Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

‘Memórias do rio’


 Decorreu, no passado dia 1 de dezembro, na biblioteca municipal da Moita, um colóquio intitulado – ‘Memórias do rio’ – sobre vivências de antanho em ligação ao Rio Tejo. Escutaram-se testemunhos de homens com larga e longa história de vida e ainda ressonâncias de uma delegação dos avieiros de Santa Iria da Azóia, bem como leituras e interpelações do pároco da Moita.

Foram intensos momentos de partilha e onde se notou mais do que laivos de revivalismo, sendo, no caso dos avieiro, destacado o papel da mulher no contexto das atividades ligadas ao rio e à gestão da família.

O quadro evolutivo de um dos participantes, hoje com mais de noventa anos, na relação com o trabalho no rio, a depuração das ostras ou a ‘emigração’ dos avieiros para a zona norte do Tejo bem como a arte de construção das velas para os barcos típicos do rio, foram aspetos escutados por algumas dezenas de interessados, sobretudo procedentes das freguesias do Gaio-Rosário, Moita ou Sarilhos Pequenos.

Foi abordada ainda a ‘religiosidade com sabor a sal’, na linha do ‘Stella maris’ ao nível internacional e nacional. Nesse contexto foi feita uma observação sobre o brasão do município da Moita, onde não consta nada alusivo à relação concelhia com o Tejo (só aparecem referências ao mundo rural: sobreiro e uvas), enquanto as ‘armas’ das três freguesias da paróquia da Moita realçam esse aspeto de forma clara (barcos, utensílios marítimos e alusão à água)... Afinal, como se diz numa inscrição na zona do cais da Moita: ‘nesta terra quem não cava, já cavou; quem não rema, já remou’!

Como conciliar mentalidades?

A realidade socio-cultural da Moita talvez não tenha apreciado, valorizado nem favorecido devidamente a sua relação com o rio. Se em tempos foi factor de trabalho e de sobrevivência para alguns setores – diga-se, os mais pobres – nas últimas décadas o desfasamento parece mais acentuado. Se bem que aquela frase epiteto supra citada como que conglomera as duas vertentes socio-económicas – o campo (cavar) ou o rio (remar) – não foi tido o cuidado necessário e suficiente para com a dimensão marítima. Talvez seja digno de registo – atendendo às pessoas presentes no colóquio efetuado – e deva ser dito que se nota um razoável hiato geracional: bastante velhos e gerações na barreira de menos de vinte anos, sem esquecer os filhos daqueles que viveram das coisas do rio.

É neste sentido de recolocar o rio como ponto de referência na cultura da Moita que o emergente grupo do ‘Stella maris’ pretende acolher, motivar e dinamizar as pessoas para com este amigo nem sempre bem tratado, que é o Rio Tejo.

Como se dizia num panfleto difundido por ocasião deste colóquio que «são âmbitos de ação do Stella Maris – Moita do Ribatejo as pessoas e organizações ligadas ao mar e aos rios, seja ao nível profissional (marinha mercante ou pesca) bem como às atividades desportivas, lúdicas e de lazer e ainda as agremiações de defesa e conservação do mar e dos rios, ajudando a promovendo uma maior sensibilidade ecológica. O atendimento às famílias das pessoas envolvidas nestes sectores. A promoção e o acompanhamento das atividades com aplicações culturais e religiosas de índole marítimo e fluvial».

Este primeiro colóquio promovido pelo ‘Stella maris’ da Moita prosseguirá em breve com outros temas ligados ao rio, onde a ecologia, o ambiente e os desportos náuticos e de recreio poderão estar em análise.

De referir que o grupo do ‘Stella maris’ da Moita tem por patrono São Pedro Gonçalves Telmo (São Telmo), protetor dos navegantes.



António Silvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário