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quarta-feira, 12 de maio de 2021

‘So too’ – em jeito de denúncia

 


Tem proliferado no meio artístico uma corrente de denúncia sobre pessoas – normalmente de estatuto dito superior – que não terão respeitado outras, isto é, exercendo assédio… umas vezes referido como sexual, outras sob o âmbito profissional ou mesmo social.

Foi este movimento apelidado de ‘me too’ (eu também), desde finais de 2017, onde várias pessoas – em especial do mundo do cinema, do teatro, da música, etc. – fizeram emergir casos de assédio sexual e, nalguns casos mesmo de abusos.

 1. Sobretudo áreas que lidam com o sigilo profissional podem – e em muitos casos vivem – ser confrontadas com assédios de vária ordem. Refiro-me aos padres, médicos/enfermeiros, jornalistas, advogados… Poderia ter escolhido enumerar campos de atividade, mas preferi salientar os que exercem essas atividades, pois é sobre eles, como pessoas concretas, que tal acontece, tomando os mais díspares contornos, situações ou quase disfarces. A isto designaria uma espécie de movimentação ‘so too’ (também eu)…para denunciar, esclarecer ou combater quem, mais vezes do que seria desejável, não respeita quem escuta e/ou engole, gratuitamente, desabafos alheios…

 2. Nalgumas circunstâncias o alcance do sigilo profissional como que faz calar algo que condiciona o trato com as pessoas. Tenho por adquirido – a partir da minha experiência ‘profissional’ – que se nós respeitamos escrupulosamente o segredo, nem sempre se poderá dizer o mesmo de quem nos contata. Com efeito, como se sabe algo que nos foi dito, senão fomos nós a divulgá-lo? Ou como se poderá saber o que dissemos, em consciência, como conselho e que outros o saibam de forma tácita ou mais ou menos explícita? Como atender e entender quem nos procura e não respeita a equidistância entre quem fala e quem escuta?

 3. Muito mal iria o nosso relacionamento como pessoas, se alguém ousasse chantagear outrem, pela simples razão de lhe ter confiado particularidades da sua vida. Há, no entanto, indícios de que algo começa a desviar-se dessa confiança mútua. Nesta época propensa a falar de tudo e do resto sem o mínimo da respeitabilidade – dos assuntos, das pessoas com quem se fala ou mesmo do modo como as questões são tratadas – haverá, de verdade, confidencialidade entre as pessoas? Não ocorrerá algum modo de divulgação (gravado, filmado ou até transmitido) sem autorização? Não ocorrerá a tentação de entalar o interlocutor, expondo o que é dito?

4. A título de exemplo deixo uma anotação da minha área de intervenção. Dizia alguém com sabedoria e prudência que os padres não são assediados (procurados, tentados ou adulados) por serem meramente homens mais ou menos bonitos (segundo certos conceitos – ‘bonito’ nalgumas terras chama-se ao boi a tourear), mas por serem padres, isto é, são matéria que o mal procura para fazer cair e com isso causar mais escândalo e, porque não, mal à Igreja. Repare-se nos encómios tecidos para com um padre – tenha ou não as qualidades para quem tal enfatiza – e com que velocidade é esquecido, quando se estatela e deixa o ministério! Não será isto, artimanhas do mal?

 5. ‘So too’ (também eu) quero denunciar com toda a veemência os ardis que são lançados em situações de conflitualidade nos meios paroquiais. Com que habilidade se espoleta um problema e com que lentidão se tenta resolver. Com que sagacidade se extremam posições e com que morosidade se concertam as opiniões. Com que propaganda se divulga algo de mal e com que estranheza não se veem os desmentidos.

 6. Recordo com boa memória aquilo que, um dia, me foi advertido, lendo-o no evangelho: ‘ sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas’… não ao contrário ou as simples pombas entrariam pela boca da sagaz e subtil serpente!     


António Sílvio Couto

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