«’Quem disser blasfémias contra o Espírito
Santo nunca mais será perdoado; é réu de eterno pecado’ (Mc 3,29). Não há
limites à misericórdia de Deus, mas quem recusa deliberadamente receber a
misericórdia de Deus, pelo arrependimento, rejeita o perdão dos seus pecados e
a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Tal endurecimento pode levar à
impenitência final e à perdição eterna» – Catecismo da Igreja Católica,
1864.
Certamente
que a todos nos faz impressão esta sentença de Jesus de condenação eterna,
referida como ‘blasfémia contra o Espírito Santo’. Vamos tentar explicitar um
pouco melhor esta condenação, servindo-nos de textos do magistério da Igreja
católica, concretamente duma encíclica de João Paulo II sobre o Espírito Santo,
‘Donum et vivificantem’ (n.º 46) em que se faz a interpretação daquela passagem
bíblica citada pelo Catecismo:
«Porquê
a «blasfémia» contra o Espírito Santo é imperdoável? Em que sentido entender
esta «blasfémia»? Santo Tomás de Aquino responde que se trata da um pecado
«imperdoável por sua própria natureza, porque exclui aqueles elementos graças
aos quais é concedida a remissão dos pecados».
Segundo uma tal exegese, a «blasfémia» não consiste propriamente em ofender o Espírito Santo com palavras; consiste, antes, na recusa de aceitar a salvação que Deus oferece ao homem, mediante o mesmo Espírito Santo agindo em virtude do sacrifício da Cruz. Se o homem rejeita o deixar-se «convencer quanto ao pecado», que provém do Espírito Santo e tem carácter salvífico, ele rejeita contemporaneamente a «vinda» do Consolador: aquela «vinda» que se efectuou no mistério da Páscoa, em união com o poder redentor do Sangue de Cristo: o Sangue que «purifica a consciência das obras mortas».
Sabemos que o fruto desta purificação é a remissão dos pecados. Por conseguinte, quem rejeita o Espírito e o Sangue permanece nas «obras mortas», no pecado. E a «blasfémia contra o Espírito Santo» consiste exactamente na recusa radical de aceitar esta remissão, de que Ele é o dispensador íntimo e que pressupõe a conversão verdadeira, por Ele operada na consciência. Se Jesus diz que o pecado contra o Espírito Santo não pode ser perdoado nem nesta vida nem na futura, é porque esta «não-remissão» está ligada, como à sua causa, à «não-penitência», isto é, à recusa radical a converter-se. (...) Ora a blasfémia contra o Espírito Santo é o pecado cometido pelo homem, que reivindica o seu pretenso «direito» de perseverar no mal — em qualquer pecado — e recusa por isso mesmo a Redenção. O homem fica fechado no pecado, tornando impossível da sua parte a própria conversão e também, consequentemente, a remissão dos pecados, que considera não essencial ou não importante para a sua vida».
Segundo uma tal exegese, a «blasfémia» não consiste propriamente em ofender o Espírito Santo com palavras; consiste, antes, na recusa de aceitar a salvação que Deus oferece ao homem, mediante o mesmo Espírito Santo agindo em virtude do sacrifício da Cruz. Se o homem rejeita o deixar-se «convencer quanto ao pecado», que provém do Espírito Santo e tem carácter salvífico, ele rejeita contemporaneamente a «vinda» do Consolador: aquela «vinda» que se efectuou no mistério da Páscoa, em união com o poder redentor do Sangue de Cristo: o Sangue que «purifica a consciência das obras mortas».
Sabemos que o fruto desta purificação é a remissão dos pecados. Por conseguinte, quem rejeita o Espírito e o Sangue permanece nas «obras mortas», no pecado. E a «blasfémia contra o Espírito Santo» consiste exactamente na recusa radical de aceitar esta remissão, de que Ele é o dispensador íntimo e que pressupõe a conversão verdadeira, por Ele operada na consciência. Se Jesus diz que o pecado contra o Espírito Santo não pode ser perdoado nem nesta vida nem na futura, é porque esta «não-remissão» está ligada, como à sua causa, à «não-penitência», isto é, à recusa radical a converter-se. (...) Ora a blasfémia contra o Espírito Santo é o pecado cometido pelo homem, que reivindica o seu pretenso «direito» de perseverar no mal — em qualquer pecado — e recusa por isso mesmo a Redenção. O homem fica fechado no pecado, tornando impossível da sua parte a própria conversão e também, consequentemente, a remissão dos pecados, que considera não essencial ou não importante para a sua vida».
Quais
podem ser as consequências para os nossos dias desta explicação? Onde se
enraíza este ‘pecado contra o Espírito Santo’, hoje? Como poderemos discernir
esta ‘blasfémia contra o Espírito Santo’ na condição e pela condução da nossa
vida terrena?
Muito do
comportamento das pessoas do nosso tempo – mesmo em contexto de fé cristã e de
Igreja católica – parece assemelhar-se à configuração de se manter acomodada à
vida de pecado, senão na teoria, ao menos na prática…muito vivem mesmo num
ateísmo prático sem controlo. Com efeito, nota-se um fechamento crescente nas
pessoas em si mesmas, vivendo uma espécie de contentamento na sua
autossuficiência e menosprezo (ou até desprezo) pelos outros e pelos seus
problemas. Com facilidade poderemos perceber que muita gente vive mais em
conceito de si autoidolatria do que numa atenção às exigências de conversão de
acordo com a Palavra de Deus. Dá a impressão que uma larga maioria dos nossos
praticantes é contumazmente não-convertida e sem abertura ao questionamento que
a Palavra de Deus lhe possa fazer. Não será isto ‘blasfémia contra o Espírito
Santo’, como diz a explicação do Papa? Há muita gente que se considera a seus
próprios olhos como boa, mas que ainda está numa tendência de religião natural,
sem ter aceitado a salvação de Jesus. A aceitação da salvação de Jesus é a
marca do cristianismo e isso é realizado pelo Espírito Santo…em nós e pela
Igreja.
Certos
tiques de ‘new age’ palpitam no agir e no pensamento de muitos dos que
frequentam a Igreja… Não será isto pecado contra o Espírito Santo? Como
proceder para sermos perdoados?
António Sílvio Couto
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