Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 29 de julho de 2024

Provocantemente bacoco

 

A França laicista deu o melhor de si, quando, na abertura dos jogos olímpicos, nna sexta-feira, dia 26 de julho, quis incluir na dita abertura do evento apresentou uma rábula do quadro da ‘Última ceia’ de Leonardo da Vinci, usando uma drag queen ladeada de dançarinos...naquilo que queriam que fosse a réplica de uma passagem do deus grego do vinho e não uma alusão à cena cristã.

Passadas horas do acontecimento surgiram reações da paródia mais entendida como ato religioso cristão do que como encenação mitológica.

1. Por muito que desejem agora descartar-se da semelhança, aquilo que foi apresentado ofendeu quem é cristão e sobretudo quem não gosta de ver achincalhados os seus sinais e valores mais significativos. Num comentário simples e sincero um teólogo dominicano considerou que não mexeriam assim com Maomé. Nas reações espalhadas pelos diversos continentes gerou-se uma repulsa para com estes artistas que só olham às suas inspirações, pouco se importando com quem ofendem nas suas convicções.

2. De facto, a capacidade de ‘invenção’ artística tem vindo a denotar um vazio e um quase sem nexo, em muitos casos a roçar a ofensa e a provocação brejeira. Poderíamos considerar que esta aventura rocombolesca não passa de mais um episódio de mau gosto e de falta de qualidade. O recurso a elementos ‘lgtbq+’ são mais um degrau de quantos consideram que o cristianismo é visto como um factor de oposição às pretensões da ideologia de género, agora como que consagrado no contexto dos jogos olímpicos, como o foi já noutros eventos desportivos de grande expansão, como se deu no último mundial de futebol masculino... Pé-ante-pé se pretendem normalizar as exceções, querendo torná-las normais e recomendáveis.

3. A nota de repulsa dos bispos franceses, na manhã do dia seguinte à exibição daquela cena, dizia: “esperamos que eles entendam que a celebração olímpica se estende muito além das preferências ideológicas de alguns artistas”. Cá pela comentarice das nossas televisões logo emergiu a reação de uma certa senhora (não sei se merece este epíteto) a misturar este fait-divers dos olímpicos com as atrocidades da guerra em Gaza. Como se as coisas fossem do mesmo âmbito! Na sua douta intervenção quis trazer à liça outro quadro (‘a festa dos deuses’) que não o da última ceia. Por vezes nota-se – nesta como noutros comentadores das nossas televisões – uma razoável condescência ideológica, desde que coloque o cristianismo em situação depreciativa... Até quando teremos de aturar tais preconceitos?

4. Quem conhecer minimamente as condições históricas da evolução do cristianismo saberá que teve de enfrentar, tanto na cultura romana, quanto na civilização grega, confrontos idênticos a estes que estamos a vivenciar atualmente: a tendência ético-moral de descalabro familiar, os vários cultos idolátricos e panteístas, as vicissitudes políticas de quem se vendia e deixava comprar para estar no poder, um certo desmoronamento cívico de que os ‘jogos olímpicos’ eram uma espécie de hiato cultural com tempos ritmados pela aceitação de todos. Estamos – cristamente falando – um tempo de decadência e quase de insolvência do espiritual pelo materialismo. Desconhecer as causas não ajudará a combater as consequências: vivemos novamente numa época de ‘pão e jogos’ (panem et circenses), entretendo-nos como vulgaridades nem que para isso seja preciso depreciar os valores e os critérios com fundamento nas Escrituras Sagradas.

5. Não podemos deixar que tudo possa ser considerado igual. Se mexessem com símbolos e sinais de outros cultos religiosos, como os do islamismo, soaria outras reações. Precisamos de nos sentirmos ofendidos, defendendo os nossos sinais sagrados da fé cristã, onde a Última Ceia tem grande significado. Afinal, os traidores pululam noutras paragens. Até quando os vamos suportar sem nos salvaguardarmos do essencial?



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário