Decorreu
por estes dias, em Fátima, o nono simpósio do clero de Portugal, sob o tema – ‘o
padre, ministro e testemunha da alegria do Evangelho’.
Mais de
quatro centenas de clérigos (bispos, padres e diáconos) de todas as dioceses
portuguesas viveram em ambiente de partilha, de comunhão e de convivência entre
as várias gerações de padres, sem ser tida em conta a sua procedência, formação
ou mesmo sensibilidade eclesial. Num clima de formação (teológica, espiritual e
humana) permanente estiveram presentes, entre outros, o perfeito e o secretário
da Congregação do Clero, bem como especialistas da área eclesiástica sobre
diversas matérias.
Atendendo
à intoxicação (informativa e opinativa), que tem sido servida por parte dalguns
órgãos de comunicação, na sessão de abertura do simpósio foi publicitada uma
carta-mensagem do episcopado português, que foi endereçada ao Papa Francisco.
Nesta mensagem, agradece-se a ‘carta ao Povo de Deus’, de 20 de agosto último,
do sumo pontífice sobre o “drama do abuso de menores por parte de membros
responsáveis da Igreja”. Numa atitude de comunhão com o Papa Francisco diz-se
na mensagem: “também nós partilhamos o sofrimento do Santo Padre e de toda a
Igreja e propomo-nos seguir as orientações para erradicar as causas desta
chaga. Empenhar-nos-emos em incrementar uma cultura de prevenção e proteção dos
menores e vulneráveis em todas as nossas comunidades”.
= Ora,
diante da vivência deste simpósio e das circunstâncias exteriores, desejamos
exprimir alguns aspetos de índole pessoal, vocacional e eclesial.
- Quando
tantos colocam sob suspeita muitos dos ministros da Igreja, extrapolando os
erros, falhas, crimes ou pecados duns tantos, fazendo-os espargirem-se sobre
todos indistintamente, parece que não podemos confundir a árvore com a floresta
nem podemos obrigar todos a serem culpados daquilo de que só uma minoria é
acusada.
- Quando
se tenta lançar o labéu sobre a comunidade dos crentes, pela simples razão duns
quantos ofenderem e envergonharem o resto, torna-se urgente ser um pouco mais
sério e não confundir quem nada tem a ver com o assunto, embora os pecados pessoais
empobreçam a comunhão de todos e de cada um…
- Quando
se nota algum aproveitamento – dentro e fora do âmbito eclesial – de certas
forças para tentarem atingir a pessoa, o ministério e a dimensão do Papa, é da mais
elementar justiça saber distinguir o que tem sido o esforço de renovação, de
profetismo e mesmo de desafios que Francisco tem trazido no parco tempo do seu
pontificado – cinco anos – e as mudanças que com ele se deram na Igreja
católica e no mundo… Talvez ele possa incomodar e não há como atingir o pastor
e as ovelhas poderão dispersar-se!
= É uma
graça e um sinal divino ser padre neste tempo, pois muito daquilo que nos faz
corresponder ao chamamento de Deus na Igreja católica é hoje mais do que nunca
uma oportunidade de afirmar com a vida – nem sempre isenta de erros, falhas ou
pecados – como Deus continua a precisar de nós para se fazer presente neste
mundo. Não é por honrarias que aceitamos ser ordenados padres. Quem pensar – ou
pior julgar – de forma diferente pode fazê-lo, mas não está a respeitar o que
há de mais sagrado numa vocação sacerdotal ministerial: deixar-se ser
instrumento divino e com isso caminhar com aqueles que Deus coloca no nosso
caminho…mesmo que nem sempre nos compreendam ou até aceitem, como seria
desejável.
Hoje,
mais do que no passado da cristandade, aceitar ser padre de Jesus é despojar-se
de regalias sociais e mesmo culturais. Hoje, mais do que num passado de
religião social, torna-se desafiante prescindir de muitos dos proventos do
clericalismo para ser tornar irmão com os irmãos, embora padre (pastor, guia e
servidor) para eles. Hoje, mais do que num passado já longínquo, ser padre já
não é promoção pessoal nem familiar, mas antes faz acreditar na necessidade de
crescer na humildade pela competência, na verdade pela honestidade e na
confiança pela autenticidade.
O que vi
e gostei de observar no recente simpósio do clero foram padres e bispos com ar
sereno e espírito de partilha. Numa palavra: não será tal comportamento indício
de felicidade? Talvez haja óculos que precisam de ser limpos e olhos que
necessitam de ser lavados…
António Sílvio Couto
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