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sábado, 27 de julho de 2024

Temas de verão ou de devaneio?


 Como quase todos os anos, numa espécie de forma cíclica, os incêndios, os programas de diversão e as festas (regionais, locais ou setoriais), a mobilidade (férias ou turismo, viagens ou coisas do religioso), os acidentes e suas consequências, as transferências de jogadores do futebol e não só (com verbas escandalosas e quase inconcebíveis), uma espécie de suspense das lides político-partidárias dentro de fronteiras…num faz-de-conta de que todos estão em ritmo de férias ou usufruindo delas.

Este ano há, no entanto, um acontecimento que deveria ser de sublime envolvimento de todos, pelo significado, abrangência e historicidade do mesmo: os jogos olímpicos, em Paris. Mais do que a competição, com os resultados apurados (uns bons e outros dececionantes), importa reportarmo-nos todos ao espírito de não-agressão da sua originalidade.

1. As temáticas do verão correm o risco de serem ofuscadas pela canícula e as apelidadas alterações climáticas… Vivendo em hemisférios diferentes quase nos esquecemos que outros estão na fase de inverno e sujeitos a condições climatéricas opostas às nossas. Por vezes falta-nos memória para compreendermos fenómenos da natureza, que deixamos perder pela velocidade a que nos querem ritmar.

2. Questões de teor mais político continuarão implacavelmente a ser notícia: as guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, as eleições – só em novembro – nos Estados Unidos da América, os múltiplos conflitos no continente africano, ditos e factos de figuras, de personalidades ou de entidades… Nessa pretensa vivência global nem nos damos conta das tentativas globalísticas com que nos vão manipulando, a partir do nosso pequeno mundo. Há quem chame a este tempo de verão ‘silly season’ (literalmente: época ou estação palerma), isto é, em que as notícias são frívolas e ridículas para pessoas frívolas e sobre frivolidades… numa alusão a dar como importantes assuntos ou pessoas que de tal não têm nada…

3. O tempo de verão – como época de descanso e/ou de lazer, como etapa de reconfiguração pessoal ou familiar, como fase cultural e cívica – pode ter múltipla utilidade, assim soubéssemos aproveitá-lo. Com efeito, mais do que cuidar do corpo, pelos cuidados em fazê-lo bronzear ou de darmos mais atenção aos problemas da estética – essa ditadura de uma certa moda tipo questão iô-iô – seria, por certo, bem avisado dar espaço e oportunidade aos temas psicológicos e espirituais. Mal vai uma cultura ou uma sociedade se se limitar a cuidar e a dar promoção aos aspetos de índole meramente material, como parece ser a sociedade na qual, hoje, nos movemos e existimos. Enquanto virmos e sentirmos que as pessoas, na sua maioria, preferem o papel de embrulho ao conteúdo que é apresentado, estaremos a subverter a nossa identidade pessoal e comunitária.

4. Hoje como ontem os factos falam mais alto do que os argumentos e estes só servirão de alguma coisa, se explicarem corretamente aqueles. Mais do que um certo valor empírico podemos e devemos coadunar o que vivemos àquilo que pensamos, pois se for ao contrário corremos o risco de pensar como vivemos e não de vivermos como pensamos. Num tempo que se desenrola em grande parte movido por razões nem sempre acertadas com os valores do Evangelho, torna-se essencial discernirmos para onde vamos ou para onde queremos ir, tendo em conta que a água corre da fonte para a meta, numa simplicidade que essencialmente os simples captam, compreendem e vivem.

5. Num entendimento que seja sagaz e sábio deixaremos ser ajudados e ajudaremos quem de nós possa precisar a acertar com os critérios mais do Espírito do que da matéria, sem deixar que esta possa subjugar aquele, mas antes seja Ele a conduzi-la. Será que este verão poderá ser-nos útil para este processo de vida? Queira Deus que isto não seja um mero devaneio estival!



António Sílvio Couto

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