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quinta-feira, 11 de julho de 2024

‘Não te abandonarei’... dizemos aos idosos e/ou avós

 

É de origem portuguesa o início da comemoração do ‘dia dos avós’, celebrado a 26 de julho: uma senhora, com seis netos, octogenária da região de Penafiel, achou que não eram tido na devida conta os avós e sugeriu que fossem lembrados em conjunto no dia da memória litúrgica de São Joaquim e Santa Ana, a 26 de julho, considerados, segundo a tradição os pais de Nossa Senhora e, por conseguinte na linha humana, os avós de Jesus.
Desde há quatro anos, o papa Francisco transferiu a celebração do ‘dia dos avós’ para o domingo seguinte àquela data litúrgica. Este ano acontece a 28 de julho, com o tema - «Na velhice, não me abandones». Respigámos alguns pontos da mensagem papal.
 
- Segundo a Bíblia, é sinal de bênção poder envelhecer.
- Na Bíblia, encontramos a certeza da proximidade de Deus em todas as estações da vida e, simultaneamente, o temor do abandono, especialmente na velhice e nos períodos de sofrimento. Não se trata duma contradição. Se olharmos em redor, não teremos dificuldade em constatar como tais expressões espelham uma realidade bem evidente. A molesta companheira da nossa vida de idosos e avós é, com frequência, a solidão.
- Muitas são as causas desta solidão. Em tantos países, sobretudo nos mais pobres, os idosos vivem sozinhos porque os filhos foram obrigados a emigrar. Depois, nas numerosas situações de conflito, quantos idosos ficam sozinhos, porque os homens – jovens e adultos – tiveram de ir combater, e as mulheres, sobretudo as mães com crianças pequenas, deixam o país para dar segurança aos filhos. Nas cidades e aldeias devastadas pela guerra, permanecem sozinhos muitos idosos e anciãos, únicos sinais de vida em áreas onde parecem reinar o abandono e a morte.
- Se pensarmos bem, está hoje muito presente por todo o lado esta acusação, lançada contra os velhos, de «roubar o futuro aos jovens»; sob forma diversa, aparece mesmo nas sociedades mais avançadas e modernas (...) O contraste entre as gerações é um equívoco, um fruto envenenado da cultura do conflito. Opor os jovens aos idosos é uma manipulação inaceitável.
- Quando se considera que a solidão e o descarte dos idosos não são casuais nem inevitáveis, mas fruto de opções – políticas, económicas, sociais e pessoais – que não reconhecem a dignidade infinita de cada pessoa.
- Há hoje muitas mulheres e homens que procuram a própria realização pessoal numa existência tão autónoma e desligada dos outros quanto possível. A recíproca pertença está em crise, acentua-se o individualismo; a passagem do «nós» ao «eu» constitui um dos sinais mais evidentes dos nossos tempos. A família, que é a primeira e a mais radical contestação da ideia de nos podermos salvar sozinhos, é uma das vítimas desta cultura individualista.
- A solidão e o descarte tornaram-se elementos frequentes no contexto em que estamos imersos. Têm múltiplas raízes: nalguns casos, são o resultado duma exclusão planeada, uma espécie de triste «conjura social»; noutros, trata-se infelizmente duma decisão própria; noutros ainda, suportam-se fingindo que se trata duma opção autónoma. Cada vez mais «perdemos o gosto da fraternidade».
- Mantendo-se junto dos idosos, reconhecendo o papel insubstituível que eles têm na família, na sociedade e na Igreja, também nós receberemos muitos dons, tantas graças, inúmeras bênçãos.
- À atitude egoísta que leva ao descarte e à solidão, contraponhamos o coração aberto e o rosto radioso de quem tem a coragem de dizer «não te abandonarei!» e de seguir um caminho diferente.

* Mais do que lições moralistas desejamos, neste IV dia mundial dos avós e idosos, tomar mais consciência da larga fatia de pessoas mais velhas em Portugal. Em 1923 a esperança média de vida no nosso país era de 35 anos. Já em 2020 havia 2940 pessoas com idade acima dos 100 anos. A população idosa está a crescer mais de dois por cento por ano desde 2019. O número de pessoas com mais de 65 anos é agora superior aos 2,5 milhões.
* Um milhão de pessoas, no nosso país, vive sozinha e mais de meio milhão são idosos.
* Há mais mulheres que homens, sendo que a partir do grupo etário dos 35 aos 39 anos as mulheres estão em maioria, sendo que quanto maior for a faixa etária mais verifica esta tendência: duas em cada três pessoas com mais de 84 anos é mulher.



António Sílvio Couto

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