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terça-feira, 4 de agosto de 2015

Circunstâncias da vida de pároco, hoje!

 Por estes dias tive a oportunidade de visitar, numa zona rural (embora sede de concelho) do norte do país, um padre que é pároco há cerca de trinta anos… no mesmo local. Embora tenhamos estudado no mesmo seminário, embora sendo de dioceses diferentes, seguimos percursos diversificados… sobretudo tendo eu rumado ao sul do Tejo há quase duas décadas.
Num tempo algo específico que é o nosso, somos partilhando circunstâncias um tanto díspares mais na forma que não no conteúdo… Já em dias anteriores tinha vivido outras partilhas e preocupações de outros padres também párocos e com sensibilidades e interrogações a exigirem mais do que conversa circunstancial.
Há, apesar de tudo, inquietações que fui percebendo… nem sempre alentadoras do serviço pastoral àqueles/as, que Deus tem colocado no nosso caminho.
- Nota-se um crescente desrespeito pela figura e pela função do padre/pároco. Quais as razões que têm contribuído para isso?
- Nota-se uma forte desmotivação das pessoas em viverem em espírito de Igreja… seja qual for a diocese. Onde podemos encontrar as explicações para tal fenómeno?
- Nota-se uma certa rebeldia das pessoas que ainda andam pela Igreja, dando a entender que mais contestam do que aceitam muitas das orientações. Será esta uma etapa ou um caminho a percorrer, por entre lágrimas, lamentações e confrontos?

= Escrevo esta partilha algo dorida e até sofredora no dia em que, na Igreja católica, se celebra o Cura d’Ars (São João Maria Vianney), considerado o patrono dos párocos e uma espécie de modelo de padre que, no seu tempo – ainda recentemente motivou a convocação pelo Papa Bento XVI do ‘ano sacerdotal’ (2009/10) – e para todos os tempos é apresentado como alguém que viveu em alto e digníssimo estado o trabalho com o povo de Deus… sobretudo na vivência dos sacramentos da eucaristia e da penitência!
Desgraçadamente conhecemos pessoas que têm pelo Cura d’Ars grande devoção, mas que, na prática de vida quotidiana da igreja, parecem menosprezar por excelência aqueles que Deus coloca no serviço paroquial de proximidade. Infelizmente sabemos de pessoas muito venerandas das atitudes de Cura d’Ars, mas que agora flutuam ao sabor das boas impressões daqueles que não conhecem nem se dão a conhecer… Efetivamente já vivi em Ars – no espírito do Santo Cura – vários momentos de grande graça e de salutar proveito espiritual…Um deles ocorreu mesmo por ocasião do jubileu do ano 2000 e que reuniu centenas de padres de toda a França… Outros foram de singular importância e de extrema comunhão comunitária…

= Perante estes significativos sinais, como que sinto alguns desafios – talvez nem sempre sintonizados com outros… eclesiásticos, leigos ou religiosos – que me fazem sentir numa espécie de inquietação, tendo mesmo em conta o próximo simpósio do clero, que vai decorrer, em Fátima, de 31 de agosto a 3 de setembro, subordinado ao tema: ‘Padre, irmão e pastor’.
Atendendo ao significativo número de padres que se costumam reunir – normalmente dez por cento do clero em Portugal – mais (assim me parece) as minhas leituras sobre a condição de pároco se tornam acutilantes.
- Será que temos estado a olhar para o estado da Igreja ‘ad intra’ ou teremos preferido lançar denúncias sociais para o exterior, distraindo-nos e adiando as questões sérias da Igreja e para a Igreja católica?
- Certas iniciativas do âmbito do social – dar de comer, de projetos sócio-culturais e de cuidar das fomes – são uma vocação/missão ou servem de fait-divers da incapacidade de real evangelização?
- Temos tornado os frequentadores das igrejas – misseiros e/ou sacramentados – agentes de caridade ou de mais de mera solidariedade?
- Não andarão os párocos a cuidar mais do urgente do que do necessário, isto é, como controladores da distribuição do pão da fome do corpo do que como animadores da escuta e da comunhão psicológica, espiritual e eclesial?
- Certas ‘cenas’ de final de missa – cumprimentos e saudações mais de âmbito de relações públicas – não condicionarão a capacidade profética…porque se tem de agradar aos que (ainda) enchem os templos?

António Sílvio Couto

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