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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Abaixo-assinados – por quê e para quê?

 


Tornou-se como que recorrente numa certa fase ‘democrática’ após a revolução-de-abril esta forma de recolher a (pretensa) vontade popular: o abaixo-assinado, como forma de recolher o posicionamento das pessoas sobre um assunto, que, tanto quanto possa ser entendido como de interesse comum, tornando-se, assim, a recolha de assinaturas num modo de vincular (ou devia) quem participa…. Tempos houve que isso era feito em papel, agora é executado de modo eletrónico; naquele a falsificação de assinaturas era mais do que muita (bastava reparar na letra do processo); neste, como tem de inserir o número do cartão de cidadão parece menos suscetível de arranjinhos…

1. A razão para querer abordar este tema do assim designado ‘abaixo-assinado’ tem a ver com uma recente iniciativa – agora dita de ‘petição pública’ – quanto a um assunto e sobre pessoas que uns tantos – de uma clara fação ideológica – consideraram terem sido infringidos certos artigos da lei suscetíveis de serem crime. Desde já declaro que não gostei das afirmações dos visados na tal petição, mas descri na seriedade da mesma quando encontrei na lista publicitada sobretudo figuras, figurinhas e figurões de uma franja da sociedade que de independente de manipulações das suas ideias está suficientemente manchada de descrédito.

2. Quanto à petição em apreço surgiram já suspeitas de haver nomes falsos a serem contabilizados, até porque nesta petição contra as tais declarações não se pede o número do cartão do cidadão, mas só um email de contacto, o que, segundo certas fontes de informação, desde que o email seja válido, o nome apresentado poderá ser falso ou falsificado… Com este labéu ainda haverá quem acredite que os milhares de signatários correspondem aos que assinaram? Um email pode ser inventado na hora e inclui-lo na lista dos que participam? Não andaremos, mais uma vez, a sermos joguetes de habilidosos na arte da malfeitoria?

3. Os acontecimentos que serviram de base à criação desta ‘ação de cidadãos’ trouxeram à luz do dia – mesmo que os factos e declarações sejam do âmbito da noite – uma latente sensação de que há gente de mais a querer aproveitar-se de tudo o que possa servir para criar dissensões entre a população, em ver mais o que divide do que aquilo que une, de maquiavelicamente tudo fazer para lançar atoardas contra quem pensa de forma diferente, de incendiar a populaça, pondo-se de fora quando o fogo está descontrolado… Isto não tem conotação com direita nem esquerda, todos têm sido suficientemente maus para acusarem os outros.

4. Passados estes eflúvios extremistas, os problemas – dos bairros, das ruas ou das populações – continuarão por resolver. Voltarão a ser varridos para debaixo do tapete social e pseudo-racista as questões que criaram tais situações, mesmo que esquecendo quem sempre lá tem estado, junto das pessoas e acompanhando-as de verdade. A presença, por vezes mais discreta do que deveria ser, da Igreja não pode permitir-se ser ignorada. Em quase todos os bairros visibilizados nos acontecimentos noticiados há alguém da fé cristã – tanto católicos como protestantes – que dão ajuda à resolução de inúmeros problemas, sem disso se ver qualquer referência. Aquela freira – ao que parece de origem italiana – está, no bairro mais problemático agora, há quase duas décadas. Tantos outros religiosos e eclesiásticos dão a sua vida por essas pessoas e como que são ignorados e deixados fora da solução, quando eles conhecem as questões melhor do que outros ‘técnicos’ idos para analisar…

5. Muitos dos peticionários-subscritores são da mesma cor dos autarcas, que há décadas, governam aqueles bairros. A posição contra quem proferiu as tais palavras ofensivas dos que sofreram as represálias nos ditos bairros deixa-nos algumas perguntas: será que vai ser agora – no próximo ano temos eleições autárquicas – que vão ser resolvidos os problemas de tais bairros? Os agora ‘protestantes’ farão parte da solução ou irão continuar a reagir às questões, pondo-se de fora? Até quando continuaremos a dar votos a quem nada faz?

6. Um pouco de auto-censura da comunicação social poderia ajudar a evitar acendimentos noutras paragens!



António Sílvio Couto

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