Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Nada (nem ninguém) deve ser levado a sério?


 Seguindo um princípio básico da comunicação – social e não só – ‘aquilo que não é mostrado não existiu’. Ora, será que aquilo que é noticiado é o mais necessário e conveniente? O que é escrito é, de facto, verdade? Quanto aparece na televisão é válido para a vida – social, económica, política ou religiosa – mais essencial? Até onde podemos levar a sério aquilo que nos mostram? Não haverá muita efabulação – no sentido de exagero ou mesmo de quase-mentira – naquilo que aparece nas redes sociais? Até onde irá o resguardo das pessoas quanto àquilo que são ou que pretendem fazer os outros crer?  

 1. Não sou consumidor de telenovelas e tão pouco acho que possam fazer algo de válido pela ‘educação’ do povo, mas que podem fazer-nos correr alguns riscos, estou minimamente consciente. Poderemos inserir isso a que pretendem chamar de ‘entretenimento’ nalgumas linhas-força para uma possível reflexão: retratam a sociedade ou influenciam-na? Servem os interesses ideológicos ou veiculam ideias subliminares posteriores? Criam dependências ou fazem pensar? São emocionais ou do âmbito intelectual?

Por ser um retrato algo burlesco de algumas figuras da vida social, que dizer de ‘Festa é festa’…antes ou agora? Os políticos serão todos como os que por lá deambulam, num misto de parvo e quase-mentecapto? Os padres são aquilo que ali mostram, numa espécie de bonacheirão sem coluna? Os médicos reveem-se naqueles ali apresentados, sem qualidade nem mérito? As famílias serão todas tão ignóbeis e insanas? Os jovens não mereciam outro tratamento menos anódino? Os comerciantes ou vendedores usarão todos dos mesmos artifícios? Os velhos e anciãos serão dignificados com tais figuras rasteiras e oportunistas?

Dá a impressão que nada nem ninguém é sério (honesto ou leal) nem pode ser levado a sério (vive numa representação), mas a vida normal não é aquilo…nem será.

 2. Neste tempo assaz caraterizado pelo ‘faz-de-conta’ e ainda pelo espreitar pela fechadura nas redes sociais da vida alheia, podemos e devemos questionar os valores e os critérios com que tantas pessoas se conduzem. - Aquilo que os jornais regionais e de âmbito local faziam, está, hoje, como que posto em causa pelos ‘repórteres’ populares, enxameando de populismo pequenos episódios, alguns acontecimentos e quase-ridículos atores…

- Aquilo que era feito pelos jornais regionais, há trinta ou quarenta anos atrás, como que tem sido varrido para debaixo do tapete da informação avalizada como suspeitas, conjeturas e acusações, lançando o labéu sobre quem não alinha em tais artimanhas.

- Com que facilidade vemos emergirem certos ‘patos-bravos’, que de microfone em riste, tentam que lhes digam aquilo que foi encomendado – até para manter o share – ou que lhes foi soprado por algum mais ressabiado que pode colocar de atalaia outros incautos. Certos temas cheiramo-los a quilómetros como matéria suscetível de flutuar durante uns dias, sem honra nem glória… De ‘nação valente’ temos ali muito pouco e de ‘imortal’ mesmo nada.

 3. Decorridos mais de seiscentos dias (igual ou superior a vinte meses) de vigência da pandemia nota-se uma conglomeração de fatores que fazem deste tempo algo apreensivo, inquietante ou à procura de paz.

- Parece que o ‘covid-19, afetou a moleirinha de uma parte significativa das pessoas, tornando-as apreensivas sobre o seu teor de saúde e um pouco não-recomendável sobre a apreciação das situações pessoais e coletivas…simples ou mais complexas.

- Quem ontem parecia equilibrado, hoje precisa de consulta urgente no psicólogo. Quem há meses entendia os problemas, hoje fá-los tão graves ou quase-irresolúveis. Quem ontem nos dava segurança, hoje precisa de se sentir seguro ou, pelo menos, segurado.

- Como sempre em maré de crise é preciso que surjam pessoas capazes de saberem transmitir a paz, não como questiúncula de equilíbrio dos medos, mas como participação na confiança de todos para com todos, sem discriminações nem abandonos ou fugas.

Levar a sério os outros poderá ser a melhor forma de sermos construtores de um tempo mais cristão, já.

 

António Sílvio Couto      

Sem comentários:

Enviar um comentário