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quinta-feira, 28 de junho de 2018

Encanar a perna à rã


A frase idiomática – ‘encanar a perna à rã’ – quer significar: não fazer nada, atrasar, não resolver, demorar, empatar, isto é, fingir que faz e não faz, não dar andamento, ser mandrião…demorar muito tempo, ser lento ou moroso.

Será um tanto útil explicar os termos usados na expressão…até para podermos encontrar as consequências do dito. ‘Encanar’ é colocar entre canas ou talas os ossos fraturados, mantendo-os em forma adequada para o seu processo de recuperação. ‘Encanar a perna’ será como que uma operação de imobilização do dito membro, a perna, em ordem a mais facilmente adequar as condições à melhor conjugação para vir a melhorar. Com a perna encanada, a (dita) rã não consegue movimentar-se, estando nalguma passividade sem reação, isto é, sem poder saltar ou mesmo saltitar… 

= Ora, quando se usa esta expressão na linguagem mais comum como que se pretende falar de alguém – real ou virtual – ou dalguma situação – vivida ou sonhada – onde se fala muito sem consequências ou onde uns tantos dizem algo sem que com isso participem na solução dos problemas, entretanto, surgidos, manifestados ou não-resolvidos…O mais desagradável de tudo isto é que há quem considere que o palavreado ouvido/sentido não é solução de nada nem de coisa alguma. Há até quem recorra a esta expressão para caraterizar uns tantos ‘oradores’ sem conteúdo bem como outros ‘anunciadores’ sem rede nem forma de sobrevivência daquilo que dizem e mesmo fazem…

Subjacente a estes considerandos estão como que aspetos duma mentalidade mais ou menos hipócrita onde se tenta dar a entender que se tem algum desempenho razoável, quando o que se nota são laivos de incompetência e de ignorância, fazendo com que esta pareça mais oportuna do que aquela e a tal se vá disfarçando até que se descubra que a cara não condiz com o reverso… Quem não encontrou nos momentos da sua vida uns tantos/as espertos/as que vão adiando o que deviam apresentar como resultado do seu trabalho/desempenho, sacudindo do resguardo os pingos daquilo que se esperava que fosse a conclusão do ainda não-feito… A isto se pode chamar na nossa linguagem popular: chico-espertismo nacional e à boa maneira lusa. 
= Quanta gente andar por aí a ‘encanar a perna à rã’, mesmo não se dando conta de que isso é mais o seu modo de vida do que outro ofício… Isso de ‘encanar a perna à rã’ não pode ser desculpa para tanta da incompetência e muito menos da incongruência duma parte significativa de tantos nossos concidadãos. Nem todos vivem de expedientes, mas muitos/as fazem disso o seu trabalho cotidiano, com teor razoável e subtilmente remunerado. Quanta gente, que vive num certo funcionalismo público, parece estar, nas horas de serviço, mais a encanar a perna à rã do que a servir quem solicita ser atendido. O que há de mais confrangedor é que muita desta gente que passa o tempo a ‘encana a perna à rã’ ainda não se tenha apercebido disso, apesar dos outros já se terem dado conta dos resultados! 

= Porque ‘encanar a perna à rã’ é como que um malefício nacional precisamos de detetar as situações, de denunciar as razões, de enfrentar as condições, de corrigir as causas, sabendo perceber por onde passa a melhor forma de emendar as consequências. Seja qual for o setor em que vejamos esta atitude de negligência será preciso que os responsáveis – podendo ser eles mesmos os mentores e/ou executores dessa conduta – tenham discernimento sério e objetivo para que não andemos a enganar nem a enganar-nos.

«Hoje em dia, tornou-se particularmente necessária a capacidade de discernimento, porque a vida atual oferece enormes possibilidades de ação e distração, sendo-nos apresentadas pelo mundo como se fossem todas válidas e boas. Todos, mas especialmente os jovens, estão sujeitos a um zapping constante. É possível navegar simultaneamente em dois ou três visores e interagir ao mesmo tempo em diferentes cenários virtuais. Sem a sapiência do discernimento, podemos facilmente transformar-nos em marionetes à mercê das tendências da ocasião» - Papa Francisco, ‘Alegrai-vos e exultai’, n.º 167.

Assim sejamos capazes de entender e de viver…neste discernimento permanente e atuante!

 
António Sílvio Couto



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