Na
recente celebração do ‘dia mundial das comunicações sociais’, o Papa Francisco,
numa mensagem cheia de experiência de vida e acautelada pelo zelo de fazermos
melhor, como que traçou as linhas de referência disso que, na feitura de um
jornal ou de um noticiário radiofónico ou televisivo, poderá caraterizar as
funções do repórter e do redator, tanto nas atividades desenvolvidas como no
papel de relacionamento com o público – sujeito e/ou objeto – da comunicação.
Isto é
tanto mais agravado com um episódio – certamente não será um facto recorrente –
que envolveu um repórter sobre umas notas tiradas à velocidade de quem escuta…
e que passaram desapercebidas na redação…Esquecidas terão ficado ainda vírgulas
na redação de um texto legislativo, que, se tivessem sido incluídas, fariam
toda a diferença para a interpretação do pretendido.
Lancemos
os dados:
1. Da mensagem
do Papa: «Pensemos no grande tema da
informação. Há já algum tempo que vozes atentas se queixam do risco dum
nivelamento em «jornais fotocópia» ou em noticiários de televisão, rádio
e websites que são substancialmente
iguais, onde os géneros da entrevista e da reportagem perdem espaço e qualidade em
troca duma informação pré-fabricada, «de palácio», autorreferencial, que cada
vez menos consegue intercetar a verdade das coisas e a vida concreta das
pessoas, e já não é capaz de individuar os fenómenos sociais mais graves nem as
energias positivas que se libertam da base da sociedade. A crise editorial corre
o risco de levar a uma informação construída nas redações, diante do
computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair à
rua, sem «gastar a sola dos sapatos»,
sem encontrar pessoas para procurar histórias ou verificar com os próprios
olhos determinadas situações. Mas, se não nos abrimos ao encontro, permanecemos
espectadores externos, apesar das inovações tecnológicas com a capacidade que
têm de nos apresentar uma realidade engrandecida onde nos parece estar imersos.
Todo o instrumento só é útil e válido, se nos impele a ir e ver coisas que de contrário não chegaríamos a saber, se
coloca em rede conhecimentos que de contrário não circulariam, se consente
encontro que de contrário não teriam lugar».
Bem
observado, tanto mais que, quem anda na rua, vê, enquanto na redação se aveluda
ou agrava, conforme até o interesse editorial… Talvez haja muita preguiça no
meio da comunicação social, ‘trabalhando’ uns tantos por encomenda e outros
usufruindo da repetição quase-acrítica…agora como no passado!
2. Em tempos não muito recuados a
estenografia fazia parte da preparação de quem ia exercer a profissão de
secretariado. A estenografia é uma técnica de escrita com abreviaturas, tendo a
finalidade de ser tão rápida como se fala. Quem escreve tem de saber o código
no qual se exprime, podendo não ser totalmente entendível por outrem.
Talvez
tenha sido isso que aconteceu com uma ‘nota’ pretensamente racista de um jornalista
de uma agência noticiosa nos apontamentos tomados sobre uma tal comissão
parlamentar de revisão constitucional ao designar uma deputada segundo a
coloração da sua tez… Não houve filtro da redação? Deixaram passar por
distração ou propositadamente? Parece que o episodio veio mesmo a calhar para o
partido da dita deputada, pois, dias antes, um secretário de estado tinha
classificado de ‘estrume’ a comunicação de um outro órgão de informação… Por
sinal ambos os atingidos de comunicação – agência e televisão – são do mesmo
dono…o Estado, servidores, sobretudo, do governo!
3. A questão da vírgula tem permitido
ultrapassar ‘obrigações’ a alguns governantes. O decreto-lei 52/2019 de 31 de
julho refere-se ao regime do exercício de funções por titulares de cargos
políticos e altos cargos públicos. A questão da vírgula ou não, prende-se com a
declaração quanto às contas à ordem… Mais uma subtileza da nossa legislação,
propícia a recorrer a gabinetes de advocacia e entretendo-se com minudências,
enquanto o povo paga a fatura de não ser habilidoso em matéria judicial.
Honestidade,
precisa-se!
António Sílvio Couto
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