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segunda-feira, 22 de julho de 2024

Desmotivação: razões ou desculpa?

 

É algo que, desde muito novo, me interpela: quais as razões que nos levam a vermos pessoas a desmotivarem-se, quando, em tempos foram tão empreendedoras e com múltiplas ideias? Foi o tempo que as fez descair ou houve interferências não-explicáveis? Poderemos encontrar as causas sem com isso arranjarmos desculpas? Será possível assumirmos os nossos erros, falhas e pecados sem termos de envolver outros, direta ou tacitamente? A idade fará amadurecer ou ajudará no risco de desistir?

1. Conheci pessoas – digo-o, sobretudo, em referência a homens da Igreja – para o bem ou para o mal, que eram focos de dinamização e que com o passar do tempo e com a idade foram descaindo não nas forças só físicas, mas nos aspestos de dinâmica. Muitos deles foram pioneiros e quase-inovadores em certas áreas e matérias e, progressivamente, vimo-los a estiolar, entrando numa rotina algo atroz. Quantas vezes as dificuldades – interiores e exteriores – colocadas pelos outros foram ou são as barreiras mais ferozes para a prossecução de ideais.

2. Cada um de nós é quem é, tendo em conta as suas circunstâncias. Diz-se com alguma acuidade: mais vale cair em graça do que ser engraçado. Com efeito, este critério é suscetível de múltiplas diversidades, sendo a de coincidência de sucessões ser uma das mais simples. Por exemplo: alguém que era belicoso e criava atritos com os outros poderá ter como sucessor um outro menos dado a conflitualidades e este último terá melhor aceitação, mesmo que o anterior fosse mais capaz...humana e inteletualmente.

3. Neste contexto deixamos, mais uma vez, a estória dos anos de vida do homem/mulher:
Diz-se que, quando Deus criou o burro lhe queria dar trinta anos de vida sobre a terra, mas o burro só quis ficar com dez anos. Por seu turno, quando criou o cão, Deus quis conceder-lhe vinte anos de existência, mas o cão também só quis ficar com dez anos. Por outro lado, quando criou o macaco, Deus quis dar-lhe trinta anos sobre a terra, mas o macaco bastou-se com vinte anos.
Ao criar o homem, Deus disse-lhe que também só lhe dava trinta anos sobre a terra. Mas o homem retorquiu: Senhor, trinta anos é pouco. Dai-me os anos que os meus anteriores recusaram: os vinte anos que o burro não quis; os dez anos que o cão recusou, também os dez anos que o macaco rejeitou...e, assim, poderei viver, pelo menos, até aos 70 anos.
E Deus concordou. Por isso, até aos trinta anos o homem vive o tempo que Deus lhe concedeu. Dos 30 aos 50, é como o burro, carregando fardos para sustentar a família. Dos 50 aos 60 anos, é como o cão, passa a tomar conta da casa. Dos 60 aos 70, já cansado, vive de casa em casa, entre filhos, se os tiver, fazendo gracinhas, de quem todos riem, é como o macaco.

4. Desculpando a consonância com a idade de cada um de nós poderemos fazer um exame de consciência sobre a nossa conduta neste tempo que vivemos sobre a Terra, pois muito daquilo que nos é dado viver tem (ou pode ter) algo em conta com as expetativas com que nos conduzimos, mesmo no nosso dia-a-dia: guiados mais para a meta do que desde o ponto de partida temos mais de olhar para o que há ainda a percorrer do que ao já andado... o caminho se faz caminhando!

5. Quando se entra numa nova fase da vida em razão da mudança de espaço ou assumindo outras tarefas, é importante situar-se quanto aos lugares e às pessoas que Deus coloca no nosso caminho: são sempre sinais e guias da nossa caminhada.



António Sílvio Couto

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