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segunda-feira, 24 de maio de 2021

Coisas do reino da pascacilandia…

 


Conta-se de um eclesiástico fervoroso adepto do clube mais recentemente vencedor do ‘taça de Portugal’ em futebol masculino que ia para o velho estádio da cidade sempre rodeado de rapazes bastante novos, uns dizem que estes iam dependurados na sotaina e entravam para ver os jogos de graça, outros referem ainda que levava os bolsos da batina cheios de rebuçados, que ele dava aos miúdos sempre que o árbitro fazia alguma asneira em desfavor do seu clube, dizendo: chama-lhe tu (algum palavrão mais inapropriado), que eu não posso… e lá ia distribuindo os rebuçados ao longo do jogo…

Por outro lado, gostaria de trazer à liça essa figura algo ficcionada (ou não tanto) que nos aparece nos livros de Eça de Queirós: um tal pascácio – rótulo entre o emblemático e o bizarro – que servia na literatura queirosiana para caraterizar o ‘conde de Abranhos’…um habilidoso, que saído da província, foi fazendo furor na capital, sobrevivendo num misto de oportunismo e de faz-de-conta, já em meados do século dezanove, nos meios políticos do governo emergente da carta constitucional…

 1. Que têm estes ‘episódios’ quase antagónicos a ver com a nossa condição atual? Que ligação poderemos encontrar entre o clérigo nortenho e o pascácio lisboeta? Como poderemos identificar situações similares na nossa conduta sócio-política-desportiva? Isso da pascacilandia rege-se por algum regime subterrâneo…com ou sem avental e afins? Os miúdos a vociferarem palavrões foram instrumentalizados naquele tempo ou deambulam, hoje, em certos meios? Como poderemos ler/ver/interpretar certas reuniões (chamem-lhe convenção, congresso ou sei lá o quê…) onde se fala mais de ausentes do que daquilo que pretendem fazer os presentes? Será este um dos requisitos da pascacilandia? Não andaremos a ser enganados com chilreios de mau agouro?

 2. Composto por duas palavras – pascácio e lande – a pascacilandia seria, assim, um misto onde os pascácios – isto é, tontos, cretinos, idiotas ou imbecis – têm uma ‘lande’ – isto é, terra, espaço ou território…arenoso, inculto e pouco produtivo – sendo, deste modo a terra/espaço/situação onde proliferam os pascácios, onde habitam sobretudo pascácios, onde estes se sobrepõem ao resto dos outros…numa conjugação para que possamos ser tomados todos por igual categoria…

 3. Cada vez mais o nosso país se está tornar uma pascacilandia onde parece que somos tratados como pascácios, não já na classificação queirosiana, mas sob influência de quem julga que é capaz de subverter as regras mesmo da convivência mínima social. Com efeito, à semelhança do outro adepto de futebol que desejava invetivar os árbitros com palavrões – agora até se diz ‘linguagem vernácula’ – mas, devido ao estatuto social lhe ficava mal, então fazia dos miúdos à sua volta os porta-vozes do seu descontentamento, assim vemos serem gastas horas a fio a atiçar os ouvintes (militantes ou não) contra forças que consideram perigosas para eles, não respeitando quem pensa diferentemente deles. Com tantos submissos pascácios pensarão continuar a falar sem se responsabilizarem pelo que dizem nem a assumirem os riscos incendiários das ações que protagonizam…

 4. Espero que este espírito de pascacilandia não atinja a alma da nação, pois seria o nosso colapso total. Nota-se que há espalhados pelo nosso contexto nacional quem defenda mais os seus apaniguados partidário-ideológicos do que quem é da sua nacionalidade. Com que facilidade vemos que uns tantos deputados alinham posições mais com os da sua cor – até no Parlamento Europeu – do que com os portugueses. Com eleitos destes teremos de saber mais de quem se servem do que a quem servem.

 5. Nesta pascacilandia em que temos vindo a converter o nosso país, há profetas da desgraça que parecem conjugar, em vários tempos e diversas circunstâncias, o princípio do ‘quanto pior, melhor’, pois do pântano poderá emergir a sua vitória…

Há boa maneira de outros tempos mais utópicos dizemos: acordai!     

 

António Sílvio Couto

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