Por
vezes há pessoas que, num ato de quase rebeldia, exprimem a vontade de saírem
da Igreja (instituição), se bem que, em raros momentos, frequentem a igreja
(espaço), dando-se o caso que acham que saem sem nunca terem entrado, de facto.
As razões dessa (pretensa) saída são tão básicas quão insignificantes na forma
e mesmo no conteúdo… Por vezes, o diálogo com pessoas nesta atitude de reserva/resistência/confronto,
torna-se um tanto complicado, pois até falta uma consonância nas linguagens e,
sobretudo, nos critérios de conduta. Isso nota-se de sobremaneira quando alguns
– infelizmente uma boa parte – solicitam os sacramentos com implicações
sociais, como o batismo e o matrimónio, sem esquecer ainda a presença aceite,
pedida ou tolerada por ocasião dos funerais.
= Se
atendermos à diminuição dos ditos sacramentos com incidência social – batismos
e casamentos – poderemos ser tentados a considerar um tanto benéfico o menor
número dos que os pedem e vem agora celebrar. Talvez não haja maior engano,
pois uma grande maioria – dizemo-lo da realidade pastoral onde estou há mais de
duas décadas – continua a fazê-lo sem grande consciência cristã e tão pouco
católica, pois, uma imensa quantidade não quer fazer o que a Igreja católica
faz nem celebra…
Quais
serão, então, as razões da procura das cerimónias na igreja à mistura com uma relativa
inconsciência dos celebrantes/participantes? Não estaremos a sacramentar sem
evangelizar e, por conseguinte, a lançar sementes sem terreno preparado? As exigências
colocadas – sobretudo em matéria de casamentos/matrimónios – não têm sido
acolhidas mais como acomodação do que como oportunidade de ser e de fazer
igreja? Não andaremos ainda fascinados pelos números e não pela qualidade
antes, durante e, sobretudo, depois dos ditos sacramentos de incidência social?
Teremos feito bem o diagnóstico dos assuntos para sabermos tratar a verdadeira
doença que lhe está subjacente? Teremos já aprendido com os erros do passado
recente ou ainda vamos sublimando as causas com o tratamento das consequências?
= Estas
e tantas outras questões se podem colocar e precisam de ser correta e
adequadamente respondidas, tanto na teoria como na prática, pois muitas delas
obrigam-nos a questionar o que temos feito e que clara e simplesmente não
resultou e muito daquilo em que não apostamos por medo, por alguma insensibilidade
às pessoas e até por negligência para com o futuro próximo da própria Igreja.
Será
preciso assumir que urge desarticular a conexão entre matrimónio católico e as
implicações no foro civil, pois se este fosse autónomo daquele haveria mais
liberdade e (possível) exigência para com aqueles/as que, mesmo batizados,
possam solicitar a celebração em contexto da igreja. De facto, muitos dos
nubentes não reúnem o mínimo de condições sobre a sua efetivação, pois
muitos/as apresentam mais razões de recusa do que de aceitação. Com efeito, na
revisão da Concordata – assinada já em 2004, mas nunca regulamentada! – houve
um erro gravíssimo de forma por partes dos negociadores católicos, que se
intimidaram perante a possível perda de poder por uma solução de
progressividade na avaliação em ordem ao reconhecimento civil do matrimónio
religioso e não por uma amálgama de interpretações sobre a força da autoridade
que não pode nem deve, hoje, ser exercida…como o foi em antanho!
= Sobre
a insinuação de abandono da Igreja por parte de quem não lhe é feito o que
desejava em mentalidade de cristandade, estou cada vez mais convencido de que é
preciso sacudir as peias de ignorância de tantos/as que se aproximam em forma
de pirilampo – isto é, de modo intermitente e sem brilho – só quando lhes
convém ou precisam dos serviços religiosos. A esta ‘igreja de conveniência’ – à
semelhança das lojas em áreas de serviços nas estradas e autoestradas – será
preciso pôr cobro, pois fazem gastar tempo, hipotecar energias e subtrair
convicções…antes, durante e depois dos atos solicitados e tão mal vividos!
Deixo a
terminar uma nota de hipotética esperança: à luz do que diz o profeta Isaías,
não podemos apagar a mecha que ainda fumega nem suprimir a torcida que ainda
cintila… Sim, mas até quando podemos levar esse desejo, sem que não nos
possamos inquietar e sentir ultrapassados – muitas das vezes ofendidos,
desrespeitados e acusados – e sem capacidade de resposta serena, séria e
sensata? Assim, fico ou saio?
António Sílvio Couto
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