situação – talvez pareça ridícula e inocente para alguns
entendidos – numa partilha de preocupação sobre a vulnerabilidade dos
instrumentos com que comunicamos, da sensibilidade com que podemos ser alvo de
má-fé ou mesmo como recurso a denunciar quem tal fez para que possa perceber
que podem meter-me medo, mas não me atemorizam...Uma coisa é condicionarem,
outra bem diferente será invadir a privacidade e o modo de ser e de estar!
= Liberdade – tê-la ou
protegê-la?
A marca
mais séria da nossa vida é a da liberdade, seja no foro interno, seja na
dimensão externa...para connosco mesmos ou para com os outros. Com efeito,
liberdade não é sinónimo de fazer o que se quer, mas querer fazer o que se pode
e deve. Ora, isso nem sempre é fácil de viver nem de saber estar em cada
instante, pois a liberdade exprime-se de muitas e variadas formas, algumas das
quais que nem os grilhões podem coartar. Que o digam os santos e mártires em
nome da fé: eram livres porque servidores do Senhor das suas vidas, a Quem
tinham dado tudo e já nada lhes restava de si mesmos.
Nos
(ditos) ‘quarenta anos de democracia’ temos visto muitos para quem a liberdade
é o que eles pensam e, na melhor das hipóteses, o que pensam os seus
correligionários. Quem pensa ou se exprime de forma diferente da deles já pode
ser um perigo para a liberdade! Desta forma se pode explicar o estado atávico
em que vivemos como país, na dimensão política e até na cidadania...Não há
donos da liberdade ou, então, esta será arma de arremesso para adversários e
competidores! Liberdade é, antes de tudo, respeito pela diferença e do modo de
ser, de pensar e agir alheios.
= Segurança: como defendê-la?
Nos
tempos mais recentes temos visto vários locais públicos – ruas, estradas, espaços
de diversão, serviços de atendimento, etc. – sob câmaras de vigilância... Tudo –
segundo dizem – sob a tutela das entidades de proteção de dados e em vista das
(pretensas) condições de segurança mínimas. Uma certa febre securitária invadiu
os países ocidentais, sobretudo após vários atentados terroristas em diversos
países. Em nome da segurança tornou-se (quase) tácita a aceitação do reforço
das medidas de segurança. Mas isso trouxe-nos mais serenidade e confiança uns
nos outros? Estamos seguros ou vivemos mais preocupados?
Temos de
cultivar a boa vizinhança, pois está dá e fomenta segurança. Temos de encontrar
meios de segurança onde o medo possa ser expulso das relações humanas. Temos de
querer segurança para os outros e a nossa estará garantida. A segurança nasce
da paz, sobretudo, do coração!
António
Sílvio Couto
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