Quem navegar pelas redes sociais e afins será, normalmente, confrontado com imensas referências a animais perdidos – cães e gatos – numa lancinante dramatização para que sejam encontrados, sendo ainda contados vários episódios de ligação a pessoas e famílias. Nota-se que a escala de valores sociais e culturais está em grande mutação, com os humanos a serem preteridos aos animais, sejam de pequeno ou de grande porte e sobretudo os classificados de companhia ou considerados domésticos.
1. Não deixa de ser sintomático e revelador desta mudança cultural os espaços que ocupam os artigos para animais – desde alimentação até outras formas de higiene e de conforto – nos supermercados: nalguns casos são mais do dobro do espaço designado para artigos de crianças. Outra faceta reveladora da mutação de critérios e de valores é a forma como tantas famílias cuidam afanosamente dos seus ‘animais de estimação’, que são, tantas vezes, mais do que de companhia, parecendo ser de dedicação afetivo-emocional.
2. O que fez mudar – ou será antes transferir – a dedicação aos animais em detrimento das crianças? Que contribuiu para que isto se generalizasse? Até onde vai a consciência de que algo vai mal (ou menos bem) no comportamento dos humanos? Não será manifestamente uma confusão de valores dar nomes de pessoas a animais em contaste com certos nomes dados a pessoas que mais se adequariam a animais?
3. Quem não se recorda das reações – algumas quase irracionais de certas associações defensoras dos animais – às palavras que o Papa Francisco proferiu a 5 de janeiro de 2022 (estávamos em pleno tempo de pandemia): «Há dias, falei sobre o inverno demográfico que há atualmente: as pessoas não querem ter filhos, ou apenas um e nada mais. E muitos casais não têm filhos porque não querem, ou têm só um porque não querem outros, mas têm dois cães, dois gatos…Pois é, cães e gatos ocupam o lugar dos filhos. Sim, faz rir, entendo, mas é a realidade (...) E a Pátria que não tem filhos sofre e – como dizia alguém um pouco humoristicamente – ‘e agora quem pagará os impostos para a minha reforma, que não há filhos? Quem se ocupará de mim?’».
4. Mais este lóbi animal – associado a outros com grande poder económico e de influência cultural – está a desumanizar a nossa sociedade e a criar novos tipos de famílias, sem que a vida e a dedicação às crianças seja a prioridade. Cada vez mais se normalizou a tendência de trocar os filhos pelos simpáticos animais e já se veem situações em que as heranças são encaminhadas para os animais preferidos de pessoas mais ou menos carentes de atenção e de afeição. Também isto se faz repercutir no nosso ambiente aquilo que víamos noutras paragens. Certas posições ideológicas em favor dos animais têm de ser denunciadas como tentativas de nivelarem animais e humanos na mesma condição de dignidade. Por vezes essa é uma forma subtil de questionar a doutrina católica, veja-se a forma como reagem essas forças quando o Papa toca os seus interesses…
5. O que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre esta temática dos animais?
* Os animais são criaturas de Deus. Deus envolve-os na sua solicitude providencial. Pelo simples facto de existirem, eles O bendizem e Lhe dão glória. Por isso, os homens devem estimá-los. É de lembrar com que delicadeza os santos, como São Francisco de Assis ou São Filipe de Néri, tratavam os animais (n.º 2416);
* Deus confiou os animais ao governo daquele que foi criado à Sua imagem (n.º 2417);
* É contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas. É igualmente indigno gastar com eles somas que deveriam, prioritariamente, aliviar a miséria dos homens. Pode-se amar os animais, mas não deveria desviar-se para eles o afeto só devido às pessoas (n.º 2418).
Algo vai mal, quando o relativo se torna absoluto…
António Sílvio Couto
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