Por
estes dias – passados, mas também no futuro próximo – o tema futebol é assunto
constante, insistente, mesmo pertinente e quase irritante: futebol com bola,
isto é, jogado (bem ou mal); jogo sem bola, isto é, discutido (nas intrigas
mais ou menos aceitáveis) e, sobretudo, nesta cultura absolutista de que este
‘desporto’ se assenhoreou nos tempos de paz entre povos, nações, línguas e
culturas…quase até à exaustão.
A
abertura do torneio mundial na Rússia tem vindo a destacar-se pelos imensos
recursos envolvidos por tantas televisões e outros meios de comunicação –
clássicos ou mais atualizados – desde que entretenham o povo na ilusão assumida,
intentada ou presumida…
Dá a
impressão que uns tantos foram instruídos para irem escarafunchar as tricas e
as intrigas dentro e fora do campo de ação. Talvez não interesse saber quem
está melhor preparado para integrar o desempenho desportivo, mas quem possa
fazer as delícias dos comentadores, quase sempre sem nunca terem sido praticantes,
embora ‘inteligentes’ treinadores-de-bancada sem curso e muita sabedoria
infusa…
= Num
destes dias um dirigente do comité olímpico português considerava que havia
excesso de futebol nas notícias… De facto, muitos dos intervenientes são mais
opinadores do que participantes no processo desportivo. Certas leituras e visões
estão um tanto enfermas da inexperiência de quem quer falar mas sem objetividade
suficiente. Àqueles que cheiraram o odor da relva damos alguma credibilidade,
mas em tantos outros nota-se que lhes falta campo e suor…sem fama.
Nas mais
recentes discussões, onde este excesso de futebol tem estado presente, pode
ver-se em relação a uma agremiação onde os sucessos noutras modalidades são
nítidos e claros, mas no (dito) futebol profissional não conseguem vitórias
significativas há quase duas décadas. Tudo é posto em causa, quase duma forma
doentia, tanto por parte dos dirigentes como pelos sócios e adeptos. Por aqui
se pode ver que o futebol tem excesso de protagonismo na nossa vida coletiva,
social e cultural…
Porque
se foi transformando o fenómeno desportivo, cada vez mais, num afunilamento
sobre o futebol? Será porque este é mais barato do que os outros desportos?
Será porque o futebol cria mais paixões e menos reflexão? Será porque o
investimento tem mais rápida capitalização do que noutras modalidades? Será
porque esta (apelidada) indústria traz mais resultados sociais do que outros
modos de praticar desporto?
= De
entre todos os aspetos que envolvem o futebol há um que me inquieta de sobremaneira:
a compra/venda de homens como executantes do espetáculo – chamam-lhes ‘jogadores’,
mas são usados e abusados, como se fossem uma mercadoria descartável e com um
prazo de validade muito reduzido. As somas de dinheiro – um declarado e tanto
outro sujo e não lícito – envolvidas no negócio é o que há de mais escabroso e
execrável, se tivermos em conta os critérios noutras profissões.
De
facto, há um circo – que me desculpem os fazedores deste outro campo de
atividade – que se desenrola à volta do futebol, desde os estádios, as
multidões que os enchem ou esvaziam, as promoções políticas e autárquicas em
questões de proximidade e de promiscuidade, as jogadas sob a mesa e tantos
outros tentáculos que vivem e se desenrolam tendo o futebol com cenário, palco e
bastidores…
Como é
possível considerar normal a venda dum homem por milhões de euros, quando à sua
porta ou na sua família pode haver gente a passar mal, não só no desemprego,
como com fome e tantas outras privações? Como é possível fascinar tanta gente com
instrução que se torna ridícula e quase irracional, quando discutem coisas e
loisas do futebol? Como é possível gastar horas e dias, semanas e meses a
impingir futebol, quando tantos outros problemas, bem mais sérios e graves,
ficam ofuscados pelos interesses que estão em jogo com o futebol?
Esta
irracionalidade coletiva estará ao rubro nos tempos mais próximos com o
apelidado ‘mundial de futebol’, na Rússia. Aqui são os países que irão estar em
competição, mas a clubite nacional ou internacional fareja modo e sentido de
não deixar de estar presente. Como será jogar contra, quando se faz parte do
mesmo clube e se conhecem os jeitos e trejeitos do adversário? Como referia
alguém, recentemente, o desporto – e o futebol em particular – é uma espécie de
guerra em tempo de paz… Não será mesmo?
António Sílvio Couto
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