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quarta-feira, 21 de junho de 2023

Coisas com o futebol por sujeito

Mesmo com os campeonatos já terminados, o futebol continua a provocar assunto de conversa, de discussão e de controvérsia. Aquilo que era considerado o defeso vem-se tornando matéria de notícia e, nalguns casos, de razoável confusão: tráfico de pessoas, viagens de políticos a jogos, ofensas a adversários, problemas dentro e fora dos campos…em sessões de ‘tricot-de-língua’ por horas intermináveis.

1. Para quem goste deste desporto tais assuntos cheiram a querer vender um produto de baixa qualidade, dado que da prática do mesmo pouco ou nada se fala, antes se dá destaque às intrigas e quezílias, aos problemas e conflitos, às manobras e truques…intervindo quem menos sabe do tema, embora se pretenda insinuar como esperto e sabichão… Como é possível, todas as noites e sete dias por semana, vermos canais televisivos – sobretudo de cabo – a gastarem horas a escalpelizar jogadas, intenções, provocações, insinuações, ofensas… Uns comem a carne – os que transmitem os jogos – e outros escorropicham os ossos – os comentadores – televisivos e não só? As coisas do futebol alimentam tanta gente…

2. Quantas questões emergem quando se quer trazer o futebol à liça: os milhões envolvidos na compra-e-venda do material. Como é possível falar-se, no século XXI, de comprar/vender pessoas? Isso não cheira a escravatura? Ou deixa de ter tal designação só porque envolve muito dinheiro de habilidosos com a bola nos pés? No futuro condenar-nos-ão porque estivemos em silêncio quanto a esta forma requentada de escravatura, sem olhar à tez, mas se quedou pela destreza em jogar à bola… Quais meretrizes ofendidas na sua virtude, vimos como se lamentaram tantos dos beneficiários, quando se percebeu a máquina que encobria os jovens trazidos de África e da América Latina, numa tal academia desportiva… Este foi apenas um exemplo que envolvia altos responsáveis dos comandos do futebolês…

3. Quantos dão tudo – desde a fortuna pessoal até ao futuro da família – para aparecerem associados ao algum projeto desportivo. Depois de uns tantos ‘patos-bravos’ terem perdido os bens com apostas ligadas ao futebol, vemos que este ainda seduz certos papalvos, como se uns anos de fama conseguissem livrar das responsabilidades civis e criminais. A sede de poder continua a ser mais forte do que o bom senso, a verdade e as possibilidades… Não há meio de aprenderem uns com os outros!

4. Milhares e milhares de jovens – rapazes e raparigas – quase que trocam o certo pelo inseguro para se dedicarem ao futebol, mais do que outro desporto. O fascínio por serem famosos e ricos quase lhes hipoteca o futuro: veem a nuvem da fama, mas esquecem-se dos sacrifícios. Já confrontei pais que contestam a ida de adolescentes para o seminário, mas aceitam e fomentam a possibilidade de enfiarem os filhos numa ‘academia’ qualquer de futebol, pois aí poderão ter futuro… O jogo do dinheiro e o dinheiro em jogo são mais fortes e apelativos!

5. A sagrada aliança futebol-política continua viva, desde a mais pacata autarquia até à cúpula do governo e dos dignitários da Nação. Poucos fogem desses momentos de visibilidade, antes parecem moscas atraídas ao mel. Por vezes contestam a presença de uns, mas com facilidade se percebe que é mais por inveja do que por desdém. Talvez fosse mais útil a distinção de campos e o esclarecimento de tarefas, pois a confusão favorece, normalmente, os oportunistas e incompetentes.

6. Tem-se vindo a tornar uma praga: os jogadores a serem ofendidos em razão da cor da pele ou de terem já jogado noutros clubes, que não aquele onde se joga ao tempo. Efetivamente, como barómetro da conduta social, o futebol, para além de escape de emoções, está tornar-se foco de convulsões. Não será isto um sinal da má gestão emotivo-psicológica com que têm vindo a sobrecarregar o futebol? Assim, não, obrigado!



António Sílvio Couto

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