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segunda-feira, 23 de maio de 2022

Escuta – condição para a comunicação

 


Depois de, no ano passado, ter dedicado a sua mensagem à necessidade de ‘ir e ver’, este ano, o Papa Francisco dedicou a sua mensagem para o dia mundial das comunicações sociais à atenção ao ‘escutar’, como algo decisivo na gramática da comunicação e como condição para um autêntico diálogo.

‘Escutar com o ouvido do coração’ – é o tema do 56.º dia mundial das comunicações sociais, que ocorre, cada ano, no domingo da Ascensão. Com três aspetos progressivos e complementares a mensagem papal aborda: escutar com o ouvido do coração, a escuta como condição da boa comunicação e escutar-se na Igreja.

Vejamos cada um destes aspetos…até pelo confronto com tanto barulho, por dentro e por fora.

1. Escutar com o ouvido do coração

 A escuta é pedra de toque da relação dialogal entre Deus e humanidade... A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus... Deus que sempre Se revela comunicando-Se livremente, e, por outro, o homem, a quem é pedido para sintonizar-se, colocar-se à escuta...Jesus convida os seus discípulos a verificar a qualidade da sua escuta... Ouvidos, temo-los todos; mas muitas vezes mesmo quem possui um ouvido perfeito, não consegue escutar o outro. Pois existe uma surdez interior, pior do que a física. De facto, a escuta não tem a ver apenas com o sentido do ouvido, mas com a pessoa toda. A verdadeira sede da escuta é o coração...A primeira escuta a reaver quando se procura uma comunicação verdadeira é a escuta de si mesmo, das próprias exigências mais autênticas, inscritas no íntimo de cada pessoa.

Partindo destas palavras da mensagem do Papa Francisco podemos compreender que de um bom ouvido depende uma salutar comunicação. Efetivamente gritamos uns com os outros porque, mesmo estando perto, nem sempre estamos sintonizados pelo coração em escuta, pelo silêncio e no diálogo.

 2. Escuta como condição da boa comunicação

 Aquilo que torna boa e plenamente humana a comunicação é precisamente a escuta de quem está à nossa frente, face a face, a escuta do outro abeirando-nos dele com abertura leal, confiante e honesta... A boa comunicação não procura prender a atenção do público com a piada foleira visando ridicularizar o interlocutor, mas presta atenção às razões do outro e procura fazer compreender a complexidade da realidade... A escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação... A capacidade de escutar a sociedade é ainda mais preciosa neste tempo ferido pela longa pandemia... É preciso inclinar o ouvido e escutar em profundidade, sobretudo o mal-estar social agravado pelo abrandamento ou cessação de muitas atividades económicas.

Destas palavras do Papa podemos perceber que ser capaz de deixar o outro falar é exigência para que se passe de um ‘duólogo – monólogo a duas vozes – para um verdadeiro diálogo, naquilo que se poderá apelidar de ‘martírio da paciência’, escutando antes de ser escutado. Urge termos tempo e critérios verdadeiramente cristãos para sabermos escutar as histórias de vida de tantos dos nossos contemporâneos, sem nos quedarmos por estórias laterais sem gosto nem nexo…

 3. Escutar-se na Igreja

 Também na Igreja há grande necessidade de escutar e de nos escutarmos. É o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos outros... Quem não sabe escutar o irmão, bem depressa deixará de ser capaz de escutar o próprio Deus... Na ação pastoral, a obra mais importante é o «apostolado do ouvido». Devemos escutar, antes de falar...  Recentemente deu-se início a um processo sinodal... Como num coro, a unidade requer, não a uniformidade, a monotonia, mas a pluralidade e variedade das vozes, a polifonia.

Precisamos de aproveitar esta oportunidade de escuta recíproca, onde todos temos algo a aprender, num apurado processo de intercomunhão fraterna sinodal, que é muito mais do que solidária. Temos consciência de que somos uma ‘Igreja sinfónica’?   

 

António Sílvio Couto

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