Recentemente ouvi de um
político a conjugação destes dois termos numa tentativa de definir quais
seriam, na sua perspetiva, os critérios de escolha dos candidatos a deputados.
Tentando, na medida possível,
despojar de incidência ideológica o assunto, aceito tomar estas duas palavras
para fazer um percurso humano-cultural onde estes dois fatores podem e devem
estar (mais) presentes do que aquilo que parece ter acontecido.
1.
Definição de termos. ‘Competência’ significa ‘capacidade decorrente do
profundo conhecimento que alguém tem sobre um assunto’… essa capacidade
advém-lhe da conjugação dos seus conhecimentos, habilidades, atitudes e
valores, que lhe permitem desempenhar eficazmente, no desenvolvimento de várias
situações, numa área específica… ‘Lealdade’ é um ‘valor humano relacionado com a
capacidade de uma pessoa ser plenamente confiável, manter a sua retidão moral,
honestidade e honrar os seus compromissos’… manifestando-se na plena confiança
entre os intervenientes e no cumprimento do compromisso assumido…
2.
Atendendo a estas definições descritivas poderemos abordar aspetos mais
práticos, onde a teoria não poderá ser esquecida e onde a prática possa ser a
melhor prova de competência e de lealdade. Seria quase trágico que tivéssemos
pessoas que são competentes mas não leais ou que se dissessem leais mas não são
competentes. Com efeito, dos ‘competentes, mas não leais’ poderíamos esperar a
qualquer momento um golpe de habilidade que romperia a confiança entre as
pessoas que seriam enganadas, mas que só o descobririam tarde de mais. Por
outro lado, os ‘leais não competentes’ poder-se-ão tornar lacaios e aduladores
que mais tarde ou mais cedo poderão tornar-se traidores e até incapazes de
desempenhar alguma função para a qual não estariam preparados, mas a que
acederam por mera simpatia a gosto…
3. Por
que será, então, que vemos tantos incompetentes a ocupar lugares para os quais
não estavam, minimamente, preparados? Por que temos de aturar o clientelismo e
não a meritocracia? Por que andamos a encobrir os incompetentes, quando os
devíamos denunciar e de lhes tirar as regalias dos seus postos? Não haverá
deslealdade ao pactuarmos, em silêncio, com certas tropelias de quem nos
governa, antes governando-se? Por que será que a incompetência é tão atrevida e
se faz pagar com benesses e prebendas?
4.
Parece que estamos num tempo onde (quase) tudo é escrutinado, desde as coisas
mais mesquinhas até às ações mais hediondas. Dá a impressão que nada escapa, à
exceção da incompetência. Por isso, como que somos tentados a pensar que esta
letargia de incompetência em quem a cuide e deseje prolongar, pois talvez possa
beneficiar com tais desgovernos. Na política de trazer por casa podemos ver a
situação da (pretensa) transportadora aérea nacional: é o exemplo máximo de
incompetência e até de deslealdade, pois nela têm sido enterrados rios de
dinheiro e nada muda, pelo contrário mais se afunda. Para quando uma solução
radical como a encontrada para os estaleiros navais de Viana do Castelo: fecha
e dá lucro! Talvez falte vontade de solucionar o problema a sério…
5.
Agora que caminhamos a passos lestos para o próximo ato eleitoral será de questionar
seriamente se vamos ter de votar nos mesmos, que já deambulam pelo Parlamento à
sombra dos direitos adquiridos, se nos vão apresentar novas figuras –
competentes e leais mais ao país do que ao partido… isto já para não referir,
se será ao lóbi, à tendência ou à ideologia. Haverá inda quem se queira
sujeitar ao escrutínio nem sempre respeitador da pessoa e mesmo da família? Não
teremos muita gente competente que não está para ser confundida com algum
chafurdar obscuro e menos leal?
Seja qual for o campo de
atividade em que nos poderemos colocar, talvez se possa resumir a consonância
entre estes dois valores: competência sem lealdade pode gerar proselitismo…
Lealdade sem competência pode fomentar adulação.
António Sílvio Couto
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