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segunda-feira, 15 de julho de 2024

Novos na Europa, velhos na América?

 


Numa espécie de quase contrassenso vemos que na Europa – concretamente em França – os políticos concorrentes às últimas eleições andavam abaixo dos trinta anos, enquanto nos Estados Unidos da América os antagonistas à Casa Branca estão na barreira dos oitenta anos.

Num tempo em que a senectude é mais motivo de preocupação do que de júbilo ver a surgir ‘rapazes’ novos a candidatarem-se em França torna-se como que uma ousadia, tanto mais que o ‘inverno demográfico’ está a calcinar a velha Europa, cheia de tiques e de mazelas de uma decrepitude crescente.

1. Há dados que nos devem fazer refletir séria e urgentemente.
Em 1923 a esperança média de vida em Portugal era de 35 anos. Já em 2020 havia 2940 pessoas com idade acima dos 100 anos. A população idosa está a crescer mais de dois por cento por ano desde 2019. O número de pessoas com mais de 65 anos é agora superior aos 2,5 milhões. Um milhão de pessoas, no nosso país, vive sozinha e mais de meio milhão são idosos.
Há mais mulheres que homens, sendo que a partir do grupo etário dos 35 aos 39 anos as mulheres estão em maioria e que quanto maior for a faixa etária mais se verifica esta tendência: duas em cada três pessoas com mais de 84 anos é mulher.

2. A longevidade coloca várias questões: umas boas e outras bem mais difíceis de resolver. Se viver muitos anos é resultado de melhores cuidados de alimentação, de saúde, de habitação e mesmo de maior consciência das questões humanas e culturais, isso mesmo traz consigo problemas de sustentabilidade dos mesmos recursos de saúde, de cuidado com os mais velhos, de capacidade em que, num futuro próximo, haja meios de segurança social para todos...

3. Nota-se algum incómodo em certos setores da sociedade com este problema de se estender no tempo a vida de uma maior parte da população na medida em que surgem novos problemas, que não estavam previstos no guião de muitas subculturas. Atendendo à idade da (dita) reforma ou aposentação continua-se a pensar em critérios em que as pessoas morriam mais cedo e não era atingida a idade por agora vivida. Que irão fazer pessoas reformadas aos sessenta e cinco anos, se ainda têm capacidade de trabalhar? Naturalmente poderá ser o de encontrar outro emprego onde ocupem o seu tempo e isso lhes renda proventos maiores a curto e a médio prazo.

4. Será que este prolongamento da longevidade tem correspondência no interesse das populações mais novas? Não poderá acontecer o agravamento de um fosso ainda maior entre ‘novos’ e ‘velhos’? Segundo dizem, será a que a geração melhor preparada pela instrução já se apercebeu das responsabilidades – cívicas, culturais, de segurança social ou de saúde, ao nível espiritual – sobre os ‘seus’ mais velhos? Até que ponto os mais novos cuidam dos mais velhos, sabendo que estes são a marca do seu futuro garantido?

5. De facto, a leitura extrema (ou mesmo extremada) entre franceses e americanos pode e deve fazer-nos refletir, pois dessas duas culturas de um de do outro lado do Atlântico sempre nos vieram as tendências de caminho na nossa cultura ocidental. Se uns acentuam a procedência sobre os mais velhos, outros já o fizeram e agora surgem novos rostos para a interpretação da conduta dos povos. Como temos de estar atentos não às modas – políticas, ideológicas ou culturais – mas ao sentido por onde corre a História, nisso a que alguns classificam como a ‘filosofia da história’, isto é, os meandros por onde Deus nos conduz e O percebemos a passar.
Assim o consigamos discernir, agora!



António Sílvio Couto

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