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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Competência e lealdade

 


Recentemente ouvi de um político a conjugação destes dois termos numa tentativa de definir quais seriam, na sua perspetiva, os critérios de escolha dos candidatos a deputados.

Tentando, na medida possível, despojar de incidência ideológica o assunto, aceito tomar estas duas palavras para fazer um percurso humano-cultural onde estes dois fatores podem e devem estar (mais) presentes do que aquilo que parece ter acontecido.

 1. Definição de termos. ‘Competência’ significa ‘capacidade decorrente do profundo conhecimento que alguém tem sobre um assunto’… essa capacidade advém-lhe da conjugação dos seus conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, que lhe permitem desempenhar eficazmente, no desenvolvimento de várias situações, numa área específica… ‘Lealdade’  é um ‘valor humano relacionado com a capacidade de uma pessoa ser plenamente confiável, manter a sua retidão moral, honestidade e honrar os seus compromissos’… manifestando-se na plena confiança entre os intervenientes e no cumprimento do compromisso assumido…

 2. Atendendo a estas definições descritivas poderemos abordar aspetos mais práticos, onde a teoria não poderá ser esquecida e onde a prática possa ser a melhor prova de competência e de lealdade. Seria quase trágico que tivéssemos pessoas que são competentes mas não leais ou que se dissessem leais mas não são competentes. Com efeito, dos ‘competentes, mas não leais’ poderíamos esperar a qualquer momento um golpe de habilidade que romperia a confiança entre as pessoas que seriam enganadas, mas que só o descobririam tarde de mais. Por outro lado, os ‘leais não competentes’ poder-se-ão tornar lacaios e aduladores que mais tarde ou mais cedo poderão tornar-se traidores e até incapazes de desempenhar alguma função para a qual não estariam preparados, mas a que acederam por mera simpatia a gosto…

3. Por que será, então, que vemos tantos incompetentes a ocupar lugares para os quais não estavam, minimamente, preparados? Por que temos de aturar o clientelismo e não a meritocracia? Por que andamos a encobrir os incompetentes, quando os devíamos denunciar e de lhes tirar as regalias dos seus postos? Não haverá deslealdade ao pactuarmos, em silêncio, com certas tropelias de quem nos governa, antes governando-se? Por que será que a incompetência é tão atrevida e se faz pagar com benesses e prebendas?

 4. Parece que estamos num tempo onde (quase) tudo é escrutinado, desde as coisas mais mesquinhas até às ações mais hediondas. Dá a impressão que nada escapa, à exceção da incompetência. Por isso, como que somos tentados a pensar que esta letargia de incompetência em quem a cuide e deseje prolongar, pois talvez possa beneficiar com tais desgovernos. Na política de trazer por casa podemos ver a situação da (pretensa) transportadora aérea nacional: é o exemplo máximo de incompetência e até de deslealdade, pois nela têm sido enterrados rios de dinheiro e nada muda, pelo contrário mais se afunda. Para quando uma solução radical como a encontrada para os estaleiros navais de Viana do Castelo: fecha e dá lucro! Talvez falte vontade de solucionar o problema a sério…

 5. Agora que caminhamos a passos lestos para o próximo ato eleitoral será de questionar seriamente se vamos ter de votar nos mesmos, que já deambulam pelo Parlamento à sombra dos direitos adquiridos, se nos vão apresentar novas figuras – competentes e leais mais ao país do que ao partido… isto já para não referir, se será ao lóbi, à tendência ou à ideologia. Haverá inda quem se queira sujeitar ao escrutínio nem sempre respeitador da pessoa e mesmo da família? Não teremos muita gente competente que não está para ser confundida com algum chafurdar obscuro e menos leal?

Seja qual for o campo de atividade em que nos poderemos colocar, talvez se possa resumir a consonância entre estes dois valores: competência sem lealdade pode gerar proselitismo… Lealdade sem competência pode fomentar adulação.

  

António Sílvio Couto      

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