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quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Rezar (minimamente) para ‘pedir chuva’

 

É algo confrangedor e sintomático que, sentindo todos de forma persistente – esta maré de seca não se veja uma atitude mais cristã de intercessão ao Céu. As preces para pedir a chuva não têm estado a ser usadas e tão pouco divulgadas. Pela parte que me toca já fiz a ‘experiência’ em dois momentos – diferentes no tempo – no ano passado (2022) entre a Páscoa e o final de setembro e este ano (2023) durante a novena a Nossa Senhora da Boa Viagem entre finais de agosto e os primeiros dias de setembro. Nos dois desafios resultou, pois choveu e de forma num caso copiosa e noutro de forma significativa…

1. Para os devidos efeitos foi usada a oração que o Papa Paulo VI rezou em julho de 1976, numa época de extrema seca na Europa em especial. Respigamos, quase pela contemporaneidade, alguns aspetos aí referidos. «Temos consciência da nossa miséria e fraqueza:nada podemos fazer sem Ti. Tu, Pai bondoso, que sobre todos fazes brilhar o sol e fazes cair a chuva, tem compaixão de todos os que sofrem duramente pela seca que nos ameaça nestes dias.

(...) Faz cair do céu sobre a terra árida a chuva desejada a fim de que renasçam os frutos e sejam salvos homens e animais. Que a chuva seja para nós o sinal da Tua graça e da Tua bênção: assim, reconfortados pela Tua misericórdia, dar-te-emos graças por todos os dons da terra e do céu, com os quais o Teu Espírito satisfaz a nossa sede».

2. Num tempo de tanta autossuficiência – e porque não até de prosápia descrente – ousar voltar-se para Deus numa matéria tão simples e simbólica como que nos faz sentir que pouco ou nada valemos, se Deus não nos suportar e abençoar. Efetivamente este elemento de vida que é a água torna-se – desde longa data – além de escasso um fator de conflitos entre povos e culturas, entre nações e civilizações, na medida em que sem água tudo corre perigo e com ela e por ela se construíram cidades e empreendimentos humanos e religiosos. Como bem quase sagrado, a água continua a fazer história na história humana e quando ela falta o desaparece tudo se torna de difícil solução.

3. Fico com tristeza e algo confuso, quando ouço referir que, quando chove está mau tempo, como se este fenómeno não fosse uma bênção divina e uma motivação de alegria humana… Chuva fora de tempo e em excesso poderá ser de complicada gestão, mas na hora própria, doseada e em condições de receção torna-se um fator de abundância e de fecundidade. Porque os humanos se consideram ‘senhores’ de tudo e até da natureza, vão descartando a necessidade da chuva, embora seja esta o melhor acumulador de água no subsolo e nos sistemas de retenção de água para as atividades humanas (económicas ou outras) nas condições em que as exercemos até agora.

4. Apesar de todos os progressos da ciência e da tecnologia, continuamos a precisar de socorrer-nos de Deus para que venha em ajuda da nossa frágil condição noutros como neste aspeto de pedirmos a Deus que nos conceda a chuva como sinal da sua proteção e em atitude de bênção na nossa vida. Será importante estamos atentos a um certo racionalismo popular, que tudo sabe e explica fora de Deus à mistura com um outro misticismo pseudointelectual, que intenta recuperar exoterismos tendencialmente anticristãos. Neste tema da chuva – e por antonomásia da água – falta-nos humildade para fazermos o que devemos em consonância com a confiança em Deus, criador do Céu e da Terra.

5. Deus que faz cair a chuva sobre bons e maus e aparecer o sol sobre justos e injustos tenha compaixão de nós, neste tempo de seca que a todos põe à prova.



António Sílvio Couto

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