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segunda-feira, 30 de maio de 2022

Romanices em nítida neo-paganização

 


Anunciados como ‘espetáculos’ de grande atração popular, vemos emergirem propostas ‘culturais’ eivadas de neopaganismo, na medida em que o quadro histórico é pré-cristão e os ingredientes estão eivadas de sinais, formas e situações bem anteriores ao surgimento do cristianismo no nosso país…cortejo triunfal, batizado romano, circo, casamento…comidas, espetáculos acampamento militar… tudo cheirando a coisas com mais de dois mil anos e que o cristianismo venceu pela força da fé e com o derramamento de sangue de tantos mártires cristãos.

1. A que se pode dever tanto entusiasmo por certas manifestações à romana? Serão estas ocorrências a denúncia da falência do cristianismo com o recurso a sugestões ditas culturais de antanho? A reconstrução pretensamente histórica não ofenderá a ética (moral) cristã? Como poderemos avaliar a afluência a tais eventos, se comparados com celebrações religiosas (cristãs, católicas ou de outra expressão não-romana) decorrentes por esta época na região? Não andará por aí subjacente o lema romano – ‘pão e jogos’ – para tentar entreter educando e talvez educar entretendo?

2. Nesta abordagem à recriação do tempo romano tenho por base uma iniciativa que decorre na cidade de Braga desde 2003 e com o título – ‘Braga romana’.
Na wikipédia podemos ler como discrição desta iniciativa: «é um evento que decorre anualmente em Braga em maio ou junho desde 2003. Pretende mostrar como seria a vida na cidade na época em que integrava o Império Romano, evocando o seu quotidiano como cidade-capital da província da Galécia.
Nestas festividades, é recriado um mercado romano que é palco de artes circenses, representações dramáticas, simulações bélicas, personificações mitológicas, malabarismos, interpretações musicais e bailados da época de Bracara Augusta.
Esta viagem no tempo inclui ainda a organização de uma escola romana, uma área de animação infantil e a tradicional receção a Augusto (r. 27 a.C.-14 d.C.), em que se procede à leitura do édito fundador e à nomeação do administrador da cidade.
As festividades incluem também dois Cortejos Romanos pelas ruas do centro histórico da cidade, um diurno e um noturno».

3. Seria mesmo preciso que a designada ‘cidade dos arcebispos’ recua-se tanto na sua história para se afirmar no contexto cultural hodierno? Onde fica a memória das histórias de perseguição aos cristãos daquele tempo? Foram varridas essas vivências cristãs para debaixo do tapete dos interesses económicos de hoje? Se atendermos ao quadro de tempo quase sentimos vergonha por fazermos parte – mesmo que à distância – do clube de mudos e conformados com tudo quanto surge, desde que cheire a dinheiro… pelo menos assim parece!
Esta ‘Braga romana’ pode ser muito útil para fazer festa, mas será que alimenta alguma fé? Não será mais uma proposta bem urdida pelas forças menos-cristãs, anticristãs e a-religiosas numa conquista de protagonismo mesmo entre alguns ‘praticantes’ mais ou menos ignorantes?

4. Que é preciso divertir o povo não há a mínima dúvida, sobretudo depois do tempo de pandemia, mas que se tenha também respeito suficiente sobre quem – naquele território ou noutro – sofreu e sofre para poder afirmar a sua fé.
Braga e outras cidades – mesmo aquelas que se entretêm com ‘feiras medievais’ e não só – merecem melhor… histórica, social, política e culturalmente. O que diz, então, a Igreja católica sobre tudo isto? Aqui o silêncio não é de ouro, mas de possível cumplicidade ou (sei lá) de cobardia!

António Sílvio Couto

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