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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Humoristas: entre o bobo e o trocista?

Fiquei algo estupefato, quando, há dias, ouvi um indivíduo dizer: prefiro a minha profissão de humorista e logo discorreu sobre as suas façanhas de fazer rir com piadas ou de ganhar o pão-de-cada-dia a gozar com as situações... Daí me veio a pretensão de querer perceber melhor o que é isso de ser humorista, com que linhas se cose e quais poderão ser os elementos constitutivos dessa profissão.

1. Parece ser recorrente que vejamos muitos e algumas a fazerem humor, usando palavras que pretendem fazer rir ou, pelo menos, sorrir. Depois de uma certa vaga de ‘stand up comedy’ (humor/comédia em pé) há cerca de uma década, foram ficando uns tantos/as a quem acham piada e que entretêm o público com graçolas, muitas delas com gosto duvidoso ou usando termos que podem ser ofensivos para com os visados... se estes se derem por ofendidos. Acertar na pretensão dos fazedores de humor torna-se algo que pode entender-se na circunscrição de quem gosta de tal e que compreende a linguagem, a mensagem e o estilo. Confesso que a minha inteligência não consegue captar as pretensões de boa parte dos humoristas de serviço à nossa indigente democracia. Algum desse humor faz parte da tal cultura de esquerda em moda, que alinha com aquilo que possa estar na retranca seja lá do que for. Certos casos (ditos) de sucesso percebem-se pelo suporte ideológico que têm à mistura com os espaços que lhes são facultados como expressão cultural de conveniência. Por vezes há figuras que cairam em certa graça, embora não tenham graça alguma...até que caiam na desgraça total. Então verão a falácia que criaram e o logro em que viveram!

2. Quais as balizas para fazer humor? Que há de sério no humor? É humorista quem quer ou quem pode e sabe ser? Será que o humorista tem humor suficiente sobre si mesmo? Será que conhece as suas limitações ou só vê as dos outros?
Usamos, neste contexto, a palavra ‘humor’ no significado de atividade cómica e naquilo que pode ter de artística. A palavra ‘humor’ vem do latim ‘humore’ e significa a disposição do ânimo de uma pessoa ou a sua veia cómica. A expressão humorística está presente nas artes através da caricatura, de pinturas de crítica social, política ou religiosa... Uma pessoa que utiliza a sua veia cómica para fazer com que outras pessoas riam é conhecido como humorista.
Os artifícios para fazer humor podem variar, podendo passar pelas palavras ditas e entendidas, pela atitude de quem quer ser humorista ou mesmo pela repercussão do que é dito ou dado a entender. As duas figurações que apresentamos no título deste texto - bobo e trocista - poderão ser expressões extremas das possibilidades de humor: o bobo faz rir, mesmo sem falar e o trocista precisa de verbalizar para que se entenda aquilo com que pretende fazer rir. Ora, no quadro do humor em ato talvez não tenhamos atingido nenhum destes estádios, pois os que andam nestas tarefas humorísticas enfermam da falta de qualidade cultural e, na maior parte dos casos, são humoristas de bolha e nitidamente ao serviço e sabor de quem lhes paga.

3. ‘Ridendo castigat mores’ (a rir se corrigem os costumes) é uma frase consagrada para falar dos fins do humor, pois, por vezes, é mais fácil aceitar de forma suave, rindo, do que de modo duro que se seja corrigido. Há quem encontre aqui a fundamentação da ironia e da sátira, mas podemos alargar o entendimento ao que se refere como humor, na medida em que através deste se pode motivar a mudança dos costumes (‘mores’). Esta arte de aferir os costumes às boas práticas morais deverá ter em mente os princípios éticos/morais pelos quais a pessoa se rege. E esses princípios e valores situamo-los no quadro da tradição judeo-cristã. Infelizmente boa parte dos humoristas de serviço já mandaram às malvas tais valores e como que nivelam a sua jocosidade pelo mais rasca, quase ofendendo quem se afirme defensor dos valores dos Evangelho. Por isso, considero que os humoristas em voga nada têm de bobo e tão pouco de trocistas, andam mais parece a venderem-se a si mesmos como bitola da maledicência. Basta de baixeza! Assim, não, obrigado!


António Sílvio Couto

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