Segundo dados dos ‘Censos 2021’, em Portugal, há um certo desfasamento entre os edifícios destinados à habitação (cerca de 3,5 milhões) e o alojamento (quase 6 milhões de situações). Comparativamente com os censos de há uma década o crescimento do parque habitacional é bastante inferior ao do início do século.
Atendendo
a estes números podemos captar que há diferença entre os locais de alojamento e
as possibilidades de ter casa própria (proprietário ou arrendatário); de esta
pode ser de maior ou de menor dimensão ou ainda de localizar-se no litoral ou
no interior do país; ser de primeira habitação ou residência secundária ou
sazonal… Nestes diversos itens os resultados dos ‘Censos 2021’ dizem-nos que a
tipologia de arrendamento de casa tem vindo a ganhar espaço (22%) ao regime de
proprietários (cerca de 70%); que as residências secundárias têm vindo a crescer,
sobretudo em regiões de veraneio, no Algarve são cerca de 40% dos alojamentos…
A nota de
‘não haver lugar na hospedaria’ pode envolver outras leituras, desde as
meramente estruturais – não estavam preparados para ser ‘invadidos’ por tantos
deslocados – até às de índole mais espiritual, isto é, podemos não ter espaço
para receber Jesus por estarmos cheios ou entulhados de outras coisas… e as
pessoas já não cabem…
Recentemente
a ‘Caritas’ nacional fez-se eco das dificuldades e das complicações de largos
milhares de pessoas que solicitam ajuda nas rendas de casa: entre março de 2020
e fevereiro de 2021, mais de dez mil pessoas (acima de três mil famílias)
procuraram ajuda, perfazendo mais de duzentos mil euros…
* Ter casa – é antes de tudo um espaço onde
a pessoa se deve sentir bem, com privacidade e num ambiente que seja acolhedor,
sereno e pacífico. Através da casa onde vivemos, mostramos muito daquilo que
somos. A nossa casa revela-nos muito para além daquilo que julgamos…
* Viver numa determinada morada – dizer onde se tem a morada
chegou a ser um dos itens identificativos da apresentação de uma pessoa perante
os outros: quem é, o que faz e onde mora... A rua, o bairro, a zona, a região
onde se habita também diz muito daquilo que, em cada um de nós, é feito pelo
ambiente e pela cultura circundante… Mais do que uma bolha social, onde moro
manifesta-me aos outros.
* Situar-se num certo lugar – sou aquilo onde nasci, fui
educado pelos espaços por onde andei e manifesto, sem me dar conta, a
envolvência onde estou…Sem outros filtros revelo-me onde vivo, com quem me
relaciono e mesmo pelo faço (ou não). Não sou neutro, mesmo que disso
pretendesse disfarçar.
Efetivamente
a habitação é a minha melhor identidade, que me faz ser o que sou ou estar onde
estou!
António Sílvio Couto
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