É um gesto recorrente na ação da Igreja, tanto na liturgia, como na vida eclesial e mesmo com fundamentação bíblica assaz referida, como expressão evocativa do poder de Deus e também invocativa do Espírito Santo, a imposição das mãos.
Antes de mais poderá ser-nos útil fazer uma referência ao significado da
mão ou das mãos no trato do nosso dia-a-dia. Citando um biblista: «A mão simboliza uma ação ou uma obra e encerra a magia do coração; por isso
transmite os seus sentimentos. As mãos amam, falam (por gestos) e acariciam,
tocam e deixam-se tocar; as mãos tranquilizam e agridem, desejam e repelem;
comunicam amor e agressão, serviço e domínio sobre o outro. Por isso a nossa
língua [o
português] é rica em expressões acerca da
mão.
No que se refere a Deus, a mão
direita simboliza a proteção, o poder criador e providente, que liberta o seu
povoe o acompanha pelo deserto, castigando os inimigos com a mão esquerda para
o proteger. As mãos impostas sobre alguém transmitem poder ou o Espírito Santo.
As mãos levantadas são símbolo de um coração suplicante que sobe até Deus. No
mundo, Jesus tornou-se a mão de Deus Pai estendida a todos os pequeninos e
pecadores. Com a sua mão Ele acaricia as crianças, consola os tristes, acolhe e
cura os doentes, perdoa os pecadores» – Herculano Alves, ‘Símbolos na Bíblia’, Lisboa:
Difusora Bíblica, 2011, p. 205.
Que
dizer, então, da imposição das mãos: quantas vezes aparece a expressão na
Bíblia? Tem o mesmo significado no Antigo como no Novo Testamento? No uso neotestamentário
haverá algo que devíamos recuperar, hoje, na Igreja? Será lícito, correto e
oportuno, os leigos recorrerem à imposição das mãos? Haverá ou poderá haver
situações não-recomendáveis à imposição das mãos?
Em 1 Tm 5,22, São Paulo faz uma advertência sobre o modo
e em que condições se pode fazer a imposição das mãos: «não imponhas as mãos a
ninguém precipitadamente, nem te tornes cúmplice de pecados alheios.
Conserva-te puro». Esta prevenção pretendia acautelar quanto à possibilidade de
ordenar ministerialmente alguém de forma indevida.
Mas não poderá esta mesma advertência ser útil para com
algumas ‘quase-vulgarizações’ da imposição das mãos, em círculos onde este modo
de proceder se tem vindo a tornar mais habitual? Será tolerável que, por tudo
ou quase nada, se recorra à imposição das mãos como acontece em certos grupos
eclesiais? Haverá condicionamentos relevantes à imposição das mãos? Terá esta o
mesmo valor feita por um eclesiástico ou por um leigo/a, mesmo que dotado, reconhecidamente,
de dons e de carismas? Haverá riscos e/ou perigos que devam ser atalhados antes
que tenham de ser corrigidos?
De forma sucinta vamos tentar aflorar esta redescoberta
de oração, pela imposição das mãos, nos tempos mais recentes, na Igreja
católica. Com efeito, pelo acontecimento do novo Pentecostes, que temos estado
a viver desde 1967 – data do ‘surgimento’ do Renovamento Carismático na Igreja
católica – e como graça também do Concilio Vaticano II, tem – não gostaria de
escrever num tempo verbal passado – vindo a crescer a consciencialização da
presença, da ação e da condução do Espírito Santo… nas pessoas e nas
comunidades, sendo estas renovadas pela conversão daquelas.
Terá de haver um suficiente bom senso – também dito de
discernimento – por quem seja solicitado para que se possa impor as mãos, seja
em modo de intercessão, seja em modelo de oração no ‘batismo no Espírito’, seja
ainda em questões de âmbito espiritual ou mesmo em circunstâncias de índole
comunitária e/ou de confiança em situações específicas.
Será sempre de avisada prudência que a imposição das mãos,
em contexto católico e de Igreja, não se confunda com gestos nem palavras e tão
pouco simulações pouco abonatórias da credibilidade do ato e até do equilíbrio
dos diversos intervenientes… A confusão ou a mistura não será de Deus nem
abençoada…
Uma breve sugestão, passível de ser critério sério, que
haja sempre a presença da Palavra de Deus, pela leitura bíblica, de modo a que
seja Deus a intervir e não os meros fatores humanos…a que podemos estar
submetidos.
Rezemos uns pelos outros e confiemo-nos à oração mútua e
comunitária…mesmo pela imposição das mãos,
António Sílvio Couto
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