A frase
idiomática – ‘encanar a perna à rã’ – quer significar: não fazer nada, atrasar,
não resolver, demorar, empatar, isto é, fingir que faz e não faz, não dar
andamento, ser mandrião…demorar muito tempo, ser lento ou moroso.
Será um
tanto útil explicar os termos usados na expressão…até para podermos encontrar
as consequências do dito. ‘Encanar’ é colocar entre canas ou talas os ossos
fraturados, mantendo-os em forma adequada para o seu processo de recuperação.
‘Encanar a perna’ será como que uma operação de imobilização do dito membro, a
perna, em ordem a mais facilmente adequar as condições à melhor conjugação para
vir a melhorar. Com a perna encanada, a (dita) rã não consegue movimentar-se,
estando nalguma passividade sem reação, isto é, sem poder saltar ou mesmo
saltitar…
= Ora,
quando se usa esta expressão na linguagem mais comum como que se pretende falar
de alguém – real ou virtual – ou dalguma situação – vivida ou sonhada – onde se
fala muito sem consequências ou onde uns tantos dizem algo sem que com isso
participem na solução dos problemas, entretanto, surgidos, manifestados ou
não-resolvidos…O mais desagradável de tudo isto é que há quem considere que o
palavreado ouvido/sentido não é solução de nada nem de coisa alguma. Há até
quem recorra a esta expressão para caraterizar uns tantos ‘oradores’ sem
conteúdo bem como outros ‘anunciadores’ sem rede nem forma de sobrevivência
daquilo que dizem e mesmo fazem…
Subjacente
a estes considerandos estão como que aspetos duma mentalidade mais ou menos
hipócrita onde se tenta dar a entender que se tem algum desempenho razoável,
quando o que se nota são laivos de incompetência e de ignorância, fazendo com
que esta pareça mais oportuna do que aquela e a tal se vá disfarçando até que
se descubra que a cara não condiz com o reverso… Quem não encontrou nos
momentos da sua vida uns tantos/as espertos/as que vão adiando o que deviam
apresentar como resultado do seu trabalho/desempenho, sacudindo do resguardo os
pingos daquilo que se esperava que fosse a conclusão do ainda não-feito… A isto
se pode chamar na nossa linguagem popular: chico-espertismo nacional e à boa
maneira lusa.
= Quanta
gente andar por aí a ‘encanar a perna à rã’, mesmo não se dando conta de que
isso é mais o seu modo de vida do que outro ofício… Isso de ‘encanar a perna à
rã’ não pode ser desculpa para tanta da incompetência e muito menos da
incongruência duma parte significativa de tantos nossos concidadãos. Nem todos
vivem de expedientes, mas muitos/as fazem disso o seu trabalho cotidiano, com
teor razoável e subtilmente remunerado. Quanta gente, que vive num certo
funcionalismo público, parece estar, nas horas de serviço, mais a encanar a
perna à rã do que a servir quem solicita ser atendido. O que há de mais
confrangedor é que muita desta gente que passa o tempo a ‘encana a perna à rã’
ainda não se tenha apercebido disso, apesar dos outros já se terem dado conta
dos resultados!
= Porque
‘encanar a perna à rã’ é como que um malefício nacional precisamos de detetar
as situações, de denunciar as razões, de enfrentar as condições, de corrigir as
causas, sabendo perceber por onde passa a melhor forma de emendar as
consequências. Seja qual for o setor em que vejamos esta atitude de negligência
será preciso que os responsáveis – podendo ser eles mesmos os mentores e/ou
executores dessa conduta – tenham discernimento sério e objetivo para que não
andemos a enganar nem a enganar-nos.
«Hoje em
dia, tornou-se particularmente necessária a capacidade de discernimento, porque
a vida atual oferece enormes possibilidades de ação e distração, sendo-nos
apresentadas pelo mundo como se fossem todas válidas e boas. Todos, mas
especialmente os jovens, estão sujeitos a um zapping constante. É possível
navegar simultaneamente em dois ou três visores e interagir ao mesmo tempo em
diferentes cenários virtuais. Sem a sapiência do discernimento, podemos
facilmente transformar-nos em marionetes à mercê das tendências da ocasião» -
Papa Francisco, ‘Alegrai-vos e exultai’, n.º 167.
Assim
sejamos capazes de entender e de viver…neste discernimento permanente e atuante!
António Sílvio Couto
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