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sexta-feira, 10 de junho de 2022

Um ‘pcp’ assaz humanista…sobre a eutanásia

 

Foi a única declaração do debate realizado, no passado dia 9 de junho, sobre a (pretensa) despenalização da morte medicamente assistida, vulgo, eutanásia, que ouvi. Daquilo que foi dito ficou-me uma visão bem digna de ser apoiada pelos valores/critérios cristãos.
Por conter uma leitura assaz lúcida, clara e interpelativa, deixo um excerto (quase metade da intervenção) da deputada comunista… No final coloco algumas questões de teor humanista e não-ideológico de religião…

* O texto do grupo parlamentar comunista:
«Não se discute aqui a dignidade individual seja de quem for. O que se discute é o sentido em que a sociedade se deve organizar e em que os seus recursos devem ser mobilizados perante a doença e o sofrimento.
Continuamos a considerar que o sentido do progresso das sociedades humanas é o de debelar a doença e o sofrimento, mobilizando os seus recursos, o conhecimento científico e a tecnologia, assegurando que todos os seres humanos beneficiam desses avanços. É nesse sentido de progresso que o Estado se deve empenhar e não no de criar condições para antecipar a morte.
O Estado Português não pode continuar a negar a muitos dos seus cidadãos os cuidados de saúde de que necessitam, particularmente nos momentos de maior sofrimento. A criação de uma rede de cuidados paliativos com caráter universal tem de ser uma prioridade absoluta. Ninguém entende a eutanásia como um sucedâneo dos cuidados paliativos (...): um país não deve criar instrumentos legais para antecipar a morte e ajudar a morrer quando não garante condições materiais para ajudar a viver.
Inquietam-nos neste processo legislativo as consequências sociais que dele podem decorrer, pensando sobretudo nas camadas sociais mais fragilizadas, nos mais idosos, nos mais pobres, nos que têm mais dificuldades no acesso a cuidados de saúde, aqueles a quem aparecerá de forma mais evidente a opção pela antecipação da morte.
A evolução da ciência e da tecnologia tem permitido avanços da medicina que eram impensáveis ainda há poucos anos. Essa evolução é inexorável e é cada vez mais rápida. A questão é que os recursos disponíveis sejam postos ao serviço de toda a comunidade.
Através de boas práticas médicas, que rejeitem o recurso à obstinação terapêutica e que respeitem a autonomia da vontade individual expressa através das manifestações antecipadas de vontade que a lei já permite, o dever do Estado é garantir que a morte inevitável seja sempre assistida, mas não que seja antecipada.
Num quadro em que, com frequência, o valor da vida humana surge relativizado em função de critérios de utilidade social, de interesses económicos, de responsabilidades e encargos familiares ou de gastos públicos, a legalização da eutanásia acrescentará novos riscos que não podemos iludir».

* Questões:
- Quem beneficiará da eutanásia: os pobres ou os ricos?
- Terão os trabalhadores reais (e não os virtuais de certa esquerda), meios para se entreterem com elucubrações moralistas e outras tantas invetivas ideológicas...à socialista e bloquista?
- Não se percebeu ainda que certos ‘liberais’ são mais perigosos do que os marxistas mais ou menos camuflados?
- Por que será que quem serve a saúde – médicos e enfermeiros – contestam esta anomalia de teor ético, mas não sanitário?
- Referendar este assunto não seria um risco, tanto mais perigoso, quanto se tem vindo a perder o sentido do sofrimento, mesmo no contexto cristão-católico?

Agora que, pela terceira vez o assunto foi votado no parlamento, esperamos que isto não sirva para ser bandeira de oportunistas, seja qual for a barricada onde se coloquem…

António Sílvio Couto

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