Decorridos quase dois anos de pandemia pelo surto
de covid-19 os números são assustadores e reveladores desta ‘guerra’ sem
quartel nem trincheiras, mas com vítimas crescentes ao segundo.
Eis uma breve resenha dos dados em Portugal…até ao
momento: infetados (global): 1.286.119; recuperados: 1.161.615; óbitos: 18.890. A evolução desta matéria e mesmo as formas de
enfrentar este vírus foi algo que teve uma aprendizagem muito específica: fomos
passando da confusão dos números até à testagem mais ou menos em massa,
passando pela vacinação – para já em três doses – dos mais velhos para os mais
novos da população, à mistura com as recomendações das autoridades de saúde
quanto à higienização, o distanciamento entre as pessoas e o uso obrigatório de
máscara sanitária…
1. Passado algum tempo de enfrentamento do problema
do ‘coronavírus’ foi lançado para o ar uma suposição algo abstrata: de uma
forma ou de outra, mas cedo ou mais tarde, seja qual for a idade ou mesmo a
condição social, todos seremos contagiados ou contaminados, mesmo que isso
implique uma forma diferente de ver, sentir ou tratar o problema… Depois das
diversas variantes do vírus – alfa (identificada no Reino Unido), beta
(identificada na África do Sul), gama (identificada no Brasil), delta
(identificada na Índia) – e a mais recente – ómicron – tem feito vítimas com
fartura…na qual se sinto, por estes dias, incluído. Depois de ter suplantado as
etapas anteriores, num instante bateu-me à porta a necessidade de confinamento
e de vigilância, mesmo que já estivesse com data marcada para rececionar a
terceira dose de vacinação…
2. Quem se queira interrogar sobre o modo
ultrarrápido de difusão deste vírus terá de procurar múltiplas cambiantes,
embora haja uma que se destaca: a mobilidade dos nossos dias tem sido uma das
modalidades mais simples para que este assunto ganhe foros de universalidade,
com as implicações inerentes aos cuidados que nos têm sido exigidos. Parece que
nada nem ninguém está a salvo desta praga. Parece que estamos todos no mesmo
barco – como nos disse o Papa Francisco, no simbólico dia 27 de março do ano
passado.
3. Continuo a não compreender que ainda haja pessoas
que negam isto que nos está a acontecer e com tão gravosos resultados. Sejam
quais forem as razões para tais negacionistas, dá a impressão que fazem tal
papel para se exibirem na sua douta ignorância. É verdade que não sabemos quais
as consequências a médio e a longo prazo da vacinação. Para já o efeito tem
sido preventivo e, em muitos casos, tem salvado da morte grande número de
pessoas. Não fosse o grande investimento no processo crescente de vacinação e
estaríamos a enfrentar resultados ainda mais trágicos.
4. Todo este complexo momento da Humanidade veio
colocar-nos diante de algo simples e imediato: somos uma grande família, que
sofre com quem sofre e que cuida de quem precisa, sobretudo na sua
vulnerabilidade e fraqueza. Esta globalização na doença trouxe à
consciencialização de todos que precisamos uns dos outros e que só pela união
de esforços venceremos para bem de um maior número de pessoas. Na medida em que
formos acreditando que a vitória sobre este vírus não se consegue senão pela
unidade, mais e melhor seremos humanizados nas razões e nas consequências.
5. Isto a que o Papa Francisco tem apelidado de ‘ecologia
integral’ tem agora novas expressões na moral/ética de todos e de cada um. Na
sua mensagem para o 55.º dia mundial da paz diz-nos: «é
necessário (…) um pacto que promova a educação para a ecologia integral,
segundo um modelo cultural de paz, desenvolvimento e sustentabilidade, centrado
na fraternidade e na aliança entre os seres humanos e o meio ambiente».
Já aprendemos as lições desta pandemia? Para além
do contágio/contaminação já percebemos que somos parte de um todo e global? Se
nunca fomos ilhas, agora somos mais do que continentes na expetativa do bem
comum pela fraternidade emergente do nascimento de Jesus na nossa carne humana.
Efetivamente a doença humaniza-nos e faz-nos mais irmãos de todos porque
frágeis e necessitados de cuidado.
António
Sílvio Couto
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