Conta-se
de um eclesiástico fervoroso adepto do clube mais recentemente vencedor do
‘taça de Portugal’ em futebol masculino que ia para o velho estádio da cidade
sempre rodeado de rapazes bastante novos, uns dizem que estes iam dependurados
na sotaina e entravam para ver os jogos de graça, outros referem ainda que
levava os bolsos da batina cheios de rebuçados, que ele dava aos miúdos sempre
que o árbitro fazia alguma asneira em desfavor do seu clube, dizendo: chama-lhe tu (algum palavrão mais
inapropriado), que eu não posso… e lá
ia distribuindo os rebuçados ao longo do jogo…
Por
outro lado, gostaria de trazer à liça essa figura algo ficcionada (ou não
tanto) que nos aparece nos livros de Eça de Queirós: um tal pascácio – rótulo
entre o emblemático e o bizarro – que servia na literatura queirosiana para
caraterizar o ‘conde de Abranhos’…um habilidoso, que saído da província, foi
fazendo furor na capital, sobrevivendo num misto de oportunismo e de
faz-de-conta, já em meados do século dezanove, nos meios políticos do governo
emergente da carta constitucional…
1. Que têm estes ‘episódios’ quase
antagónicos a ver com a nossa condição atual? Que ligação poderemos encontrar
entre o clérigo nortenho e o pascácio lisboeta? Como poderemos identificar
situações similares na nossa conduta sócio-política-desportiva? Isso da
pascacilandia rege-se por algum regime subterrâneo…com ou sem avental e afins?
Os miúdos a vociferarem palavrões foram instrumentalizados naquele tempo ou
deambulam, hoje, em certos meios? Como poderemos ler/ver/interpretar certas reuniões
(chamem-lhe convenção, congresso ou sei lá o quê…) onde se fala mais de
ausentes do que daquilo que pretendem fazer os presentes? Será este um dos
requisitos da pascacilandia? Não andaremos a ser enganados com chilreios de mau
agouro?
2. Composto por duas palavras –
pascácio e lande – a pascacilandia seria, assim, um misto onde os pascácios –
isto é, tontos, cretinos, idiotas ou imbecis – têm uma ‘lande’ – isto é, terra,
espaço ou território…arenoso, inculto e pouco produtivo – sendo, deste modo a
terra/espaço/situação onde proliferam os pascácios, onde habitam sobretudo
pascácios, onde estes se sobrepõem ao resto dos outros…numa conjugação para que
possamos ser tomados todos por igual categoria…
3. Cada vez mais o nosso país se
está tornar uma pascacilandia onde parece que somos tratados como pascácios,
não já na classificação queirosiana, mas sob influência de quem julga que é
capaz de subverter as regras mesmo da convivência mínima social. Com efeito, à
semelhança do outro adepto de futebol que desejava invetivar os árbitros com
palavrões – agora até se diz ‘linguagem vernácula’ – mas, devido ao estatuto
social lhe ficava mal, então fazia dos miúdos à sua volta os porta-vozes do seu
descontentamento, assim vemos serem gastas horas a fio a atiçar os ouvintes
(militantes ou não) contra forças que consideram perigosas para eles, não
respeitando quem pensa diferentemente deles. Com tantos submissos pascácios
pensarão continuar a falar sem se responsabilizarem pelo que dizem nem a
assumirem os riscos incendiários das ações que protagonizam…
4. Espero que este espírito de
pascacilandia não atinja a alma da nação, pois seria o nosso colapso total. Nota-se
que há espalhados pelo nosso contexto nacional quem defenda mais os seus
apaniguados partidário-ideológicos do que quem é da sua nacionalidade. Com que
facilidade vemos que uns tantos deputados alinham posições mais com os da sua
cor – até no Parlamento Europeu – do que com os portugueses. Com eleitos destes
teremos de saber mais de quem se servem do que a quem servem.
5. Nesta pascacilandia em que temos
vindo a converter o nosso país, há profetas da desgraça que parecem conjugar,
em vários tempos e diversas circunstâncias, o princípio do ‘quanto pior,
melhor’, pois do pântano poderá emergir a sua vitória…
Há boa
maneira de outros tempos mais utópicos dizemos: acordai!
António Sílvio Couto
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