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quinta-feira, 22 de junho de 2023

São Tomás Moro - padroeiro dos políticos

 


Depois de várias solicitações, o Papa João Paulo II declarou ‘patrono dos políticos’ São Tomás Moro, no dia 31 de outubro do ano 2000.

Celebrando-se, liturgicamente, São Tomás Moro no dia 22 de junho - e por entre as ‘diversões’ dos santos populares - deixamos excertos do resumo da vida deste santo, até pela originalidade de ter sido declarado padroeiro de uma classe por vezes não tão (ao menos na aparência) cristã como seria desejável.

Tomás Moro nasceu, em Londres, no ano 1478, de uma respeitável família, foi colocado, desde jovem, ao serviço do Arcebispo de Cantuária, João Morton, Chanceler do Reino. Continuou depois, em Oxford e Londres, os seus estudos de Direito, mas interessando-se também pelos vastos horizontes da cultura, da teologia e da literatura clássica. Dominava perfeitamente o grego e criou relações de intercâmbio e amizade com notáveis protagonistas da cultura do Renascimento, como Erasmo de Roterdão. O seu mais célebre escrito é a ‘Utopia’ (1515).
A sua sensibilidade religiosa levou-o a procurar a virtude através duma assídua prática ascética: cultivou relações de amizade com os franciscanos conventuais de Greenwich e demorou-se algum tempo na cartuxa de Londres, que eram dois dos focos principais de fervor religioso do Reino. Sentindo a vocação para o matrimónio, a vida familiar e o empenho laical, casou-se em 1505 com Joana Colt, da qual teve quatro filhos. Tendo esta falecido em 1511, Tomás desposou em segundas núpcias Alice Middleton, já viúva com uma filha. Ao longo de toda a sua vida, foi um marido e pai afectuoso e fiel, cooperando intimamente na educação religiosa, moral e intelectual dos filhos. Diariamente, Tomás participava na missa na igreja paroquial.
Em 1504, no reinado de Henrique VIII, foi eleito pela primeira vez para o Parlamento. O rei renovou-lhe o mandato em 1510 e constituiu-o ainda como representante da Coroa na capital, abrindo-lhe uma carreira brilhante na administração pública. No decénio sucessivo, Henrique VIII várias vezes o enviou em missões diplomáticas e comerciais à Flandres e territórios da França actual. Constituído membro do Conselho da Coroa, tornando-se em 1523 presidente da Câmara dos Comuns.
Foi nomeado pelo rei em 1529, num momento de crise política e económica do país, Chanceler do Reino. Tomás Moro, o primeiro leigo a ocupar este cargo, enfrentou um período extremamente difícil, procurando servir o rei e o país. Fiel aos seus princípios, empenhou-se por promover a justiça e conter a danosa influência de quem buscava os próprios interesses à custa dos mais débeis. Em 1532, não querendo dar o próprio apoio ao plano de Henrique VIII que desejava assumir o controle da Igreja na Inglaterra, pediu a demissão. Retirou-se da vida pública, resignando-se a sofrer, com a sua família, a pobreza e o abandono de muitos que, na prova, se revelaram falsos amigos.
O rei mandou prendê-lo, em 1534, na Torre de Londres, onde foi sujeito a várias formas de pressão psicológica, mas Tomás Moro não se deixou vencer, recusando prestar o juramento que lhe fora pedido, porque comportaria a aceitação dum sistema político e eclesiástico que preparava o terreno para um despotismo incontrolável. Ao longo do processo que lhe moveram, pronunciou uma ardente apologia das suas convicções sobre a indissolubilidade do matrimónio, o respeito pelo património jurídico inspirado aos valores cristãos, a liberdade da Igreja face ao Estado. Condenado pelo Tribunal, foi decapitado a 6 de julho de 1535.
Juntamente com outros 53 mártires, entre os quais o Bispo João Fisher, Tomás Moro foi beatificado pelo Papa Leão XIII em 1886 e canonizado, com o citado Bispo, por Pio XI no ano 1935, quando se completava o quarto centenário do seu martírio.

= Considerações finais, na comunicação de João Paulo II:
* É na defesa dos direitos da consciência que brilha com luz mais intensa o exemplo de Tomás Moro e podemos dizer que viveu de modo singular o valor de uma consciência moral.
* A vida de S. Tomás Moro ilustra, com clareza, uma verdade fundamental da ética política. De facto, a defesa da liberdade da Igreja face a indevidas ingerências do Estado é simultaneamente uma defesa, em nome do primado da consciência, da liberdade da pessoa frente ao poder político.

São Tomás Moro, rogai por todos nós.



António Sílvio Couto

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