Tem proliferado no meio artístico uma corrente de
denúncia sobre pessoas – normalmente de estatuto dito superior – que não terão
respeitado outras, isto é, exercendo assédio… umas vezes referido como sexual,
outras sob o âmbito profissional ou mesmo social.
Foi este movimento apelidado de ‘me too’ (eu também),
desde finais de 2017, onde várias pessoas – em especial do mundo do cinema, do
teatro, da música, etc. – fizeram emergir casos de assédio sexual e, nalguns
casos mesmo de abusos.
1. Sobretudo áreas que lidam com o sigilo profissional
podem – e em muitos casos vivem – ser confrontadas com assédios de vária ordem.
Refiro-me aos padres, médicos/enfermeiros, jornalistas, advogados… Poderia ter
escolhido enumerar campos de atividade, mas preferi salientar os que exercem
essas atividades, pois é sobre eles, como pessoas concretas, que tal acontece,
tomando os mais díspares contornos, situações ou quase disfarces. A isto
designaria uma espécie de movimentação ‘so
too’ (também eu)…para denunciar, esclarecer ou combater quem, mais vezes do
que seria desejável, não respeita quem escuta e/ou engole, gratuitamente,
desabafos alheios…
2. Nalgumas circunstâncias o alcance do sigilo
profissional como que faz calar algo que condiciona o trato com as pessoas.
Tenho por adquirido – a partir da minha experiência ‘profissional’ – que se nós
respeitamos escrupulosamente o segredo, nem sempre se poderá dizer o mesmo de
quem nos contata. Com efeito, como se sabe algo que nos foi dito, senão fomos
nós a divulgá-lo? Ou como se poderá saber o que dissemos, em consciência, como
conselho e que outros o saibam de forma tácita ou mais ou menos explícita? Como
atender e entender quem nos procura e não respeita a equidistância entre quem
fala e quem escuta?
3. Muito mal iria o nosso relacionamento como pessoas, se
alguém ousasse chantagear outrem, pela simples razão de lhe ter confiado
particularidades da sua vida. Há, no entanto, indícios de que algo começa a
desviar-se dessa confiança mútua. Nesta época propensa a falar de tudo e do
resto sem o mínimo da respeitabilidade – dos assuntos, das pessoas com quem se
fala ou mesmo do modo como as questões são tratadas – haverá, de verdade,
confidencialidade entre as pessoas? Não ocorrerá algum modo de divulgação
(gravado, filmado ou até transmitido) sem autorização? Não ocorrerá a tentação
de entalar o interlocutor, expondo o que é dito?
4. A título de exemplo deixo uma anotação da minha área
de intervenção. Dizia alguém com sabedoria e prudência que os padres não são
assediados (procurados, tentados ou adulados) por serem meramente homens mais
ou menos bonitos (segundo certos conceitos – ‘bonito’ nalgumas terras chama-se
ao boi a tourear), mas por serem padres, isto é, são matéria que o mal procura
para fazer cair e com isso causar mais escândalo e, porque não, mal à Igreja.
Repare-se nos encómios tecidos para com um padre – tenha ou não as qualidades
para quem tal enfatiza – e com que velocidade é esquecido, quando se estatela e
deixa o ministério! Não será isto, artimanhas do mal?
5. ‘So too’
(também eu) quero denunciar com toda a veemência os ardis que são lançados
em situações de conflitualidade nos meios paroquiais. Com que habilidade se
espoleta um problema e com que lentidão se tenta resolver. Com que sagacidade
se extremam posições e com que morosidade se concertam as opiniões. Com que
propaganda se divulga algo de mal e com que estranheza não se veem os
desmentidos.
6. Recordo com boa memória aquilo que, um dia, me foi
advertido, lendo-o no evangelho: ‘ sede prudentes como as serpentes e simples
como as pombas’… não ao contrário ou as simples pombas entrariam pela boca da
sagaz e subtil serpente!
António Sílvio Couto
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