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quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Um em cada dez residentes é imigrante

Segundo um relatório da OCDE, intitulado ‘Perspetiva da migração internacional 2023’, um em cada dez cidadãos residentes em Portugal, no ano passado, nasceu no estrangeiro… num total de 1,1 milhões, isto é, 10,7% da população geral. Este dado acentua que, desde 2012, se verificou um acréscimo de 24 % de imigrantes no nosso país.

Por ordem decrescente a população imigrada é: brasileiros (um quarto do total), angolanos (14%), franceses (9%), seguindo-se depois indianos (e da região), alemães, belgas e ucranianos…

1. Há dados, no âmbito europeu, que vale a pena reter: no ano passado o número de migrantes que chegou aos países da OCDE (38 membros) foi de mais de seis milhões, excluindo os refugiados ucranianos. Esta cifra representa um aumento de 26% em relação a 2021 e de 14% quanto a 2019.

2. Perante estes dados temos de fazer uma séria reflexão, pois a chegada de tantos migrantes coloca-nos vários problemas, que se entrecruzam na origem e se complicam no terreno. A diversidade de procedências obriga a questionar as razões de terem escolhido o nosso país para se estabelecerem: vieram por que razão e com que objetivo? O leque de povos e de culturas que aqui chegaram terão o devido acolhimento e enquadramento social? Por que será que a maioria dos imigrantes obtém mais depressa o cartão de identificação fiscal e não o cartão de cidadão com residência? Não será que muitos dos imigrantes são mais carne de trabalho do que pessoas com direitos e deveres? A qualidade da nossa boa hospitalidade não terá sido substituída pela exploração sem pejo nem vergonha da maioria desses imigrantes? Trabalho, habitação, saúde e demais direitos serão bem geridos com justiça e de boa fé?

3. Num tempo de mobilidade temos de ser capazes de discernir este fenómeno de sermos cada vez mais procurados por povos e culturas tão diferentes. Parece que estamos, hoje, numa movimentação inversa do tempo das ‘descobertas’ do século XVI. Vejamos: a lista inclui povos que fomos à descoberta – brasileiros, angolanos, indianos… à mistura com a procura de gentes vindas da velha Europa – franceses, alemães e belgas – numa simbiose de culturas e de desafios a quem recebe. Temos a boa experiência da miscigenação de outras épocas, no entanto, as condições atuais são cada vez exigentes e teremos de ser capazes de ser e de estar sem perdermos a nossa identidade de nação.

4. Sobretudo quanto aos europeus – na lista aqui apresentada – fomos em antanho servi-los e ganhar dinheiro para conseguirmos melhores condições de vida há cerca de cinco décadas; agora são eles que nos procuram para usufruirem das regalias da reforma e de tempos de descanso…mandaram no passado e continuam a fazê-lo no presente. Os das ‘antigas descobertas’ vieram em busca de conseguirem suportar as famílias lá, de onde são procedentes. Estamos diante de um complexo processo do qual ainda não temos os dados bem assimilados.

5. Um dos aspetos mais relevantes para com os nossos emigrantes pelo mundo foi a capacidade da Igreja católica em destacar padres para acompanharem os nossos compatriotas. Muitas das vezes eram mesmo pagos pelo serviço prestado pelos Estados que os receberam. Esta forma de fazer foi aglutinando os nossos emigrantes em volta da religião e dando-lhes forma de estarem unidos lá fora.

Quanto aos imigrados aqui recebidos, tanto quanto se sabe, só os ucranianos é que têm tido algum suporte dado por padres da mesma língua e do seu rito, sendo da responsabilidade dos fiéis-leigos a sustentação dos seus ministros. As outras expressões linguísticas ou se integram nos espaços de linguajar português ou não há nada especificamente…

6. Dez por cento da população merece mais atenção do que tolerância e cobrança pelo trabalho feito! Mais de um milhão de imigrantes precisa de mais cuidado… cultural, ético e social.



António Sílvio Couto

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