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segunda-feira, 10 de maio de 2021

Notícias de uma tal estrebaria…luxuriante

 


Por vezes as pessoas dizem coisas que deixam a manifesto aquilo que são, sobretudo se emitem juízos sobre outrem. Mais uma vez um moço da política se referiu a quem faz a comunicação social, que nem sempre lhe é agradável, como sendo ‘estrume’. Contestava algo que não lhe seria tão favorável como desejava.

Vem sendo recorrente ouvirmos, lermos e vermos responsáveis políticos no ativo (e não só) a vociferarem contra quem não lhes dá o valor que julgam ter: umas vezes fazem-no usando a comunicação social; noutros momentos aproveitam os microfones disponíveis e desancam nos adversários sem direito de resposta; outras vezes servem-se dos lugares que ocupam para ampliarem os egos nem sempre adulados ou promovidos; casos ainda denotam a perda do mínimo sentido de ridículo, se ainda fossem capazes de terem bom senso, correção e até discernimento…

 1. Poderá alguém questionar: quem é e onde se situa a tal estrebaria? Será esta uma imagem ou um retrato de algo que se vislumbra ainda de forma um tanto desfocada? Não andaremos a fazer chiqueiro de coisas menos conhecidas, enquanto o que se vê já tresanda? Valerá a pena valorizar declarações infelizes ou teremos de descortinar o que há de verdade, mesmo que dito a despropósito? O tal ‘estrume’ será de combustão controlada ou precisa de ser limpo a curto prazo?  

 2. Por estes dias tem vindo a ser introduzida no vocabulário social a palavra ‘transparência’. Só que, tanto quanto parece, cada um dá-lhe o significado que melhor deseja, em conformidade com os seus intentos e/ou pretensões. Casos há em que usar tal termo se torna uma forma mais ou menos subtil de ofender os adversários… Com efeito, certas contas precisam de maior transparência. Alguns atos de governo – quase sempre com o mesmo intérprete – estão sob a penumbra de denso nevoeiro. Medidas de combate à imigração continuam sob a alçada da mentira… surfando sobre um mar de irregularidades, mesmo que à custa da exploração de milhares de necessitados de pão e de paz.

 3. O espetáculo foi digno de ser visto. Alguém o considerou colocado entre a entrega dos ‘óscares’ – com passadeira não vermelha, mas azul – e o concurso da ‘miss universo’, onde as declarações de boas intenções tresandam a palavras de circunstância e ao nada feito… A dita ‘cimeira social’ da União Europeia serviu para ‘consagrar’ o que vale a Europa e o aproveitamento dos focos da comunicação social – essa a que apelidam de ‘estrume’ – para promover alguma da estrebaria luxuriante de serviço. Com efeito, não deixa de ser simbólico que a norte se pavoneiem uns tantos bem cheirosos, perfumados e galantes, enquanto a sul se escondem da vista milhares de imigrantes como que tinhosos de vírus, amontoados em casas insalubres e explorados por habilidosos transnacionais.

 4. Sobre a situação de Odemira-S. Teotónio-Almograve referiu, há dias, o bispo de Beja: “Isto não é uma coisa de agora. Rebentou agora, mas há uns cinco anos fiz uma visita pastoral a Odemira e visitei algumas dessas empresas e vi que havia esses problemas”. Segundo D. João Marcos tanto a paróquia de Odemira, como as dos outros locais, têm tentado ajudar a suprir as necessidades desses trabalhadores, mas “não têm capacidade para resolver um problema desta magnitude”. Conhecedora da realidade humana e social, à Igreja nem sempre lhe é dada a voz e a importância que tem e sobre a qual faz muito mais do que qualquer outra entidade… Desgraçadamente a Igreja conhece a estrebaria, cuida dela e, por vezes, suja-se sem proveito humano, mas Deus conhece… e recompensará!

 5. Os acontecimentos mais recentes sobre o ‘covid-19’ parecem alentadores de que a maré grave terá passado. No entanto, nada está conquistado e nem o processo de vacinação servirá de lenitivo, pois os cuidados devem continuar para que saiamos desta quase-estrebaria social, onde certos comportamentos parecem fazer perigar o esforço de todos nos meses anteriores. Sabemos que a cultura cívica nem sempre é a mais adequada. Por isso, continuemos nesta árdua tarefa de vencermos um inimigo sem rosto…na desgraça.  

 

António Sílvio Couto

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