Num
tempo algo específico que é o nosso, somos partilhando circunstâncias um tanto
díspares mais na forma que não no conteúdo… Já em dias anteriores tinha vivido
outras partilhas e preocupações de outros padres também párocos e com
sensibilidades e interrogações a exigirem mais do que conversa circunstancial.
Há,
apesar de tudo, inquietações que fui percebendo… nem sempre alentadoras do
serviço pastoral àqueles/as, que Deus tem colocado no nosso caminho.
- Nota-se
um crescente desrespeito pela figura e pela função do padre/pároco. Quais as
razões que têm contribuído para isso?
- Nota-se
uma forte desmotivação das pessoas em viverem em espírito de Igreja… seja qual
for a diocese. Onde podemos encontrar as explicações para tal fenómeno?
- Nota-se
uma certa rebeldia das pessoas que ainda andam pela Igreja, dando a entender
que mais contestam do que aceitam muitas das orientações. Será esta uma etapa
ou um caminho a percorrer, por entre lágrimas, lamentações e confrontos?
= Escrevo
esta partilha algo dorida e até sofredora no dia em que, na Igreja católica, se
celebra o Cura d’Ars (São João Maria Vianney), considerado o patrono dos
párocos e uma espécie de modelo de padre que, no seu tempo – ainda recentemente
motivou a convocação pelo Papa Bento XVI do ‘ano sacerdotal’ (2009/10) – e para
todos os tempos é apresentado como alguém que viveu em alto e digníssimo estado
o trabalho com o povo de Deus… sobretudo na vivência dos sacramentos da
eucaristia e da penitência!
Desgraçadamente
conhecemos pessoas que têm pelo Cura d’Ars grande devoção, mas que, na prática
de vida quotidiana da igreja, parecem menosprezar por excelência aqueles que
Deus coloca no serviço paroquial de proximidade. Infelizmente sabemos de
pessoas muito venerandas das atitudes de Cura d’Ars, mas que agora flutuam ao
sabor das boas impressões daqueles que não conhecem nem se dão a conhecer… Efetivamente
já vivi em Ars – no espírito do Santo Cura – vários momentos de grande graça e
de salutar proveito espiritual…Um deles ocorreu mesmo por ocasião do jubileu do
ano 2000 e que reuniu centenas de padres de toda a França… Outros foram de
singular importância e de extrema comunhão comunitária…
=
Perante estes significativos sinais, como que sinto alguns desafios – talvez
nem sempre sintonizados com outros… eclesiásticos, leigos ou religiosos – que
me fazem sentir numa espécie de inquietação, tendo mesmo em conta o próximo simpósio
do clero, que vai decorrer, em Fátima, de 31 de agosto a 3 de setembro,
subordinado ao tema: ‘Padre, irmão e pastor’.
Atendendo
ao significativo número de padres que se costumam reunir – normalmente dez por
cento do clero em Portugal – mais (assim me parece) as minhas leituras sobre a
condição de pároco se tornam acutilantes.
- Será
que temos estado a olhar para o estado da Igreja ‘ad intra’ ou teremos
preferido lançar denúncias sociais para o exterior, distraindo-nos e adiando as
questões sérias da Igreja e para a Igreja católica?
- Certas
iniciativas do âmbito do social – dar de comer, de projetos sócio-culturais e
de cuidar das fomes – são uma vocação/missão ou servem de fait-divers da
incapacidade de real evangelização?
- Temos
tornado os frequentadores das igrejas – misseiros e/ou sacramentados – agentes
de caridade ou de mais de mera solidariedade?
- Não
andarão os párocos a cuidar mais do urgente do que do necessário, isto é, como
controladores da distribuição do pão da fome do corpo do que como animadores da
escuta e da comunhão psicológica, espiritual e eclesial?
- Certas
‘cenas’ de final de missa – cumprimentos e saudações mais de âmbito de relações
públicas – não condicionarão a capacidade profética…porque se tem de agradar aos
que (ainda) enchem os templos?
António
Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário