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terça-feira, 27 de junho de 2023

Que Pedro celebramos nos ‘santos populares’?

 

A terminar o mês de junho encontramos a festa (popular) de São Pedro. Se bem que seja celebrado em conjunto com São Paulo, só Pedro merece atenção das diversões. A celebração de São Pedro e São Paulo comemoram o seu martírio, por isso, não seria de bom-tom vulgarizar tais festanças. De alguma forma para o incluir nos festejos populares, cuidou-se de despir São Pedro da solenidade papal e fazê-lo um pescador, que era de origem, colocando-o mais ao nível dos que o pretendem festejar. É, por isso, significativo que São Pedro seja celebrado nas localidades com proximidade ao mar ou aos rios, naquilo que tem de linguagem e de diálogo com esses meios e formas de estar, com procissões marítimas e outros festejos com sabor a sal.

A celebração de São Pedro concede feriado, no dia 29 de junho, em dezassete municípios, em Portugal.

1. À descoberta de Pedro na Bíblia

Pedro é a personagem mais conhecida e citada nos escritos neotestamentários: é mencionado 154 vezes com o cognome de Pétros, ”pedra”, “rocha”, que é a tradução grega do nome aramaico que lhe foi dado diretamente por Jesus, Kefa e afirmado nove vezes sobretudo nas cartas de Paulo; depois, deve-se acrescentar o nome frequente Simòn (75 vezes), que é a forma helenizada do seu original nome hebraico Simeon, aprece-nos duas vezes: At 15, 14; 2 Pd 1, 1. (*)

Simão era de Betsaida (cf. Jo 1, 44), uma pequena cidade a oriente do mar da Galileia, da qual provinha também Filipe e André, irmão de Simão. Pelo seu sotaque se percebia que era galileu. Tal como o irmão, era pescador e com a família de Zebedeu (pai de Tiago e de João), dirigia uma pequena empresa de pesca no lago de Genesaré (cf. Lc 5, 10). Pedro era casado e a sogra, curada um dia por Jesus, vivia na cidade de Cafarnaum, na casa na qual também Simão vivia quando estava naquela cidade (cf. Mt 8, 14 s; Mc 1, 29 s; Lc 4, 38 s). O ponto de partida é o chamamento por parte de Jesus. Acontece num dia em que Pedro está empenhado no seu trabalho de pescador. Jesus encontra-se junto do lago de Genesaré e a multidão reúne-se à sua volta para o ouvir. O número dos ouvintes gera uma certa confusão. O Mestre vê duas barcas ancoradas à margem; os pescadores desceram e lavam as redes. Então, Ele pede para entrar na barca de Simão, e pede-lhe que se faça ao largo. Sentado naquela cátedra improvisada, da barca, começa a ensinar à multidão (cf. Lc 5, 1-3). E assim a barca de Pedro torna-se a cátedra de Jesus. Quando terminou de falar, diz a Simão: “Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca”.
Simão aparece nos Evangelhos com um carácter decidido e impulsivo, estando disposto a fazer valer as próprias razões também com a força (pense-se no uso da espada no Horto das Oliveiras: cf. Jo 18, 10 s). Ao mesmo tempo, por vezes é também ingénuo e medroso, e contudo honesto, até ao arrependimento mais sincero (cf. Mt 26, 75). Os Evangelhos permitem-nos seguir passo a passo o seu itinerário espiritual.
Pedro vive outro momento significativo no seu caminho espiritual, nas proximidades de Cesareia de Filipe, quando Jesus faz aos discípulos uma pergunta: “Quem dizem os homens que Eu sou?” (Mc 8, 27). Mas para Jesus não era suficiente a resposta do que tinham ouvido dizer. Daqueles que aceitaram comprometer-se pessoalmente com Ele pretende uma tomada de posição …depois disso Jesus investe Pedro como chefe do grupo: ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja’…

2. Quais serão as razões mais percetíveis para se dar destaque a São Pedro e não a São Paulo, se celebramos de ambos, no mesmo dia, o seu martírio? Por que se presta São Pedro aos festejos populares e não São Paulo? Será que é a sua ligação às lides do mar que faz de São Pedro alguém mais popular do que São Paulo versado mais nas letras sagradas?

O que sabemos pela tradição popular é de se fazer de São Pedro um santo que está perto do povo e proporciona fazer festa, unindo tradições e criando motivos para que se possa alegrar-se… Serão os festejos a São Pedro tão católicos quanto seria desejável?

(*) Está no prelo uma publicação intitulada – ‘Chamados e enviados como testemunhas’ – onde se explica demoradamente esta figura nos evangelhos e mais quarenta e nove…também nos Atoa dos Apóstolos.



António Sílvio Couto

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