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segunda-feira, 6 de junho de 2022

Acolhimento, diálogo e escuta: desafios da caminhada sinodal

 


Quem ler, com atenção a síntese da diocese de Setúbal  dos grupos sinodais, que existiram na primeira fase (paroquial) de preparação do Sínodo dos bispos de 2021-2023, poderá ver a frequência, insistência e abrangência com que estas três palavras – acolhimento, diálogo e escuta – são salientadas. Com efeito, entre o diagnóstico e as propostas, passando ainda pela visão intra e extra-paroquial podemos e devemos atender àquilo que é matéria de trabalho de todos, para todos e com todos... os fiéis, isto é, eclesiásticos, religiosos e leigos.


1) 6475 participantes...de 40 paróquias
Apesar  de tudo a participação registada das paróquias foi significativa - ‘das 57 Paróquias (54 Paróquias e 3 Quasi-Paróquias) da Diocese só não participaram 17, pelo que a participação ronda os 70, 2%’ - diz o relatório-síntese. Das sete vigararias houve três que tiveram participação de todas as paróquias - Almada, Barreiro-Moita e Palmela-Sesimbra...

2) Nove questões mais debatidas
Segundo os dados do relatório-síntese verificou-se uma certa concordância sobre os temas mais debatidos pelos participantes nos grupos sinodais, que foram: acolhimento, compromisso, comunicação (ligação), sobrecarga (de tempo) dos padres, tomada de decisão (de todos com todos), cuidados com a liturgia (linguagem e celebrações), necessidade de formação (de todos), diminuição (decréscimo) de crianças e jovens nas comunidades.  Deste elenco de questões se pode inferir uma leitura atenta dos participantes, o que manifesta presença e também pertença à Igreja e não às minudências das igrejas (particulares).
Salienta o documento-síntese da diocese de Setúbal que não se verificou ‘grande tensão’ durante as reuniões sinodais, embora tenham aparecido ‘diferenças sobretudo nos temas ditos fracturantes (por ex: acolhimento dos homossexuais, situação dos recasados), com diferentes sensibilidades que acentuam uma linha mais conservadora e outra que aponta para a necessidade de reforma por parte da Igreja’.

3) Aspetos positivos e negativos encontrados
Como aspetos positivos (cinco na síntese publicada) foram considerados como mais relevantes: as pessoas sentem-se Igreja, a dimensão social é reconhecida como uma parte importante da vida pastoral e da mensagem da Igreja.
Na vertente dos aspetos negativos, o documento apresenta, entre outros (são quinze no elenco), os seguintes: as igrejas frequentemente encerradas durante o dia; algumas paróquias referem a falta de acolhimento e inclusão dos que procuram a comunidade; tendência do tradicionalismo; na relação entre a Igreja e a sociedade, nota-se muitas vezes um desconhecimento mútuo; falta de estruturas de escuta e de participação (conselhos necessários nas paróquias); excessivo centralismo do papel do pároco; um certo comodismo por parte dos fiéis (talvez se devesse dizer leigos?) que, muitas vezes, optam por serem apenas “consumidores de sacramentos”, sem compromisso, limitando-se à participação na eucaristia.

4. Propostas de mudança
Correndo o risco duma visão simplista, seguimos, a partir do documento-síntese, aquelas três palavras-chave, respigando algumas das sugestões (são dezoito no total):
* Acolhimento – rever a forma de acolhimento nas nossas igrejas; procurar construir uma Igreja que não se limita à assistência social, mas que procura capacitar para o encontro de soluções.
* Diálogo – apostar no diálogo entre paróquias a nível laical, na possibilidade da existência dos conselhos vicariais; promover o diálogo em três níveis diferentes: dentro de cada igreja cristã, na relação com as outras igrejas cristãs e finalmente com as restantes religiões não cristãs.
* Escuta – fomentar a escuta do outro; necessidade de a Igreja voltar a ensinar o silêncio às pessoas.

 

António Silvio Couto

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