A representante única de um partido no Parlamento fez a seguinte proposta (na classificação de projeto de resolução): «considerando o impacto significativo das escolhas alimentares na emissão de gases com efeito de estufa, a Assembleia da República deverá instituir, para os deputados e demais funcionários, o projeto "segundas-feiras sem carne… [isto é] uma vez por semana apenas opções totalmente vegetarianas… A adoção de um dia vegetariano na semana visa não apenas contribuir diretamente para a diminuição das emissões no setor público, mas também estimular uma reflexão mais ampla sobre os hábitos alimentares e o seu impacto ambiental e de saúde».
Eis uma proposta na linha dessa pretensa ‘nova religião’ vegan e afins, com bastantes seguidores de fachada.
1. Esta senhora é de um partido dito de incidência ecologista (pessoas-animais-natureza), mas talvez desconheça – ou seja ignorante – sobre o tema da abstinência semanal de carne, já vivenciada noutras instâncias com outra expressão, relevando o significado cultural e espiritual. As grandes religião monoteístas e sobretudo as do Livro – judeus, cristãos e muçulmanos – propõem aos seus seguidores tempos e etapas de jejum, mais em função do autodomínio (ou temperança) do que como ricochete de panteísmos subterrâneos.
2. Mesmo que sucintamente o que é o veganismo? O veganismo é um estilo de vida que tem como objetivo excluir o uso de animais na alimentação, como carne, ovos, peixes, laticínios e mel. A pessoa vegana também não usa roupa feita de couro ou pelos naturais e produtos com ingredientes de origem animal ou testados em animais. Assim, na dieta vegana é priorizado o consumo de alimentos de origem vegetal, como cereais, leguminosas, frutas, vegetais, tubérculos, óleos vegetais, sementes e oleaginosas, por exemplo.
3. Este tema da contenção para com certos ingredientes na alimentação podem ser tão interessantes quão bizarros, na medida em que, alguns desses difusores vegan, são poucos democráticos para com quem não alinha nas suas pretensões e nalguns casos tornam-se fundamentalistas sem respeito pela diferença. A sugestão apresentada neste contexto é mais do que evidente dessa espécie de sobranceria com que certas forças se consideram a submeterem outros às suas ‘ideias’…
4. De facto, estas novas ‘modas’ de restrições alimentares como que sofrem de um substrato sem nexo e de uma razoável falta de respeito para com quem passa fome, pois certas propostas não passam de subterfúgios do excesso por contraste com quem não tem o suficiente para se alimentar. Se o veganismo – e outras sugestões afins – fossem a solução para a fome no mundo já teriam conseguido apresentar resultados. Mas não, o que têm conseguido é gastar ainda mais recursos para levarem a sua pretensão à (possível) vitória.
5. De entre todas as expressões religiosas mais significativas somente os católicos não impõem qualquer restrição a nenhum dos alimentos. Em quase todas as religiões há algo que é proibido. Entre os católicos não se apresenta nada que possa não servir de alimento. Isso exige mais capacidade de discernimento quanto a todos os ingredientes usados na alimentação, onde a moderação (temperança, domínio de si mesmo) se deve sobrepor ao exagero seja nos que quer possa ser.
6. Sem querermos julgar a sugestão do jejum de carne à segunda-feira, isto soa a uma espécie de farisaísmo laico, que deseja dar boa impressão, mas não modifica nada de cada pessoa nem contribui minimamente para a mudança do mundo. Segundo as palavras do Papa Francisco, o verdadeiro jejum é partilhar com o faminto, ajudar o pobre ou o que tem menos que tu; é estender uma mão à viúva; é fazer companhia ao ancião; é dar do teu tempo para servir ao outro.
Podemos começar já e não esperar pela segunda-feira da desintoxicação!
António Sílvio Couto
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