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segunda-feira, 11 de junho de 2018

Perante o excesso de futebol…


Por estes dias – passados, mas também no futuro próximo – o tema futebol é assunto constante, insistente, mesmo pertinente e quase irritante: futebol com bola, isto é, jogado (bem ou mal); jogo sem bola, isto é, discutido (nas intrigas mais ou menos aceitáveis) e, sobretudo, nesta cultura absolutista de que este ‘desporto’ se assenhoreou nos tempos de paz entre povos, nações, línguas e culturas…quase até à exaustão.

A abertura do torneio mundial na Rússia tem vindo a destacar-se pelos imensos recursos envolvidos por tantas televisões e outros meios de comunicação – clássicos ou mais atualizados – desde que entretenham o povo na ilusão assumida, intentada ou presumida…

Dá a impressão que uns tantos foram instruídos para irem escarafunchar as tricas e as intrigas dentro e fora do campo de ação. Talvez não interesse saber quem está melhor preparado para integrar o desempenho desportivo, mas quem possa fazer as delícias dos comentadores, quase sempre sem nunca terem sido praticantes, embora ‘inteligentes’ treinadores-de-bancada sem curso e muita sabedoria infusa… 

= Num destes dias um dirigente do comité olímpico português considerava que havia excesso de futebol nas notícias… De facto, muitos dos intervenientes são mais opinadores do que participantes no processo desportivo. Certas leituras e visões estão um tanto enfermas da inexperiência de quem quer falar mas sem objetividade suficiente. Àqueles que cheiraram o odor da relva damos alguma credibilidade, mas em tantos outros nota-se que lhes falta campo e suor…sem fama.

Nas mais recentes discussões, onde este excesso de futebol tem estado presente, pode ver-se em relação a uma agremiação onde os sucessos noutras modalidades são nítidos e claros, mas no (dito) futebol profissional não conseguem vitórias significativas há quase duas décadas. Tudo é posto em causa, quase duma forma doentia, tanto por parte dos dirigentes como pelos sócios e adeptos. Por aqui se pode ver que o futebol tem excesso de protagonismo na nossa vida coletiva, social e cultural…

Porque se foi transformando o fenómeno desportivo, cada vez mais, num afunilamento sobre o futebol? Será porque este é mais barato do que os outros desportos? Será porque o futebol cria mais paixões e menos reflexão? Será porque o investimento tem mais rápida capitalização do que noutras modalidades? Será porque esta (apelidada) indústria traz mais resultados sociais do que outros modos de praticar desporto? 

= De entre todos os aspetos que envolvem o futebol há um que me inquieta de sobremaneira: a compra/venda de homens como executantes do espetáculo – chamam-lhes ‘jogadores’, mas são usados e abusados, como se fossem uma mercadoria descartável e com um prazo de validade muito reduzido. As somas de dinheiro – um declarado e tanto outro sujo e não lícito – envolvidas no negócio é o que há de mais escabroso e execrável, se tivermos em conta os critérios noutras profissões.

De facto, há um circo – que me desculpem os fazedores deste outro campo de atividade – que se desenrola à volta do futebol, desde os estádios, as multidões que os enchem ou esvaziam, as promoções políticas e autárquicas em questões de proximidade e de promiscuidade, as jogadas sob a mesa e tantos outros tentáculos que vivem e se desenrolam tendo o futebol com cenário, palco e bastidores…

Como é possível considerar normal a venda dum homem por milhões de euros, quando à sua porta ou na sua família pode haver gente a passar mal, não só no desemprego, como com fome e tantas outras privações? Como é possível fascinar tanta gente com instrução que se torna ridícula e quase irracional, quando discutem coisas e loisas do futebol? Como é possível gastar horas e dias, semanas e meses a impingir futebol, quando tantos outros problemas, bem mais sérios e graves, ficam ofuscados pelos interesses que estão em jogo com o futebol?

Esta irracionalidade coletiva estará ao rubro nos tempos mais próximos com o apelidado ‘mundial de futebol’, na Rússia. Aqui são os países que irão estar em competição, mas a clubite nacional ou internacional fareja modo e sentido de não deixar de estar presente. Como será jogar contra, quando se faz parte do mesmo clube e se conhecem os jeitos e trejeitos do adversário? Como referia alguém, recentemente, o desporto – e o futebol em particular – é uma espécie de guerra em tempo de paz… Não será mesmo?

 

António Sílvio Couto


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