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segunda-feira, 3 de maio de 2021

Promoção ardilosa do cravo…vermelho

 


Por ocasião das comemorações do ’25 de abril’ contou-se aquilo que tinha sido guardado como uma espécie de mito do ‘cravo vermelho’ associado àquela revolução. Foram novamente reproduzidas umas declarações daquele que é considerado o executor da peleja.

Aquando da manhã da revolução, passando pelo Rossio (Lisboa), eram distribuídas flores – sobretudo cravos sobrantes do aniversário de um restaurante nas redondezas – de várias cores, entre os quais vermelhos. Só estes foram destacados pelas fotografias da comunicação social, por haver nessa coloração alguma afinidade, dizem, com a esquerda.

Este breve depoimento foi relembrado num programa televisivo há dias, reproduzindo as declarações do guia-militar no terreno… Embora se tenha ouvido isso de viva voz, ainda houve quem quisesse considerar que tal não era tão credível como as estórias que nos têm vindo a impingir… neste quase meio século!

A difusão do cravo vermelho no cano da espingarda teve, segundo histórias desencantadas na memória, na receção aos carros de combate no mesmo local do episódio referido, pois, uma senhora não tendo um cigarro, pedido pelo soldado na chaimite, deu-lhe o que tinha: flores, que ela foi distribuindo pelos restantes militares, imitadores do primeiro e que colocaram a flor nas armas…E, se a senhora, de facto, fumasse?   

À vista desta explicação-narrativa poderemos considerar que a ‘revolução de abril de 74’ – efetiva e afetivamente – aloja vários arquétipos – inventados, cultivados ou explorados – a cuja sombra se acolhem conotações nem sempre abonatórias daqueles que delas se apropriaram, ontem e também hoje.

A quem interessa continuar a laborar nesta mentira e com estas patranhas? A quem serve uma tal comunicação social com tiques de não-independência, hoje como ontem? Por que se cultiva esta censura de factos e de situações, maquilhando-os com os mesmos retoques anteriormente contestados?

 = Brevemente celebraremos o ‘dia mundial das comunicações sociais’ (16 de maio). O tema deste 55.º dia mundial é: ‘vem e verás’ (Jo 1, 46). Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são’.

«Numerosas realidades do planeta – e mais ainda neste tempo de pandemia – dirigem ao mundo da comunicação um convite a «ir e ver». Há o risco de narrar a pandemia ou qualquer outra crise só com os olhos do mundo mais rico, de manter uma «dupla contabilidade». Por exemplo, na questão das vacinas e dos cuidados médicos em geral, pensemos no risco de exclusão que correm as pessoas mais indigentes. (...) Na comunicação, nada pode jamais substituir, de todo, o ver pessoalmente. Algumas coisas só se podem aprender, experimentando-as. Na verdade, não se comunica só com as palavras, mas também com os olhos, o tom da voz, os gestos. (...) Os discípulos não só ouviam as suas palavras, mas viam-No falar (...). A palavra só é eficaz, se se «vê», se te envolve numa experiência, num diálogo. Por esta razão, o «vem e verás» era e continua a ser essencial.

Pensemos na quantidade de eloquência vazia que abunda no nosso tempo, em todas as esferas da vida pública, tanto no comércio como na política (...) A boa nova do Evangelho difundiu-se pelo mundo, graças a encontros pessoa a pessoa, coração a coração: homens e mulheres que aceitaram o mesmo convite – «vem e verás» –, conquistados por um «extra» de humanidade que transparecia brilhou no olhar, na palavra e nos gestos de pessoas que testemunhavam Jesus Cristo».

 1. A quem interessa a notícia fabricada pela agência ou na redação? A quem pode responder uma suspeita do facebook não confirmada com a realidade? A quem convém mais o locutor do que o repórter? Tenho para comigo que, naquilo que conhecemos há tanta falcatrua, o que será onde não podemos confirmar o noticiado?

2. Quem ainda não viu que a uniformidade noticiosa esconde a preguiça na busca dos casos a tratar? Quem ainda não percebeu que tanto daquilo que vemos e ouvimos é pago com benefícios e protagonismos? Quem ainda não descobriu agora que estão a ser usados os mesmos métodos dos acusados pré-absolvidos?

3. Como dizia na sua quase-inocência um candidato presidencial: será que a maioria dos que fazem a comunicação conhecem a variações climatéricas reais para além das que lhes apresentam para ler? A quem interessa surgir em roupagem leve se está frio ou encapotado se o sol escalda? Os cravos podem ser tingidos!       

 

António Sílvio Couto

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