O que
temos visto, ouvido, sentido e captado em vários factos, acontecimentos e
episódios da nossa vida coletiva – na dimensão desportiva/associativa por
excelência – é uma fortíssima instabilidade emocional duma grande parte dos
dirigentes e não menos expressivamente dos que são por eles conduzidos…O que
ontem era considerado posição irreversível, hoje não passa duma nota de rodapé,
num texto em branco, pois a escritura nunca teve redação. O que era considerado
acerto de posição contra os opositores, hoje parece ser motivo de diálogo,
mesmo sem interlocutor. O que há dias parecia ser uma atitude de luta
inquebrantável, hoje não passa dum afago no ego dos responsáveis sem linha nem
direção…
Estamos,
de verdade, numa fase complexa da humanidade, seja qual for o âmbito de
intervenção e/ou de decisão. De entre os mais urgentes problemas de alcance
geral, o dos refugiados é um dos mais gravosos e quase desumanos. Há países que
foram erguidos pela intervenção dos refugiados – nos tempos de antanho eram
antes considerados como emigrantes – como os EUA e tantos outros no quadro da
cultura (dita) ocidental, que agora se acham no direito de criar obstáculos a
que outros povos, menos favorecidos pelos recursos económicos e dos fatores de
produção, possam melhorar as suas condições pessoais, familiares e sociais…emigrando
com armas, bagagens e filhos.
Por esta
ocasião lembro-me dum certo diálogo entre um neto e um avô, em que o mais novo
inquiria:
- Avô,
porque somos considerados, enquanto portugueses, como um povo que saiu, em
tempos recuados, a dar novos mundos ao mundo e agora estamos tão pobres ou mais
do que os outros?
Ao que o
avô respondeu:
- Sabes,
neto, nós somos descendentes daqueles que ficaram…
Sim, uma
longa e incontrolável lista de cidadãos deste país vive (ou vai sobrevivendo)
dos proventos antes trabalhados e agora pouco ou nada acrescentam ao já feito e
até sem interesse pelo que outros possam conquistar…e fazer melhor.
= É
notório que nos faltam líderes capazes de nos conduzirem com serenidade e
prudente ousadia, isto é, sabendo quando podem propor caminhos que fazem andar
sem ser preciso desviar-se dos obstáculos e dentro duma dinâmica que possa
empenhar o maior número possível de concidadãos. Tais responsáveis/dirigentes
teriam horizontes alargados e não pequenas metas para a sua autopromoção.
Ao
desnorte de tantos dos que estão investidos em poder – seja em razão das
votações, seja pelas artimanhas mais ou menos subtis – falta-lhes nitidamente
autoridade, essa qualidade que se adquire em função daquilo que se é e muito
para além do que se diz. De facto, a incongruência entre a palavra e a ação é
uma espécie de erro muito comum naqueles/as que exercem funções de
governança…seja qual for a instância em que se possam encontrar. Pior será
ainda se tais pessoas forem desequilibradas emocionalmente, na medida em que
possam confundir os seus gostos mesquinhos com os objetivos da corporação à
qual dirigem ou presidem… Isto temos visto nos últimos tempos de forma
abundante em que certas agremiações desportivas, culturais e sociopolíticas…dentro
e fora de portas.
= A
crise do dirigismo tem servido para emergirem pequenos ditadores, que até
conseguem cativar para o seu projeto pessoas mais ou menos credíveis. No
entanto, quando lhe sobe a importância ao testo facilmente deixam transparecer
quem são e o que pretendem, apesar de já terem feito estragos quase
irremediáveis. Não estamos infelizmente livres de sermos conduzidos por alguns
desses ‘democratas’ de laboratório ou de feira. Será preciso estarmos muito
atentos para que não se apeguem ao poder, destronando-os logo que seja possível
e não deixando que lancem tentáculos quase invisíveis. A desmotivação e o
deixar andar podem ser as armas mais comuns para que tais ditadores se
considerem imprescindíveis e armadilhem os espaços em que se movem. Já temos
exemplos mais do que suficientes para que estejamos em alerta permanente.
No
quadro nos nossos relacionamentos precisamos de estar em contínua avaliação
emocional – mais do que intelectual – dos nossos dirigentes, responsáveis e
chefes, colocando-os e colocando-nos em apreciação para que não se tornem nem
nos tornemos isso que contestamos nos outros… Equilíbrio, precisa-se sempre!
António Sílvio Couto
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