Seguindo um princípio básico da comunicação – social e não só – ‘aquilo que não é mostrado não existiu’. Ora, será que aquilo que é noticiado é o mais necessário e conveniente? O que é escrito é, de facto, verdade? Quanto aparece na televisão é válido para a vida – social, económica, política ou religiosa – mais essencial? Até onde podemos levar a sério aquilo que nos mostram? Não haverá muita efabulação – no sentido de exagero ou mesmo de quase-mentira – naquilo que aparece nas redes sociais? Até onde irá o resguardo das pessoas quanto àquilo que são ou que pretendem fazer os outros crer?
Por ser um retrato algo
burlesco de algumas figuras da vida social, que dizer de ‘Festa é festa’…antes
ou agora? Os políticos serão todos como os que por lá deambulam, num misto de
parvo e quase-mentecapto? Os padres são aquilo que ali mostram, numa espécie de
bonacheirão sem coluna? Os médicos reveem-se naqueles ali apresentados, sem
qualidade nem mérito? As famílias serão todas tão ignóbeis e insanas? Os jovens
não mereciam outro tratamento menos anódino? Os comerciantes ou vendedores
usarão todos dos mesmos artifícios? Os velhos e anciãos serão dignificados com
tais figuras rasteiras e oportunistas?
Dá a impressão que nada nem
ninguém é sério (honesto ou leal) nem pode ser levado a sério (vive numa
representação), mas a vida normal não é aquilo…nem será.
- Aquilo que era feito pelos
jornais regionais, há trinta ou quarenta anos atrás, como que tem sido varrido
para debaixo do tapete da informação avalizada como suspeitas, conjeturas e
acusações, lançando o labéu sobre quem não alinha em tais artimanhas.
- Com que facilidade vemos
emergirem certos ‘patos-bravos’, que de microfone em riste, tentam que lhes digam
aquilo que foi encomendado – até para manter o share – ou que lhes foi soprado
por algum mais ressabiado que pode colocar de atalaia outros incautos. Certos
temas cheiramo-los a quilómetros como matéria suscetível de flutuar durante uns
dias, sem honra nem glória… De ‘nação valente’ temos ali muito pouco e de
‘imortal’ mesmo nada.
- Parece que o ‘covid-19,
afetou a moleirinha de uma parte significativa das pessoas, tornando-as
apreensivas sobre o seu teor de saúde e um pouco não-recomendável sobre a
apreciação das situações pessoais e coletivas…simples ou mais complexas.
- Quem ontem parecia
equilibrado, hoje precisa de consulta urgente no psicólogo. Quem há meses
entendia os problemas, hoje fá-los tão graves ou quase-irresolúveis. Quem ontem
nos dava segurança, hoje precisa de se sentir seguro ou, pelo menos, segurado.
- Como sempre em maré de crise
é preciso que surjam pessoas capazes de saberem transmitir a paz, não como
questiúncula de equilíbrio dos medos, mas como participação na confiança de
todos para com todos, sem discriminações nem abandonos ou fugas.
Levar a sério os outros poderá
ser a melhor forma de sermos construtores de um tempo mais cristão, já.
António Sílvio Couto
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