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terça-feira, 10 de outubro de 2023

Da pasta à mochila…estilo ou mentalidade?

 

Num destes dias as imagens de entrada dos membros do governo para uma reunião de trabalho era, em todos, idêntica: cada um levava a tiracolo uma mochila para o convénio. Em tempos recuados era costume ver os senhores ministros transportarem os documentos ‘em pastas’, num arranjo e arrumação dos assuntos de modo visível. Agora os dignitários governativos mais parecem alunos a irem para a escola com as suas coloridas mochilas, sabe-se lá se carregadas de sonhos ou maceradas pelos insucessos… Isto será moda (estilo) de ‘eterna juventude’ ou mudança de mentalidade?

1. As ditas ‘malas’ à maneira diplomática foram, por agora, substituídas por mochilas onde não caberá mais do que um computador portátil (ou outro apetrecho eletrónico), de uso continuado. Foi-se vulgarizando esta imagem de vermos várias figuras – desde bispos até outras personagens do foro mais plebeu – de mochila às costas a caminharem para as reuniões ou saindo delas com a destreza de quem quase se considera mais juvenil do que no papel que representa e/ou simboliza.

2. Embora seja compreensível esta mudança de simplificação, ela corre o risco de vulgarizar o modo de algumas pessoas de estarem em certas funções. Com efeito, como que estamos a viver numa espécie de neo-adolescência quase coletiva, onde boa parte das pessoas quer passar por mais nova na aparência, embora certos adereços não enganem os menos atentos ou distraídos. Se bem que a umas tantas pessoas isso não seja desconsiderável, a outras isso fá-las parecerem algo ridículas, pois os anos passam e a idade tem atributos que necessitam de serem assumidos com verdade e sem disfarce.

3. Talvez seja útil trazer a este tema a expressão: ‘noblesse oblige’, explicando-a e dando-lhe uma leitura adequada ao nosso tempo. Literalmente significa: a nobreza obriga (ou obrigação nobre), isto é, pelo facto de pertencer à nobreza (classe social dos tempos medievais) há um comportamento que lhe é devido ou correspondente… Agora em sentido denotativo significará que, a uma determinada posição social, há um comportamento – desde o ser ao estar – que se deve ter ou que se espera que tenha a condizer com esse estatuto…

4. Mesmo que ‘pasta’ ou ‘mala’ possa estar associado a algo mais conservador e com interpretação de poder, envolvendo um quê de simbólico e de retrógrado, ‘mochila’ não quererá dizer que é algo de progressista e com perspetivas de avanço. Podemos entender estas duas formas de estar como sensibilidades perante as questões da vida à mistura com os diversos intervenientes na mesma ‘fita do tempo’, onde cada um faz parte da construção da vida, mas não esgota o que dela podemos colher, tendo em conta o que semeámos…

5. Cada qual saberá o seu estilo de ser e de estar, numa vivência de autoconhecimento e perante uma leitura que os outros farão dele.



António Sílvio Couto

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